sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Castro Soromenho



Tenho para mim que Castro Soromenho (Fernando Monteiro de Castro Soromenho), jornalista, ficcionista e etnólogo, considerado um escritor do movimento neo-realista português e igualmente um romancista da literatura angolana, é o exemplo acabado e quase perfeito da lusofonia.

Senão vejamos: nasceu em Chinde, Moçambique, em 31 de Janeiro de 1910, e foi com um ano de idade para Angola quando o pai, o português Artur Ernesto de Castro Soromenho, para ali foi transferido para assumir o cargo de governador da Lunda, sendo também um dos fundadores da cidade de Nova Lisboa (actual Huambo) juntamente com o Alto-Comissário de então, o general Norton de Matos. A mãe, Stela Fernançole de Leça Monteiro, era natural do Porto e de família cabo-verdiana.   
                                
Entre 1916 e 1925 Castro Soromenho estudou em Lisboa o ensino primário e liceal. Regressou a Angola onde trabalhou para a Companhia de Diamantes de Angola (Diamang). Em seguida, entrou para o quadro administrativo de Angola, na categoria de aspirante, servindo nos sertões do leste da colónia, aí bebendo muito do que viria a ser a sua inspiração e o seu estilo literário. Posteriormente torna-se redactor do jornal Diário de Luanda. Em 1937, regressa a Lisboa, colaborando em diversos jornais como: Semanário Humanidade do jornal Diário Popular, A Noite, Jornal da Tarde, O Século, Seara Nova, O Diabo, O Primeiro de Janeiro e Dom Casmurro.

Em 1949 casou-se com Mercedes de la Cuesta, na Argentina. Por consequência de duras críticas ao regime salazarista foi obrigado a exilar-se em França, em 1960. Ainda nesse ano viajou para os Estados Unidos da América, onde foi professor na Universidade do Wisconsin ministrando o curso de Literatura Portuguesa. Regressou a França em Agosto de 1961 e colaborou com as revistas Présence Africane e Révolution. Em Dezembro de 1965 foi viver para o Brasil. Ali regeu cursos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São de Paulo e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara.
Dedicou-se também ao estudo da etnografia angolana, tendo sido um dos fundadores do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo.

Viria a falecer no Brasil em 18 de Junho de 1968, completando assim o círculo da sua existência lusófona: Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e Brasil.

Bibliografia de Castro Soromenho: Lendas negras (1936); Nhari: o drama da gente negra (1938); Imagens da cidade de S. Paulo de Luanda (1939); Noite de angústia (1939); Homens sem caminho (1941); Sertanejos de Angola (1943); A aventura e a morte no sertão: Silva Porto e a viagem de Angola a Moçambique (1943); Rajada e outras histórias (1943); A expedição ao país do oiro branco (1944); Mistérios da terra (1944); Calenga (1945); A maravilhosa viagem dos exploradores portugueses (1946); Terra morta (1949); Samba (1956); A voz da estepe (1956); Viragem (1957); Histórias da terra negra (1960); Portrait: Jinga, reine de Ngola et de Matamba (1962); A chaga (1970).

Tomás Lima Coelho

1 comentário:

MJC disse...

Caro Tomás Coelho, "velho" vizinho,

acho esta rubrica bastante interessante e enriquecedora.

Obrigado por estas partilhas.

Um abraço.

Manuel João Croca