sábado, 22 de fevereiro de 2014

Rábanos e Rabanetes


por Miguel Boieiro

Os compêndios consultados dizem que o rábano não se encontra espontâneo e tampouco se conseguiu determinar a sua região de origem, embora seja claramente oriundo dos climas temperados. O facto é que ele nasce espontaneamente no meu quintal. Não preciso de o semear porque, na altura própria, ou seja, quando aparecem as primeiras chuvas do outono, começo a ter fartura de nabiças. Com o decorrer do tempo, ganha uma raiz grossa e carnuda, floresce e dá sementes que se espalham pelo terreno. Depois, só é preciso efetuar desbastes e mondas, assentando nos princípios da chamada permacultura.

Este rábano de que vos falo, também conhecido por rabão, nabo-chinês ou nabo-japão, dá pelo nome científico de Raphanus sativus L. subsp. Longipinnatus. Vejamos: “raphanus” vem do grego e significa crescimento rápido, “sativus” provém do latim e significa que a espécie é cultivada e “longipinnatus” refere-se às folhas que são longas e recortadas. Outra espécie afim é o rabanete - Raphanus sativus L. var. radicula. São ambas plantas da utilíssima família das crucíferas com praticamente os mesmos constituintes químicos e semelhantes usos culinários e fitoterapêuticos. Ao efetuar consultas, quer pelos livros, quer pela internet, depara-se com alguma confusão porque há quem as considere o mesmíssimo vegetal. Todavia, quando adultos, apresentam-se fisicamente bem diferentes. Os rabanetes, embora “não indo à mesa do rei”, como se apregoa num fado popular, são bastante mais conhecidos. De ciclo anual, apresentam-se pequenos, redondinhos e vermelhinhos (espécies mais comuns) e entram na decoração de diversos pratos. Por sua vez, os rábanos são bienais, bem maiores, a pele da sua raiz é mais rosada e o sabor mais picante, já que possuem compostos sulfurados em maior quantidade. Podem alcançar quase meio metro de altura, têm raiz pivotante, folhas alternas e flores rosadas hermafroditas. As sementes, de cor castanha, ficam encerradas em silíquas aguçadas.

A textura da raiz é crocante e picante, cujo ardor se reforça com a falta de água.
Eis os principais constituintes do rábano: heterósidos sulfurados, óleo essencial, glúcidos, aminoácidos, antocianósidos, potássio, cálcio, fósforo, vitamina C, vitaminas do complexo B e diversas enzimas.
Propriedades: diurético, béquico, colagogo, dissolvente dos cálculos hepáticos e renais, anti escorbútico e aperitivo.

O rábano é benéfico no tratamento de inúmeras enfermidades, de que destacamos as seguintes:
- Asma, bronquite, catarro e outros transtornos do sistema respiratório. Coze-se 100 g da raiz num litro de água, adoça-se com mel e toma-se 3 ou 4 vezes por dia;
- Dispepsia, cálculos renais e problemas hepáticos. Deve-se consumir a raiz crua amiudadas vezes;
- Cálculos biliares. Comer a raiz cortada às rodelas embebida em sumo de limão;
- Urticária e acne. Esmagar rábanos adoçados com mel, coar e beber até meio litro por dia;
- Artrites. Aplicar cataplasmas de rábanos triturados nas zonas do corpo afetadas.
- Obesidade. Tomar em jejum uma papa preparada a partir de uma raiz de rábano esmagada (ou de três rabanetes) sem qualquer adoçante.

O Dr. Oliveira Feijão em “Medicina pelas Plantas”, prescreve o xarope confecionado com rodelas finas de rábano fervidas com açúcar para debelar a tosse convulsa.

Também o Dr. Samuel Maia no “Manual de Medicina Doméstica” apresenta receitas de xaropes e de vinho antiescorbútico, algo sofisticadas.

Na culinária é sobejamente conhecido o uso das folhas e das raízes dos rábanos em saborosos caldos e sopas alcalinizantes. As raízes cortadas às rodelas valorizam extraordinariamente as saladas crudívoras e aprimoram a guarnição de variadíssimos menus.

No Japão, a variedade designada por “daikon”, de raiz mais esbranquiçada, é um ingrediente importante da respetiva cozinha, proporcionando, inclusive, a elaboração de figuras esculpidas que beneficiam a apresentação dos pratos, uma vez que “os olhos também comem”. É igualmente determinante nas cozinhas coreana, chinesa, vietnamita e indiana.

Em França e nos países do norte da Europa gabam-se as virtudes do rábano negro - Raphanus sativus var. niger, cuja raiz possui uma tez escura. Muito utilizado na culinária, pois é de baixo valor calórico, estimula a secreção dos sucos digestivos com o seu típico sabor picante (Plantes Potagères - editora Gründ).


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