sábado, 29 de novembro de 2014

João 3:16



Risoleta C. Pinto Pedro


Encontrei-o na auto-estrada.

À minha frente, uma carrinha que ultrapassei e cuja retaguarda apresentava uma pintura onde, entre imagens e palavras, apontava misteriosamente este salmo. Apesar de apresentar também a citação “Riding for de son”, o que me deixou curiosa acerca da possível gralha entre “son” e “sun”, esta carrinha apresentou-me um duplo enigma ao acrescentar a, para mim, hermética designação de salmo: João 3:16.

Obras na estrada, mais à frente, permitiram à carrinha ultrapassar-me, o que estive tentada a interpretar como um sinal do “Sun” ou do “Son”, que para mim já começava a ser a mesma coisa, e o fim das obras permitiu-me voltar a ultrapassá-la. Curiosa, o objetivo era chegar depressa ao Google, que, para além do conteúdo deste salmo, me informou que existe uma página do FB toda dedicada a ele, e outra que conta a Bíblia em 3 minutos.

Fiquei também a saber o conteúdo de “João 3:16”:  “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” E que “Riding for the son” é uma associação cristã de motociclistas.

Que só apareceu ali naquele momento para que eu, que me recusei a ir à catequese e acredito que tenha feito muito bem, porque nessa altura tinha coisas mais interessantes para fazer, tal como bolinhos de terra, nunca mais me esqueça do salmo “João 3:16” e também para me proporcionar a minha atividade tão amada de saborear as palavras, que têm, para mim, a coerência, a consistência e a revelação do símbolo. Por isso, mais do que gralha, acaso ou distinção de sentidos, “Sun” e “Son” são, no meu sentir, a mesmíssima coisa. Cada filho é um sol, mesmo que por vezes obscurecido, e até o sol é um filho, e cada ser que existe no mundo é filho, e como tal é, também, ainda que nublado, um sol. Isto não estava escrito na carrinha da associação, mas não preciso que me escrevam as descobertas que o meu coração gosta de me revelar.

Aqui fica este delírio sob a forma de crónica, numa época de aproximação do solstício, esse tempo de sol esquivo em que o dia diminui para imediatamente recomeçar crescer. Como um filho. Que é um sol. Por isso gosto tanto do Natal. Não me ofuscam as luzes dos enfeites das ruas. O sol oculto resplandece incomparavelmente mais no meu coração.


3 comentários:

luis santos disse...


Um imprevisível dia de sol... e beijinhos.

MJC disse...

Que bom Risoleta.

Beijinho.

Manuel João Croca

aluzdascasas disse...

Já tinha saudades de aqui vir... mas o tempo, o tempo... esse mito... Abraços reais!