Os Poderes
contestados de Ontem reúnem-se modernamente nos Canais de TV
António Justo
Acabo de chegar
de Portugal. Uma estadia, na Quinta Outeiro da Luz, muito rica em contactos e
em experiências humanas confortantes. O brilho da gente e do clima contrasta
com a negrura e a baixeza de muitos programas da TV. Os responsáveis da TV
parecem ter a intenção de educar o povo para o mórbido para o acaçapado, quando
a sua missão não deveria ser educar mas informar e instruir!
É horripilante o
nível das cadeias de TV. O povo continua a ser emburrecido com histórias
emocionais de roubos, suicídios, assassínios e quejandas; tudo explorado até à
exaustão duma lágrima que turva a inteligência. Notícias, que deveriam ter
lugar apenas nos jornais locais, são exploradas pela TV na intenção de fomentar
uma consciência ligada ao espírito coitadinho e a instintos primitivos;
programas com moderadores, muitas vezes, sem nível, mas democráticos para que a
estupidez também encontre representatividade nos canais virados para a
sentimentalidade e a negatividade; enfim, uma cultura para mais engordar a
plebe. Até o povo sensato parece não notar que está a ser encharcado com
imagens e conversas baratas tendentes ao alheamento, numa perspectiva de
lavagem do cérebro. Deixa-se levar e até gosta do sentimento satisfeito que o
torna cada vez mais na mesma porque “com papas e bolos se enganam os tolos”.
Quanto menos o povo consiga conectar mais facilmente será de levar!
O mais
lamentável é que a classe académica e gente bem pensante suportem a banalidade
e não proteste contra. Um povo abandonado a feras vestidas de cordeiro.
Quanto ao
discurso político transmitido: uma miséria! Apenas discurso partidário para
embalar o zé-povinho! É rara a discussão política objectiva sobre temas e se
tal a desoras; o que interessa são os ardinas políticos da praça e todo um
enredo em torno do dito e do não dito: uma conversa fiada para desinformar.
Cada partido
apresenta-se como uma rampa de salvação vendo a do adversário como a rampa para
o inferno. Cada qual com os seus dogmas e conversas intermináveis socorrendo-se
da falta de informação factual e de argumentação concreta de um público à
deriva, até porque só entende os cabeçalhos e os títulos das notícias.
Conversa, só conversa! Porém, a conversa nunca é certa, se deixa espaço para
reticências. Numa sociedade quer entupida/autossuficiente quer castigada, falta
a informação e o interesse por ela, devido às instituições dos boys que tudo
minam e dominam.
Temos de deixar
a ilusão de que alguém nos virá salvar. Nós é que temos de nos salvar. O povo
português é de memória curta e muitas vezes infantil ao pensar que a
alternativa, no tempo de eleições, vem de um outro partido. A República começou
empestada de ideologias e oportunismos e continua fiel a esta tradição. A
juventude abandona o país, permanece o hábito acomodado e autossatisfeito a continuar
a má tradição.
Boa noite
Portugal!
António da Cunha
Duarte Justo
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