domingo, 9 de novembro de 2014



MIRADOURO 42 / 2014

Quinta absurda em lágrimas de Outono


Há lá coisa mais engraçada, que ver dois gansos a fazer amor á beira de um lago como eu vi acabado de chegar á quinta do Manancial.  Mais engraçada não, corrijo, mais humanamente sincera de se ver, que por consequência semeava um sorriso na cara de quem contemplava o facto.
  Alberto era o dono desta quinta na qual nunca havia ido, homem um pouco excêntrico e de elevada sensibilidade para a vida no campo, homem que me abre aporta de sua casa e me senta confortável no sofá da sala, homem que me pergunta se eu quero café ou outra bebida e que a seguir me serve uma chávena de café e a outra bebida.
 Senta-se a meu lado pergunta-me como estou e eu digo que bem, mais tarde pergunta-me o que é que eu penso da vida e eu respondo, uma manga de camisa tremendamente afunilada, ele compreendeu vendo a manga afunilando para baixo com um braço largo percorrendo-a, se a mão chegar a sair pelo punho, muito bem, o ciclo desejado cumpriu-se mas se ela encalhar com o tecido causando-lhe danos ou mesmo rasgando-o, o ciclo cumpre-se á mesma mas sem o termo desejado. Só não percebeu a parte em que vida afunila para baixo, pois no princípio as largas ilusões ao longo do tempo vão se concentrando num só ponto até irem por água abaixo.
  Mostrou-me a quinta toda ao por do sol, era meu amigo, o Alberto.
Sentia-me fresco naquele ar com o meu amigo, vimos os cavalos correndo lá ao fundo e um pónei, mais perto, enxotando as moscas que cantavam ViVa ViVa á sua volta com o rabo.
  - O problema é que me nasceu um pinto que em vez de penas tem pétalas de flores agarradas ás asas. – Disse Alberto
  - Deixa-o viver, mas se precisares de o comer não te esqueças de o depenar em mal me quer, bem me quer, essa sim será a galinha flor ou flor galinha que dirá mal ou bem me quer de forma sincera, embora a comas a seguir.
    - Aqui está o poço de que te falei, este alimenta toda a quinta.
Alberto debruça-se para se ver ao espelho, Alberto cai narciso ao poço, Alberto grita por socorro.
  Pânico sobre mim cai como Alberto ao poço e vou a correr buscar um colchão grande de praia. O colchão cai na água comigo a seguir para o salvar subimos os dois para o colchão, estendemos o corpo deitado ao longo dele e ai ficamos pela noite a contar estrelas flutuando dentro do poço.

Diogo Correia

4 comentários:

MJC disse...

São pérolas, senhores, são pérolas.

Que mais se pode dizer????!!!!

Parabéns Diogo.

Abraço grande.

Croca

A.Tapadinhas disse...

Que bela música escorre das tuas palavras!

Abraço com um sorriso,
António Tapadinhas

luis santos disse...



Junto-me ao coro dos aplausos. Extraordinária literatura. Sensível sensibilidade à flor da pena, humanidade sonhadora e rica. Pura consciência. É coisa para dar ânimo à vida de qualquer um, como eu. ViVa, Viva, Diogo. Sempre. Como o 25 de Abril.

Graaaandeee Abraaaçççooo, como aprendi a dizer.

Diogo Correia disse...

OOOhhh meus amigos

Grato pelas vossas maravilhosas palavas, que seria eu sem aqueles que me rodeiam.

Obrigado por fazerem parte do meu mundo.

Abraço Giganteee
Diogo