Olhão Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Tela 100x100 cm
A cidade de Olhão, situada no coração do Algarve, tem um aspecto panorâmico único no País, na Europa e talvez no Mundo, devido à estrutura das suas casas com a forma de cubos sobrepostos, que se encaixam por entre ruas estreitas, fazendo lembrar uma Medina. Os terraços (soteias ou açoteias) substituem com vantagem os telhados tradicionais, pois podem ter diversas funções, das quais, uma das mais evidentes, será a sua utilização como um espaço privado para apanhar o fresco das noites de Verão. Não serve, contudo, para recolher as águas da chuva para cisternas, como se poderá julgar por comparação com Marrocos: o nome da cidade deriva de sítio do olhão, rico em poços de água doce. A riqueza da pesca permitiu aos seus habitantes, no final do século XVIII, transformar os casebres de madeira em casas cúbicas de pedra e cal branca, com as suas chaminés rendilhadas e as açoteias em vez de telhados.
Sobre a execução da tela.
Procurei tons de azul nas sombras para realçar a brancura das casas, com os mirantes, as torres e as chaminés tão características. Misturei areia à tinta de óleo para tornar natural a textura e os reflexos da luz. Criei a moldura com as mesmas tintas e textura da tela, para sugerir a continuidade do espaço da Cidade cubista antes de Picasso!
4 comentários:
Confesso que já passei várias vezes por Olhão e não vi com olhos de ver como tu viste, como tu vês.
É caso para dizer que és de Olhão e jogas no Boavista (perdoa-nos a banalidade).
Obrigado pela lição sobre Olhão. Só por isso havemos de lá voltar.
E, outra coisa te confesso: o primeiríssimo pensamento que se me desenhou no espírito assim que olhei, sem olhar, para a tela foi o de que, contrariamente ao habitual, esta tua obra é muito mais bonita ao vivo do que digitalizada, o que não significa dizer que não gosto de a ver, assim, incípida e despida.
Abraços.
É função dos poetas (como tu!) mostrar que as palavras não servem só para agredir os outros. A pintura pode servir para ver com uma perspectiva diferente aquilo que vemos todos os dias.
Vivi, ainda miúdo, férias inesquecíveis com familiares que moravam numa dessas casas de Olhão que em vez de telhado, tinha um campo de futebol cimentado. Era preciso ter cuidado para não pontapear, em vez da bola, uma nuvem ou mesmo algum anjo mais distraído...
Tens razão sobre ver e sentir esta tela ao vivo. Eu já tenho saudades dela. Um dia destes, tenho de ir à Junta de Freguesia do Barreiro, para a rever...
Abraço,
António
Eu diria que esta tela vem bem na sequência da anterior e, nesse sentido, acrescentaria que assim passámos da nossa casinha comum para as casas de cada um e até lá está a luz que pretendes reforçar pelo contraste do azul, por ter sido assimilado à cor da vida, de onde se disse brotar a esperança.
É o dartear, desta vez levando-nos a pensar que é pelo quintal que tudo começa, pois se os enchermos de lixo, teremos aquele à nossa volta e em vez de alindarmos tornamos o mundo mais feio e por isso a vida mais negra e difícil. Precisamos pois de desenvolver pensamento ético e com as notas de Olhão que nos ofereces e que eu de todo desconhecia, lá nos convidas a pensar que é na personalidade de cada lugar que poderemos encontrar a(s) diferença(s) que nos valorizam no mundo.
Assim vamos pensando, com as cores e a cores, sempre em busca do que nos faz merecer o balanço de não passarmos pela vida em vão.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Quando penso no motivo que me leva a seleccionar um assunto para fazer um quadro, para ser completamente sincero, não há nada de transcendente nesse impulso. Limito-me a visionar o resultado final, e se terei a capacidade técnica para o executar.
Isto é o que será politicamente correcto afirmar.
A outra parte é a experiência de vida que acumulei ao longo dos anos. Não consigo separar os meus pensamentos, as realidades da vida, os sonhos da criança que vive em mim, para os transmitir em cada quadro que faço.
Olhão não me é indiferente: vivi lá em criança, com pessoas de quem guardo belas recordações. Atrevo-me a dizer, para teu melhor entendimento: Talvez como tu guardarás de Sesimbra...
Aquele abraço,
António
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