Daomé
– São Salvador da Baía – Alhos Vedros
(Texto ainda
por publicar)
SINOPSE
“El-Rei
morreu! Viva El-Rei!”
A D. João V sucedeu D. José I.
Sebastião José de Carvalho e Melo, um estrangeirado, ascendeu ao Poder.
Na missionação
do Brasil, destacava-se o jesuíta italiano Gabriel Malagrida.
Da “costa
dos escravos” para o Brasil, o tráfico negreiro estava no auge.
Nos areais de Chega Nego, cercão da cidade de São
Salvador da Baía de Todos os Santos, decorria
o leilão de “cabeças de alcatrão”,
que haviam aportado no tumbeiro Esperança
- uma galera comandada pelo
capitão Da Silva.
O padre Malagrida acorreu ao “mercado”, a fim de atiçar consciências. Mas foram em vão as suas
súplicas.
No estrado surdiu um jovem, porte altivo,
que a todos abalou pelo seu denodo. O jesuíta comprou-o, para espanto e
escárnio dos circunstantes.
No Colégio
de São Salvador, no Terreiro de Jesus, o jovem negro encetou a aprendizagem
da cultura do homem branco,
alcançando esmerada educação. De
forma natural, granjeou a estima de todos. Kéhindé, de seu nome na Língua Yorubá, recebeu o nome cristão de António.
Entre Kéhindé e o sacerdote estreitaram-se
laços, que a vida pôs à prova.
Catequizado e alforriado, António Kéhindé
deixou a Capital da colónia e acompanhou
o clérigo para São Luís, no Maranhão, onde prosseguiu a sua formação.
Em janeiro de 1754, por solicitação da
Rainha-mãe, o padre Gabriel Malagrida rumou a Portugal. Consigo viajou António
Kéhindé.
Impedido de contactar a Rainha, por deliberação
expressa de Sebastião José de Carvalho e Melo, Secretário Régio, o missionário
teve de se exilar em Setúbal.
No mercado do Sapal, na Vila do Sado, António
Kéhindé travou conhecimento com José e o pai, carreteiros alhosvedrenses. Desde logo nasceu entre eles uma
genuína amizade.
Nas longas ausências do padre Malagrida na
Capital do Reino, a fim de acudir aos chamados do Superior do Colégio Jesuíta
de Lisboa, Kéhindé passou a viver em Alhos Vedros, em casa de José e dos pais -
Ti João Zebedeu e Ti Josefa - auxiliando-os na labuta quotidiana.
Malgrado a prática da escravatura na
Vila ribeirinha, uma vez conhecida a sua condição de homem livre, António Kéhindé integrou-se, gradualmente, na comunidade local.
Culto, bem-falante e com boa aparência, “trajando que nem os senhores” aos domingos e festas de guarda, Kéhindé despertava o interesse das moças
casadoiras.
Profundas transformações ocorreram no
vetusto povoado, e um invulgar enlace
sucedeu, quebrando tabus ancestrais.
Também em Alhos Vedros se viveu o terramoto de 1 de novembro de 1755.
Obstando as teses racionalistas do Secretário
Régio, o padre Malagrida, imbuído de acalorado misticismo, asseverou terem sido castigo divino as causas
do abalo telúrico, inculpando o Povo
e a Família Real, pela decadência dos
valores morais da sociedade.
Arqui-inimigo da Companhia de Jesus, Sebastião José de Carvalho e Melo tinha de a
aniquilar, assim como ao intrépido e incómodo missionário.
O atentado contra D. José I, perpetrado na
noite de 3 para 4 de setembro de 1758, despoletou uma catadupa de acontecimentos. Incriminados os Távora, as
execuções ocorreram em Belém.
O padre Malagrida, apelidado de herético e, depois, culpado do crime de lesa-majestade, foi entregue ao
Tribunal do Santo-Ofício.
Kéhindé teve descendência em Alhos Vedros.
As invasões
napoleónicas impeliram a Família Real
à fuga para o Brasil, deixando o Reino a saque. Terminadas as invasões, o Reino seguia absolutista, cerceado da liberdade de pensamento e de expressão.
A Junta
Governativa semeou ódios.
O General Gomes Freire de Andrade foi eliminado, o mesmo sucedendo a vários de
seus correligionários.
Venceram os ideais do Liberalismo, a
que se seguiu a Vila-Francada.
Tempos conturbados se viveram em Alhos
Vedros, na família de António Kéhindé.
Francisco
José Noronha dos Santos
3 comentários:
Será que ainda existem descendentes de António Kéhindé por cá? Eis uma boa genealogia a estudar, já que o início desta singela história de vida está identificado. Muito Bom. Obrigado pela partilha.
Ora muito bem vindo amigo Francisco.
E como o texto me parece um guião para algo maior e mais desenvolvido cá fico à espera.
Abraço.
Manuel João Croca
Fico à espera de mais, amigo Noronha, após tantos anos reaparecido :)
Sejas bem vindo!
Abraço
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