por Miguel Boieiro
Os compêndios consultados dizem que o rábano não se encontra
espontâneo e tampouco se conseguiu determinar a sua região de origem, embora
seja claramente oriundo dos climas temperados. O facto é que ele nasce
espontaneamente no meu quintal. Não preciso de o semear porque, na altura
própria, ou seja, quando aparecem as primeiras chuvas do outono, começo a ter
fartura de nabiças. Com o decorrer do tempo, ganha uma raiz grossa e carnuda,
floresce e dá sementes que se espalham pelo terreno. Depois, só é preciso
efetuar desbastes e mondas, assentando nos princípios da chamada permacultura.
Este rábano de que vos falo, também conhecido por rabão,
nabo-chinês ou nabo-japão, dá pelo nome científico de Raphanus sativus L. subsp. Longipinnatus.
Vejamos: “raphanus” vem do grego e significa crescimento rápido, “sativus”
provém do latim e significa que a espécie é cultivada e “longipinnatus”
refere-se às folhas que são longas e recortadas. Outra espécie afim é o rabanete
- Raphanus sativus L. var. radicula.
São ambas plantas da utilíssima família das crucíferas com praticamente os
mesmos constituintes químicos e semelhantes usos culinários e fitoterapêuticos.
Ao efetuar consultas, quer pelos livros, quer pela internet, depara-se com
alguma confusão porque há quem as considere o mesmíssimo vegetal. Todavia,
quando adultos, apresentam-se fisicamente bem diferentes. Os rabanetes, embora
“não indo à mesa do rei”, como se apregoa num fado popular, são bastante mais
conhecidos. De ciclo anual, apresentam-se pequenos, redondinhos e vermelhinhos
(espécies mais comuns) e entram na decoração de diversos pratos. Por sua vez,
os rábanos são bienais, bem maiores, a pele da sua raiz é mais rosada e o sabor
mais picante, já que possuem compostos sulfurados em maior quantidade. Podem
alcançar quase meio metro de altura, têm raiz pivotante, folhas alternas e
flores rosadas hermafroditas. As sementes, de cor castanha, ficam encerradas em
silíquas aguçadas.
A textura da raiz é crocante e picante, cujo ardor se reforça
com a falta de água.
Eis os principais constituintes do rábano: heterósidos
sulfurados, óleo essencial, glúcidos, aminoácidos, antocianósidos, potássio,
cálcio, fósforo, vitamina C, vitaminas do complexo B e diversas enzimas.
Propriedades: diurético, béquico, colagogo, dissolvente dos
cálculos hepáticos e renais, anti escorbútico e aperitivo.
O rábano é benéfico no tratamento de inúmeras enfermidades,
de que destacamos as seguintes:
- Asma, bronquite, catarro e outros transtornos do sistema
respiratório. Coze-se 100 g da raiz num litro de água, adoça-se com mel e
toma-se 3 ou 4 vezes por dia;
- Dispepsia, cálculos renais e problemas hepáticos. Deve-se
consumir a raiz crua amiudadas vezes;
- Cálculos biliares. Comer a raiz cortada às rodelas embebida
em sumo de limão;
- Urticária e acne. Esmagar rábanos adoçados com mel, coar e
beber até meio litro por dia;
- Artrites. Aplicar cataplasmas de rábanos triturados nas
zonas do corpo afetadas.
- Obesidade. Tomar em jejum uma papa preparada a partir de
uma raiz de rábano esmagada (ou de três rabanetes) sem qualquer adoçante.
O Dr. Oliveira Feijão em “Medicina pelas Plantas”, prescreve
o xarope confecionado com rodelas finas de rábano fervidas com açúcar para
debelar a tosse convulsa.
Também o Dr. Samuel Maia no “Manual de Medicina Doméstica”
apresenta receitas de xaropes e de vinho antiescorbútico, algo sofisticadas.
Na culinária é sobejamente conhecido o uso das folhas e das
raízes dos rábanos em saborosos caldos e sopas alcalinizantes. As raízes cortadas
às rodelas valorizam extraordinariamente as saladas crudívoras e aprimoram a
guarnição de variadíssimos menus.
No Japão, a variedade designada por “daikon”, de raiz mais
esbranquiçada, é um ingrediente importante da respetiva cozinha, proporcionando,
inclusive, a elaboração de figuras esculpidas que beneficiam a apresentação dos
pratos, uma vez que “os olhos também comem”. É igualmente determinante nas
cozinhas coreana, chinesa, vietnamita e indiana.
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