Vendas Novas, 24 NOV 2014
INTELIGÊNCIA
EMOCIONAL?
Não
levem a mal a observação que se segue. Não quero ser desmancha prazeres, apenas
apelar à reflexão e ao espírito crítico. Penso que, para além de uma grande
abertura de espírito, é bom termos em atenção que aquilo que muito se
populariza tem por regra pouca consistência.
O
conceito de inteligência emocional foi introduzido no digestivo marketing das
ideias do pronto a pensar pelos psicólogos Peter Salovey (da Universidade de
Yale) e John Mayer (da Universidade de New Hampshire), em 1990, para uso
académico, como ferramenta de análise e compreensão do que é a inteligência,
não para afirmar que há várias inteligências, que não há. Porém, em 1995, o
jornalista do New York Times Daniel Goleman publicou o seu bestseller EMOTIONAL INTELLIGENCE: WHY IT CAN
MATTER MORE THAN IQ e o “conceito” tornou-se viral, para usar uma
expressão corrente na NET.
Ora
acontece que a popularidade conseguida por este modismo não correspondeu nem
corresponde ao seu valor científico e muito menos ao espiritual.
Não
existe algo como inteligência emocional, o que existe é conduta emocional,
hábitos emocionais, derivados dos sentimentos (predominantemente espirituais e de
fraca repercussão orgânica) e das paixões (fortemente orgânicas).
A
existir tal coisa como inteligência emocional, caberia perfeitamente na fusão
das inteligências intra e inter-pessoal da nomenclatura – igualmente apenas de
compreensão – proposta por Howard Gardner (Harvard 1980) na sua teoria das
Inteligências Múltiplas. Todavia, este mesmo psicólogo, realçava a
impossibilidade de aferição quantitativa das emoções, que o mesmo é dizermos
que não se pode ser objectivo com a subjectividade.
A
inteligência é só uma, os seus aspectos é que são tantos quanto nós queiramos
entender e dizer: verbal, espacial, musical, cinética, etc. A inteligência
conquista-se pelo entendimento e pela abertura de espírito e nenhuma técnica
lhe vale. Para alguns é uma dádiva do alto, uma outorga; para muitos, uma
trabalheira.
As
“técnicas” ditas de aperfeiçoamento e ampliação do modismo alcunhado de
inteligência emocional dificilmente produzirão o que prometem e muito
facilmente contribuirão para poluir as estruturas da Personalidade, ao gerarem
por ilusão ou censura uma cortina de ocultação da Besta que nos habita. Bem
sabemos que não vale a pena escondê-la na cave nem abafar-lhe os berros, pondo
a música alta. O processo é outro.
Abdul Cadre
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