MIRADOURO 42 / 2014
Quinta absurda em lágrimas de
Outono
Há lá coisa mais
engraçada, que ver dois gansos a fazer amor á beira de um lago como eu vi
acabado de chegar á quinta do Manancial.
Mais engraçada não, corrijo, mais humanamente sincera de se ver, que por
consequência semeava um sorriso na cara de quem contemplava o facto.
Alberto era o dono desta quinta na qual nunca
havia ido, homem um pouco excêntrico e de elevada sensibilidade para a vida no
campo, homem que me abre aporta de sua casa e me senta confortável no sofá da
sala, homem que me pergunta se eu quero café ou outra bebida e que a seguir me
serve uma chávena de café e a outra bebida.
Senta-se a meu lado pergunta-me como estou e
eu digo que bem, mais tarde pergunta-me o que é que eu penso da vida e eu
respondo, uma manga de camisa tremendamente afunilada, ele compreendeu vendo a
manga afunilando para baixo com um braço largo percorrendo-a, se a mão chegar a
sair pelo punho, muito bem, o ciclo desejado cumpriu-se mas se ela encalhar com
o tecido causando-lhe danos ou mesmo rasgando-o, o ciclo cumpre-se á mesma mas
sem o termo desejado. Só não percebeu a parte em que vida afunila para baixo,
pois no princípio as largas ilusões ao longo do tempo vão se concentrando num
só ponto até irem por água abaixo.
Mostrou-me a quinta toda ao por do sol, era
meu amigo, o Alberto.
Sentia-me fresco
naquele ar com o meu amigo, vimos os cavalos correndo lá ao fundo e um pónei,
mais perto, enxotando as moscas que cantavam ViVa ViVa á sua volta com o rabo.
- O problema é que me nasceu um pinto que em
vez de penas tem pétalas de flores agarradas ás asas. – Disse Alberto
- Deixa-o viver, mas se precisares de o comer
não te esqueças de o depenar em mal me quer, bem me quer, essa sim será a
galinha flor ou flor galinha que dirá mal ou bem me quer de forma sincera,
embora a comas a seguir.
- Aqui está o poço de que te falei, este
alimenta toda a quinta.
Alberto
debruça-se para se ver ao espelho, Alberto cai narciso ao poço, Alberto grita
por socorro.
Pânico sobre mim cai como Alberto ao poço e
vou a correr buscar um colchão grande de praia. O colchão cai na água comigo a
seguir para o salvar subimos os dois para o colchão, estendemos o corpo deitado
ao longo dele e ai ficamos pela noite a contar estrelas flutuando dentro do
poço.
Diogo Correia
4 comentários:
São pérolas, senhores, são pérolas.
Que mais se pode dizer????!!!!
Parabéns Diogo.
Abraço grande.
Croca
Que bela música escorre das tuas palavras!
Abraço com um sorriso,
António Tapadinhas
Junto-me ao coro dos aplausos. Extraordinária literatura. Sensível sensibilidade à flor da pena, humanidade sonhadora e rica. Pura consciência. É coisa para dar ânimo à vida de qualquer um, como eu. ViVa, Viva, Diogo. Sempre. Como o 25 de Abril.
Graaaandeee Abraaaçççooo, como aprendi a dizer.
OOOhhh meus amigos
Grato pelas vossas maravilhosas palavas, que seria eu sem aqueles que me rodeiam.
Obrigado por fazerem parte do meu mundo.
Abraço Giganteee
Diogo
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