segunda-feira, 2 de maio de 2011

VIAGEM FORA DO TEMPO

Para ti que inicias esta leitura quero convidar-te a vires comigo, sem questionares. Aceitas? Então vem. Antes de iniciares a caminhada liberta-te do teu nome. É-te difícil? É só ousares. Dá os primeiros passos nesta caminhada, aparentemente a dois. Como te sentes? Mais livre? Com receio de teres perdido um bocado de ti? Se ousares, se continuares a caminhar verás que gradualmente te sentirás mais leve. Cortaste o primeiro laço contigo próprio. Estás um pouco livre. De ti mesmo. Daquilo que pensavas que eras e agora vês que já não te faz tanta falta. Começas a ter a sensação do inicio da verdadeira liberdade. Queres continuar a viagem? Se sim permite-te começares a flutuar, a iniciar o voo. Pequenos saltos, como um pardal, sensação agradável, mas um pouco temerosa. Se olhares para trás para aquilo com que te identificavas, um nome, uma profissão, uma família, os amigos, irás aumentar o vale dos caídos. Para prosseguir terás que contar só contigo. A minha voz sem que me vejas, será uma confirmação de que estarás sempre acompanhado. Se sentires que já caminhaste o suficiente e te deres por satisfeito parando, ao olhares para os lados verás que todos os que fizeram essa opção estão num estado de patético sonambulismo, pensando que já lá chegaram. Ignoram que o caminho não tem fim. Apercebes-te que foram muitos os que iniciaram o caminho, mas a grande maioria achou-o difícil, temeram o desconhecido, preferiram agarrar-se a formas que não passaram de ilusões. Ao olhar para os lados não verás ninguém, mas no chão que tens à tua frente nele encontrarás as peugadas cada vez menos profundas dos que seguem à tua frente. Parecer-te-ão passos de gigante tal é a distância entre os seus passos. A indiferença sobre ti próprio começa a aflorar em ti. Os teus antigos pontos de referência deixarão de ter sentido, é como um renascimento na própria vida. Partilharás o voo dos pássaros que ambicionavas. O impossível deixará de o ser. Sorrirás ao lembrar os milhares de anos em que rastejaste pensando que ias em alguma direcção, mas agora neste ponto um pouco mais alto em que te encontras vês que apenas andavas em círculos, não saindo do mesmo lugar. Neste voo que agora inicias já não olhas para baixo, mas para o alto, para esses que te atraiem nessa verticalidade de ser. Não é o inicio de um sonho, mas o vislumbre da Realidade.

António Alfacinha

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