Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
quinta-feira, 5 de maio de 2011
d´Arte - Conversas na Galeria XXXVI
Invenção do Alfabeto Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 100x100cm
Na preparação para uma exposição, estive a rever algumas fotografias de obras abstractas antigas, de entre as quais retive esta, que me lembrou a intenção que tinha de fazer uma série com as diversas invenções que transformaram o homem naquilo que é hoje, para o bem e para o mal. Nesta “Invenção do Alfabeto” de 2001, transformei a tela num terreno, pintando-a com tons terra, ocres e amarelo de nápoles, para ser possível estudar neste “campo” as culturas e os modos de vida do passado, com os vestígios materiais que ia pintando. Cheguei até aos nossos dias, mostrando as estruturas de casas, arranha-céus incluídos, para deixar aos vindouros a possibilidade de compreenderem os valores culturais da nossa geração. Gostei tanto da já esquecida ideia que estou a considerar a hipótese de continuar a série.
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2 comentários:
É, a nossa ficará para o futuro como a civilização das cidades que, pela sua artificialidade, são o que de melhor poderemos colocar para representarmos a nossa essência contraditória que tem tanto de bela quanto de insensata. Com efeito, se tem sido nesses espaços ditos urbanos –o conceito de urbanidade é uma autêntica pérola- que o Homem tem feito elevar os padrões civilizacionais aos mais elevados estados de bem estar, não deixa de ser igualmente verdade que também tem sido aí que nos deparamos com os mais evidentes e contundentes contrastes entre a riqueza mais imoral e a miséria mais atroz, da mesma maneira que não deixam de ser esses os universos dos excessos e dos desperdícios mais estúpidos, bem como os melhores símbolos da delapidação da(s) riqueza(s) que a Natureza nos legou. Ao contrário de entendermos a civilização como uma adaptação inteligente aos ciclos naturais da Terra, temos construído a cultura não só ao arrepio disso, como pior, sempre no sentido de domesticarmos essa mesma geografia ao prazer dos nossos sentidos e a cidade, de facto, é o que melhor representa essa nossa falta de senso, a nossa velhíssima ignorância que temos a ilusão de querer travestir como sabedoria.
Por seu lado, o alfabeto, lá está, fruto do fluir citadino, representa o que de melhor pode o génio humano e, por isso, esta tua tela, em tons de terra e de céu, nos remete para a perplexidade de um observador alienígena que se questionaria sobre que espécie poderia ser capaz de encerrar em si a ousadia de Babel e a humildade da(s) Ciência(s) e da Fé que, apesar de tudo, nos deixa sempre a centelha de esperança para querermos continuar aqui e, um dia mais tarde, nos deixarmos ir por esse espaço sideral fora, como que respondendo ao apelo de um regresso às estrelas de que afinal somos feitos.
Mas será devido a essa invenção desconcertante que é o alfabeto que a Terra nunca virá a ser o objecto de um mito, antes a memória de uma História que, mesmo com todas as suas Catástrofes, dela dirão que valeu a pena.
Continua então a tua série.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Houve duas coisas que me fascinaram em Viena, Áustria: The Belvedere Museum e Hundertwasser, o pintor das cinco peles. Ele dizia que o homem tem cinco peles, qual delas a mais importante:
Primeira a epiderme, segunda o vestuário, terceira a casa, quarta o meio social e a identidade, quinta o meio global, ecologia e humanidade.
O teu comentário faz a apreciação de todas as peles...
E penso como tu: só o belo garante a felicidade de todos os homens.
O problema é que eu, demasiadas vezes, me sinto um macaco nú...
Abraço,
António
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