terça-feira, 17 de maio de 2011

FACES

FUTUROS


"Mas é outra vez gente de todos os continentes, gente de todas as culturas, gente de todas as cores que se vai juntar ali e fazer alguma coisa nova que é uma nova Europa (...)."


Agostinho da Silva,


ibidem


PARIS



De facto, Paris é uma cidade magnífica.
Eu sempre me ri daquelas manias da senhora Mackenzy de explicar quase todas as coisas pelos ditos e as lógicas de tempos antigos, aquelas ideias cheias de autoridade dos avós e dos avós dos avós, com as quais ela argumenta para nos criticar pensamentos e atitudes que manifestamente não compreende e a enchem de horror. Recordo até certa ocasião, à saída da missa de Domingo, em que um meu reparo mereceu viva reprovação por parte da minha mãe que, de imediato, me acusou de ser cruel e desrespeitoso para com a sua amiga. Provavelmente fui. Dizia ela que na vida é preciso ter sorte, ao que eu repliquei, com aquele ar de púbere a rebentar de acne e bainhas das calças descidas. “-Então, a senhora Mackenzy deve ter tido imenso azar na vida.” Como eu e o George e o Archibald nos esvaímos em gargalhadas, quando numa das nossas passeatas pelos caminhos das falésias, eu lhes contei o sucedido com todos os pormenores de uma caricatura da expressão do rosto da pobre alma, mal esta me ouviu acabar a frase. Bem mais engraçado é que hoje, neste caso particular, quase me vejo forçado a dar-lhe razão. Sim, na vida é preciso ter sorte.



A tia Jennie foi muito simpática em ter-me convidado a passar duas semanas com a família, aqui, em Paris. Ela e o tio são porteiros de um prédio que fica na vizinhança dos Inválidos e a prima Kellie, que trabalha em La Villete, em algo relacionado com projectos para crianças, vive perto, em Pasteur, num bonito e acolhedor estúdio que só perde por ter aquele mostrengo da torre de Montparnasse ao centro da vista. Todos me receberam com o carinho que se dá a um ente querido e também com as honrarias dignas de um príncipe, posso eu dizer, tais não foram os cuidados com que me arrumavam o leito e me preparavam as refeições e ainda a vontade com que se empenharam em me fazerem ver a cidade e os arredores e me preencherem o ócio gigante de tantos dias sem obrigações. A prima Kellie, essa, foi incansável e agora que eu decidi permanecer uns tempos por aqui, até já me apresentou a alguns amigos e amigas, a quem se encarregou de solicitar a atenção para qualquer trabalho que me permita melhorar a condição em que me encontro. O meu tio é conhecido e respeitado numas lojas e cafés do bairro e um dia perguntou-me se eu não estaria interessado em trabalhar na copa de um restaurante, onde estavam a precisar de alguém para fazer o Verão na lavagem dos panelões e demais utensílios que não dão jeito passar pelas máquinas. O salário não é lá grande coisa, mas é mais do que o senhor O’Brian me costuma pagar no meu trabalho sazonal no supermercado e como, por enquanto, posso usar o domicílio familiar, penso que não me será muito difícil conseguir algumas poupanças. Depois veremos o que acontece. Certo é que o chefe e o patrão andam satisfeitos comigo e o meu trabalho e ontem, precisamente, o primeiro disse-me que está a pensar experimentar-me no serviço das mesas; parece que é bom ter alguém que fale bem inglês e como o francês que eu aprendi na escola parece suficiente, tudo indica que, brevemente, iniciarei a minha mobilidade laboral e consequente melhoria social. É claro que eu dou graças a Deus por tudo isto, mas agora que estou repousado e bem disposto, não posso deixar de me lembrar da senhora Mackenzy e da sua sapiência e não resisto a um laivo de humor. Pois foi uma sorte eu ter vindo para Paris que não tenho dúvidas em classificar como a cidade fantástica que, de facto, é.
Naturalmente, na actual situação já não tenho tempo para andar por aí a ver os monumentos e o rebuliço do ambiente. Bem sei que disponho das manhãs, mas o cansaço é de tal ordem que elas mal dão para a leitura de jornais e revistas a fim de avolumar o meu domínio da língua. É que desde as três da tarde até praticamente à meia-noite, ainda estou para gozar completamente as horas de que disponho, segundo me disseram, por volta do jantar. E é bom de imaginar o que é estar a pé, dias a fio, constantemente submergido pelo duro exercício físico de esfregar alumínios e latões de forma a que brilhem e nem o mais exigente fiscal seja capaz de reprovar por falta de higiene. No entanto, parece-me que obtive resultados e, como disse, a compensação está à vista. Por isso não me aborreço por me ter limitado a palmilhar os passeios entre o apartamento dos meus tios e o estabelecimento onde trabalho. Na devida altura, terei oportunidade de ir ao cinema e conviver nos cafés e bares do Cartier Latin que foi onde o movimento nocturno mais me agradou mesmo sem que eu saiba explicar porquê. Afinal, se tudo correr como até aqui, o meu optimismo não está, de todo, fora de contexto. Seja como for, naqueles dias em que me limitei a ser turista, foi-me possível formular uma imagem do que é esta cidade tão vasta e majestática, como eu não saberei dizer se há outra igual, mas como tenho a certeza de nunca ter visto algo que se lhe compare. Devo confessar que uma pessoa como eu que nasci e sempre vivi numa pequena aldeia do nosso litoral mais pobre, dificilmente deixaria de ficar impressionado por um mundo que, visto da Torre Eiffel, tem a urbe na curvatura do horizonte como nós o vemos no mar. Contudo, não será abusivo concluir que esse impacto jamais ocorrerá para diminuir a grandiosidade da capital da França. Por muito exagerado que possa ser o olhar, a sua correcção deixaria sempre a nu uma realidade de proporções inusitadas. Ao seu lado, Dublin, inclusivamente, por muito simpática e bonita que possa ser e eu estou convencido que é, nada mais consegue que ser uma cidadezinha de província.



E que sou eu a mais que um mero provinciano? Para ser honesto, que posso eu saber com os meus conhecimentos da escola técnica e de secundanista universitário que não faça de mim pouco mais que um ignorante para avaliar um mundo que me atrevo a dizer estar além das minhas aptidões de compreensão? Nem mesmo consigo apreender o que o senhor Cunningan e o Padre O’Hara quiseram dizer quando se referiram a Paris como a cidade luz. “-Bem, meu rapaz, vais então visitar Paris, segundo o que eu ouvi dizer.” Entrou ele naquele seu jeito de levar os polegares às axilas e olhar os outros pelo alto do nariz. E foi quando ele rematou em acto contínuo: “-Pois vais então fazer uma visita à cidade luz.” O senhor padre que o acompanhava, também lá deu a sua opiniãozinha e repetiu o epíteto. Eu anui, mirando os sapatos, mas na verdade não alcancei o que ambos me pretendiam transmitir. Ora, como após me felicitarem, apenas acrescentaram as boas sortes e seguiram, eu fiquei sem qualquer outra solução que não os meus próprios pontos de interrogação. Assim, não sei se eles se estariam a referir a um centro de artes e ciências, ou pelo facto de ter sido este o palco da revolução francesa que tantas e profundas consequências teve para a Europa e o resto do mundo, sequer sei se pensaram em qualquer outro aspecto. Seja lá como for, eu que agora aqui permaneço e que já dei as minhas voltas por aí, salvaguardada que está a minha débil preparação cultural, aventuro-me a confessar que não só estou de acordo com a expressão do senhor Cunningan, como até sou capaz de lhe conferir uma interpretação pessoal que, é justo esclarecer, resulta mais das impressões que me ficaram dos passeios de autocarro do que de qualquer uso elaborado da razão. Evidentemente, o perímetro da cidade é demasiado grande para que esta possa ser um todo homogéneo, dessa forma caracterizável pelo seu centro. Com efeito, existem áreas preferencialmente residenciais onde predominam grandes arranha-céus feios e incaracterísticos, isto para não falar das áreas industriais ou dos nós ferroviários com linhas e passagens aéreas e fios e cabos e composições a perder de conta. Acontece é que a parte central da metrópole é a modos que o seu cartão de visita e é só nesse sentido que, a partir dele, podemos dizer que aquela se caracteriza. Pois bem, partindo do princípio –que a meu ver parece e é lógico- que o centro se materializa nas zonas circundantes à Ille da lá Citté, não é que, enquanto descia os Campos Elísios para o Arco do Triunfo, no primeiro andar descapotável de um autocarro turístico, me vieram à memória as felicitações do senhor Cunningan e do Padre O’Hara e, inconscientemente, dei comigo a concordar com eles em como Paris é, de facto, aquilo a que eles chamaram a cidade luz?
Coisa engraçada, eu ali, esbugalhado de tudo e, repentinamente, cheio de ideias elevadas, a dar concordância e conteúdo a uma frase que, ao ouvi-la, não entendera. Mas, então, surgiu-me tão claro e evidente que Paris é a cidade luz que, intuitivamente, o atribuí ao traçado grandioso das vias e avenidas que rasgam e estruturam o tal centro em redor de uma leve curvatura do Sena. Aqui, o clima é mais frio e seco que o nosso e, talvez por essa razão, quer-me parecer, mais solarengo. Apesar disso, deve estar muito longe daquilo que aprendemos ser a luminosidade dos climas tropicais. A luz que percepcionamos é nos transmitida pelo facto de as avenidas, em geral, serem muito largas e arborizadas e, especialmente, pela articulação de vários pólos de interesse se fazer através de grandes espaços, quer sejam do género do jardim frontal às pirâmides de vidro da entrada para o Museu do Louvre, quer sejam do tipo de praças monumentais, como a Concórdia, de onde sai, a condizer, a imponência esmagadora dos Campos Elísios. A meu ver são essas avenidas amplas, como a que sai dos Inválidos, que dão razão e forma às palavras do senhor Cunningan. E a isso se junta a beleza dos edifícios, tanto os palácios como os prédios de habitação, o bonito que é de ver as fachadas alinhadas e enquadradas entre si, com as arquitecturas de outros tempos bem preservadas e, em isso, deixando transparecer um tal cuidado que até eu que sou ignorante dessas coisas, fiquei impressionado pela maneira inteligente como certas construções recentes estão de acordo com as ambiências de épocas passadas. É ver como a Torre Eiffel está magistralmente centrada de um lado com a frontaria da escola militar e do outro com o Trocadero, a ponto de este poder ficar sobre os arcos da primeira plataforma, para quem quer que tire uma fotografia a meio do relvado que se estende entre o ex-líbris da exposição de mil e novecentos e as instalações da academia castrense. Até parece que para trabalhar ali, apenas se contrata a fina flor dos arquitectos franceses. Aliás, o que deve ter acontecido desde sempre, pois a cidade foi edificada ao longo dos séculos e ainda hoje coexistem monumentos e não só de períodos muito diferenciados. E o que aqui conseguiram foram graciosas combinações entre uma catedral dos séculos onze ou doze, se não estou em erro, como é o caso da Notre Dame, e um palácio do barroco do século dezassete, de que é exemplo a sede da Mairie de Paris. E é por tudo isso que nós olhamos à nossa volta e o que vemos encanta, cativa-nos, o que melhor fica registado nas caixinhas das recordações se banhado pelo Sol. Assim nasce a memória na definição tão breve quanto apropriada dos meus caros conterrâneos. Eu não sei se tanto o senhor Cunningan como o Padre O’Hara aqui estiveram alguma vez, de visita ou por qualquer outro motivo, mas sou testemunha em como acertaram numa boa fórmula para a bem descrever.



Essa trata-se da Paris magnífica que, vista do Sena, com as suas pontes e cumes dourados, mais se assemelha a um postal. Ah e como ela é magnífica para quem seja rico ou, pelo menos, tenha o suficiente para se dar ao luxo de gastar sem olhar à subsistência diária. O que não terá uma pessoa para ver e fazer se para isso dispuser de tempo e dinheiro? Basta ter presente que os museus, para termos uma ilustração, conquanto os hajam pequenos e inversamente interessantes, de que me ocorre agora o Rodin, são aqui elevados a escalas gigantescas. Ver com olhos de ver, o Louvre requisitará, seguramente, mais do que um ano de visitas. E depois há outras unidades que não fazem por menos de alguns meses, como o Qay D’Orsay ou, em outras temáticas, a Cidade da Ciência e da Indústria onde eu me deliciei com o interior de um submarino nuclear na reforma. E as mundanidades, sejam de que quadrante e natureza forem, são tantas que não são passíveis de enumeração numa circunstância como esta. Haja tempo e dinheiro, escrevi eu, e aqui poderemos viver uma vida sem nunca nos aborrecermos com falta de algo para fazer. Esta verificação é tão óbvia que, por vezes, nos compassos de espera das bichas para ter acesso às vistas da Torre Eiffel ou a qualquer evento cultural, dei comigo a cogitar como tudo aquilo era um mundo de fantasia, um cenário inconcebível no âmbito de um cidadão comum, uma enorme cidade erguida tão só para o turista ver, um universo de brincadeira em tamanho real que as pessoas visitam para se divertirem e aprenderem em tempo de férias. Pois é essa a Paris magnífica, aquela que, no dizer do senhor Cunningan e do Padre O’Hara, é considerada a cidade luz.
Sejamos atentos e honestos e verificaremos que, para lá do palco, nem tudo se inclui na categoria dos contos de fadas. Se desviarmos a cortina, haveremos de ver a pele de muitas mãos cheias de frio e tresandando a fome que até agonia.
Pois há uma coisa que o senhor Cunningan não disse embora deva saber. É que a senhora MacKenzy, afinal, também tem razão quando diz que não há mundos perfeitos, vulgarmente acrescentando de sua sabedoria que nem no paraíso, cheio que está do bicho humano, nem aí encontraremos uma única sociedade onde não existam coisas erradas e perniciosas. “-Estando lá o homem.” –Sustenta ela com toda a seriedade que a alvura dos seus cabelos lhe consente. “-Jamais pode deixar de haver um caminho mal escolhido.” E nem mesmo as objecções do Padre O’Hara ou de minha mãe, de que o paraíso são as almas isentas de pecado, nem isso a convence da improvável radicalidade da sua teoria. De qualquer modo, abandonando o etéreo e limitando-nos à nossa passagem pela superfície terrestre, não hesito quanto ao acerto do ponto de vista da senhora. Como tal, também a Paris magnífica tem o seu lado deplorável e desesperante, até desolador e eu quase diria diabólico. A prima Kellie citou um escritor, se não me engano irlandês, talvez o Joyce que era sempre tão sapiente em tantos assuntos, adiante, a prima Kellie diz que há um escritor que comparou Paris a uma mulher da vida, se assim posso falar, que é deslumbrante vista de longe e horrível quando auscultada de perto. E é verdade, ainda que eu prefira substituir o adjectivo por outro de melhor tom. Pela minha parte direi que Paris é uma cidade madrasta. Vê-se muita miséria; não é, de todo, invulgar encontrarmos pedintes, no centro, ou cruzarmo-nos com pobres diabos que vivem na rua. Nota-se com facilidade que, naquele tão bonito quadro de caixa de chocolates, se atropelam muitos e muitos excluídos; neste que é o lado certo do mundo, eu acho que só pode ser considerada uma vergonha e excessivo o número de marginalizados que por ali pululam. Ele há tanto alucinado por esses passeios e pelos subterrâneos do metropolitano. São os cilindrados por este sistema de vida em que tudo depende quase exclusivamente das nossas habilidades para gerarmos e nos apropriarmos de dinheiro. E além disso temos a sensação que existem muitas pessoas desocupadas. Eu não conheço as estatísticas, sequer sei se podem algumas comprovar as minhas impressões. Mas na moldura humana ressalta o facto de estarmos numa cidade de pretos e asiáticos. São tantos que é praticamente impossível não nos depararmos constantemente com alguns. No metro, então, é uma coisa assombrosa; tenho alguma vergonha em admiti-lo, mas quase chega a meter medo. Mais do que uma vez aconteceu ser eu o único branco no interior de uma composição. No Verão, há um verdadeiro exército de orientais e pretos do Norte de África com as funções de aguadeiros nas imediações da Torre Eiffel ou de outros focos de atracção turística. Esses, pelo menos, não pedem esmola. Mas é entre essas gentes que se nota muita desocupação e eu não sei se o problema –pois é de um problema muito grave que se trata- pode alguma vez vir a ser resolvido. Tenho para mim que é aí que todas as desgraças começam.



Curiosamente, desde que trabalho no restaurante, tenho feito amizade com um rapaz brasileiro, também ele preto se bem que mais claro, que ali cumpre os mesmos recados que eu. É de São Paulo e diz que veio para a Europa em busca de ganha pão e para fugir à insegurança das ruas da sua cidade. Coutou-me que tem uma mão cheia de irmãos e que os pais são vendedores ambulantes dos mais diversificados artigos e artimanhas. Parece-me ser de bom carácter e também é católico. Costumamos conversar sobre futebol e música, ambos gostamos dos U2, embora, por vezes, façamos um ou outro comentário a respeito de outras temáticas mais sérias. Foi ele que me disse que se toda aquela miséria continuar a aumentar com toda a desintegração social que tem arrastado, se isso acontecer lá chegará um dia em que nos confrontaremos com os mesmos dramas da sua metrópole que ilustrou com um poema de uma banda local, segundo o qual os ratos vão entrar nos sapatos do cidadão civilizado.
Eu faço votos para que ele se engane ou antes, desejo que a evolução da nossa realidade não lhe venha a comprovar a profecia.
Apesar de tudo, este mundo é tão bonito.

Paris, 4 de Agosto de 1999

2 comentários:

A.Tapadinhas disse...

"Costumamos conversar sobre futebol e música, ambos gostamos dos U2, embora, por vezes, façamos um ou outro comentário a respeito de outras temáticas mais sérias."

Apanhei-te!!!
rsrsrsrs

Com que então achas que há coisas mais sérias para falar do que do futebol e da música?

A minha experiência como pintor permite-me dizer que qualquer tema é bom para se fazer uma pintura. Pintores há que fazem de grandes temas oportunidades perdidas e outros, pelo contrário, dão vida a uma obra-prima a partir de... nada, a não ser (e é tanto!) o seu génio!

Pois vamos falar de futebol e, de repente, estaremos a falar de amor e ódio, de companheirismo e luta, do céu e do inferno, de deus e do diabo, do melhor e do pior que faz de nós, seres humanos, a maior dor de cabeça do Criador!
:)
Abraço,
António

Luís F. de A. Gomes disse...

Gostei dessa, da dor de cabeça e não me admiraria mesmo nada que fosse Ele o primeiro a olhar-nos por esse prisma do sentido de humor.

Mas a comunicação entre diferentes não é tão fácil quanto possa parecer à primeira vista. Se nada ou pouco conhecemos do sítio, da cultura, onde, por ventura, cheguemos, não é líquido que consigamos entabular contactos proveitosos com aqueles que eventualmente abordemos. E isto sequer sem considerar as naturais barreiras linguísticas e, em conformidade, presumindo que a esse nível não há qualquer problema. Há no entanto outros muros invisíveis, outras limitações muitas vezes insondáveis que concorrem para que, por exemplo, perante o mesmo objecto, o mesmo acontecimento, esses diferentes tenham uma perspectiva diferenciada e diversa.
Como acontece neste caso, em que são duas pessoas em terra estranha para ambos, ou qualquer deles sabia um do outro, por outras palavras, por muito pouco que fosse, dominavam alguma informação a seu repeito ou, em alternativa, teriam que ser capazes de encontrar algo que os aproximasse que, por mútua partilha de gosto, de opinião, lhes permitisse comunicar a partir desse ponto.

Ora nesse sentido, o futebol é um elo de aproximação entre diferentes de coordenadas geográficas e culturais bastante distintas; não tenho dúvida alguma sobre isso pois já o experenciei e até em situações verdadeiramente espantosas.
O mesmo sucede com a música e não podemos esquecer que a música brasileira, por exemplo, no plano dos mercados mundiais dessa arte, é talvez aquela que melhor e isto para não arriscar dizer a única que se mostra capaz de competir com as produções de expressão anglo-saxónica. Daí a utilização destas que aqui são simples ferramentas da ficção, embora, na realidade, sejam de facto pontes que na realidade o são, muito que se podem estabelecer entre os homens.

Depois concordo contigo, do futebol à vida, ao que mais importa na vida, vai um saltinho de um pardal. Apenas há aqueles que não são capazes de um tão longo e complexo movimento.

Aquele abraço, companheiro
Luís