segunda-feira, 23 de maio de 2011

A índole sertaneja

Naqueles tempos a braveza e dureza de corpo e de espírito eram qualidades indispensáveis ao êxito das empresas dos desbravadores. Muitos chegaram à crueldade. Isto é confirmado nas histórias do sertão.

Contam os livros que, na ultima e grande bandeira que liderou (1674 a 1681), Fernão Dias Paes Leme enfrentou muitas dificuldades, doenças, desistências e até uma tentativa de traição encabeçada pelo seu filho mameluco, José Paes Leme. Este achava que o pai devia regressar, pois há anos procurava as esmeraldas pelos sertões, sem nenhum resultado. Dizia que o pai devia estar louco para tanta insistência.

Uma noite, no acampamento, uma das índias da expedição, agregada à bandeira de Fernão, ouviu o plano de José Paes Leme e dos rebeldes para afastá-lo de vez da direção do grupo. Fiel ao velho bandeirante, delatou o filho dele. Não houve dúvidas, para manter o controle, como dono da vida e da morte de seus comandados, o sertanista julgou e condenou os traidores. Porém, para demonstração de força e frieza, perdoou todos menos o filho que fez enforcar para exemplo.

Para mais uma ilustração da índole rude dessa gente do sertão, vou contar um caso recente (há mais ou menos 50 anos) do antigo dono da fazenda que meu marido herdou, junto às terras de Goiás. Famoso pela sua valentia, bruto nas abordagens, o Coronel C.V, suspeitou que estava sendo traído pela mulher. Inventou uma viagem e foi-se embora. No dia seguinte reapareceu sorrateiramente na fazenda e flagrou a esposa com um dos agregados, em plenas demonstrações de amor, debaixo de uma jabuticabeira carregada de frutos. Truculento, rendeu os amantes, gritou para seus empregados que, temerosos, amarraram os dois. Para horror da assistência, com um facão, C.V. "capou" o pobre coitado que urrava de dor, todo ensangüentado. Não se conhece o destino do "capado", mas da mulher se sabe que continuou em casa, fazendo os trabalhos domésticos, após ser obrigada pelo marido a comer os testículos do amante na frente de todos. Naquele ano ninguém comeu as doces jabuticabas.

Maria Eduarda
Uberaba, 21/05/11

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