Tenho para mim que Castro Soromenho (Fernando Monteiro de Castro
Soromenho), jornalista, ficcionista
e etnólogo,
considerado um escritor do movimento neo-realista português
e igualmente um romancista da literatura angolana, é o exemplo acabado e quase perfeito da lusofonia.
Senão vejamos: nasceu em Chinde,
Moçambique, em 31 de Janeiro de 1910, e foi com um ano de
idade para Angola quando o pai, o português Artur Ernesto de Castro Soromenho, para
ali foi transferido para assumir o cargo de governador
da Lunda,
sendo também um dos fundadores da cidade de Nova Lisboa (actual Huambo)
juntamente com o Alto-Comissário de então, o general Norton de Matos. A mãe, Stela
Fernançole de Leça Monteiro, era natural do Porto e de família cabo-verdiana.
Entre 1916 e 1925 Castro Soromenho estudou em Lisboa o ensino
primário e liceal. Regressou a Angola onde trabalhou para a Companhia de Diamantes de Angola (Diamang). Em seguida, entrou para o
quadro administrativo de Angola, na categoria de aspirante, servindo nos
sertões do leste da colónia, aí bebendo muito do que viria a ser a sua
inspiração e o seu estilo literário. Posteriormente torna-se redactor
do jornal
Diário de Luanda. Em 1937, regressa a Lisboa,
colaborando em diversos jornais como: Semanário
Humanidade do jornal Diário Popular, A Noite,
Jornal da Tarde,
O Século,
Seara Nova,
O Diabo,
O Primeiro de Janeiro e Dom Casmurro.
Em 1949 casou-se com Mercedes de
la Cuesta, na Argentina. Por consequência de duras críticas ao regime salazarista foi obrigado a exilar-se
em França,
em 1960. Ainda nesse ano viajou para os Estados Unidos da América, onde foi
professor na Universidade do Wisconsin ministrando o curso de Literatura Portuguesa.
Regressou a França em Agosto de 1961 e colaborou com as revistas Présence
Africane e Révolution. Em Dezembro de 1965 foi viver para o Brasil. Ali
regeu cursos na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de
São de Paulo e na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara.
Dedicou-se também ao estudo da
etnografia angolana, tendo sido um dos fundadores do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo.
Viria a falecer no Brasil em 18
de Junho de 1968, completando assim o círculo da sua existência lusófona: Portugal, Cabo Verde, Moçambique, Angola e
Brasil.
Bibliografia de Castro Soromenho: Lendas negras (1936); Nhari:
o drama da gente negra (1938); Imagens
da cidade de S. Paulo de Luanda (1939); Noite
de angústia (1939); Homens sem
caminho (1941); Sertanejos de Angola
(1943); A aventura e a morte no
sertão: Silva Porto e a viagem de Angola a Moçambique (1943); Rajada e outras histórias (1943); A expedição ao país do oiro branco (1944);
Mistérios da terra (1944); Calenga (1945); A maravilhosa viagem dos exploradores portugueses (1946); Terra morta (1949); Samba (1956); A voz da estepe
(1956); Viragem (1957); Histórias da terra negra (1960); Portrait: Jinga, reine de Ngola et de
Matamba (1962); A chaga (1970).
Tomás Lima Coelho
1 comentário:
Caro Tomás Coelho, "velho" vizinho,
acho esta rubrica bastante interessante e enriquecedora.
Obrigado por estas partilhas.
Um abraço.
Manuel João Croca
Enviar um comentário