terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

FRESCOS



Eu sei que o silêncio brota, de novo,
pelas pontas dos dedos de quase todas as árvores.


FIM 

8 comentários:

Amélia Oliveira disse...

Bom dia, Luís!
Se calhar deveríamos dizer 'Eu sei que o silêncio brota, de novo/à terça-feira/do monitor do meu computador'... :)
Brincadeiras à parte e um pouco à laia de despedida dos Frescos, com muita pena minha porque para além de muito ter gostado de os ler, também nos levaram a Ver quer o que pintavas com as tuas palavras, quer o que tínhamos à frente e que, com a corrida dos dias, às vezes não víamos...
Mais ainda, diria que esta tua rubrica permitiu alguns encontros bem divertidos, lembro-me de um dia com a Teresa Bondoso em que se escreveu sobre música e ambas fomos à procura de sugestões tuas - penso que a Teresa me perdoará a inconfidência - pelo que as tuas simples palavrinhas, como gostas de lhes chamar, foram muito para além disso, o que foi um enorme prazer (para mim, pelo menos!) ao longo destes meses!
Já me alonguei, mas é porque se trata de um comentário de despedida... fica uma pergunta: o que fazer agora às 3ªs feiras de manhã, para acompanhar o meu café? :)

Um Abraço e um Muito Obrigada!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...
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Luís F. de A. Gomes disse...
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Luís F. de A. Gomes disse...

Olá, Amélia

Olharemos o céu
que tem mesclas de cinzentos algodoados que flutuam no centro do olhar
e passam, lentamente, dourando aqui e ali sob o que ilumina o azul
a quem cantam os pingos de rosas e verdes acentuados dos braços esticados
das árvores que o Inverno fez calar em prantos acastanhados sobre o chão
e nas ruas
seguiremos de Primavera escancarada no rosto, em todo o corpo navegante
gratos pela algaraviada da pardalada atrevida que brinca connosco
e nos diz os bons dias de quem vive esvoaçando em paz entre ramagens e beirais
reconhecidos pelas saudações em cujos olhos queremos ver fontes de arco-íris

olharemos o chão
que a invernia farta de água mesclou de espelhos por aqui e acolá e mais além
onde as carícias da brisa fazem com que reflexos coloridos ondulem
e o Sol compõe sinfonias com o som das sementes que dão os brancos das margaridas
ou as campainhas amarelas penduradas nas antenas de verde das azedas
e dentro de nós
sentiremos a harmonia da Primavera que trazemos escancarada no rosto
gratos pela dádiva de sermos capazes de compreender que também somos irmãos
daquela pardalada atrevida que brinca connosco em tangentes de encantamento
e que nos dizem os bons dias, irmão humano que, tal como nós, tens alegria em viver.

Mergulharemos na vida
olhos e coração despertos, abertos, plenos de asas, como as dos pardais nossos amigos.

Esta é a resposta à tua pergunta, como uma forma de agradecer toda a gentileza com que leste e recebeste estas minhas simples palavrinhas.

Curvo-me perante ti.
Luís

Amélia Oliveira disse...

Belíssimo, o teu texto!
Agradeço-te com um poema de cummings que, por causa dos Frescos, fiquei a saber que é um gosto que partilhamos! Não o queria em Inglês e espero que a forma seja a do original!

Mais uma vez, obrigada!
Amélia

o
céu
era
açuc ar lu
minoso
comestível
vivos
cravos tímidos
limões
verdes frios s choc
olate
s.

so b,
uma lo
co
mo
tiva c uspi
ndo
vi
o
letas.

( tradução: Augusto de Campos )

Amélia Oliveira disse...

P.S. Lamento, mas nestas caixinhas de diálogo não é possível manter o formato destes poemas que também são visuais... fica o texto!

Luís F. de A. Gomes disse...
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Luís F. de A. Gomes disse...

Cummings é, sempre será, um Mestre, não é verdade? E ainda bem que o apresentas traduzido, em português, pois isso deixa ver uma das particularidades encantadoras que sempre em ele encontrei; é que ele é belo mesmo dessa forma, em qualquer outra língua e isso é um dos aspectos da universalidade da sua poesia que para mim é mais entusiasmante – mas essa é uma opinião meramente pessoal que admito não ter como desenvolver e, consequentemente, corroborar. Com palavras e de modo aparentemente tão simples, não é tão engraçado, tão bonito, tão interessante e tão profícuo, como ele consegue induzir-nos visões e pensamentos que, na sua complexidade, acabam por nos levar a pensar, mais não fosse, no poder encantatório que têm os ritmos que se conseguem nas palavras? Não sei se muitos dos seus poemas, traduzidos em línguas de outros enquadramentos culturais, por exemplo, na África sub-sahariana, seriam entendíveis pelas populações respectivas e, mais que isso, tidos como materializando os padrões de belo aí eventualmente existentes. Ainda assim, arrisco-me a dizer que sim e este seria justamente um bom exemplo disso pois, uma vez descodificadas as flores e os alimentos, provavelmente encontraríamos pessoas que saberiam explorar todos os sentidos em que poderemos materializar a grandeza e a beleza desta pequena delícia.
Fico portanto grato pela partilha que dá mais brilho a uma tarde tão bonita.

É uma simpatia da tua parte.
Luís