segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (17)






A ÁRVORE


Era um grupo e de homens. Homens do campo, habituados a lidar com a terra, com os caprichos das estações do ano que, de vez em quando, pregam as suas partidas e ora alagam os campos ora os secam até que tudo pareça morto, para renascer na época seguinte.

Viajou junto, este grupo de homens fortes, másculos, orgulhosos, um pouco homofóbicos, porque não dizê-lo? Foram a trabalho, eram uns onze ou doze. Os dias eram passados em reuniões, conferências, visitas a stands de novos equipamentos onde se trocavam impressões e cartões de visita e as noites eram passadas em jantares e bebidas fortes, como convém a homens com agá grande, como gostam de se intitular!

Num dos últimos dias pediram UMA guia para os levar a conhecer a zona. É claro que seria muito mais interessante conhecer os recantos da cidade mostrados pelos olhos de uma mulher… e quando a guia surgiu no átrio do hotel, ouviu-se algum burburinho: Miss Dot, assim se apresentou, devia ter cerca de 70 anos e deslocava-se numa potente Harley Davidson. E era mandona, ah se era! Começou por lhes distribuír mapas e o itinerário para o dia, sem dar àqueles homens fortes e másculos qualquer hipótese de a contrariar: já estava tudo planeado e era assim que seria!

Tudo correu mais ou menos bem até ao encontro com o Velho Carvalho… aqui é que a coisa se complicou… tratava-se de uma velha árvore com mais de três séculos de existência (um carvalho pode atingir a bonita idade de mil anos!) e Miss Dot MANDOU que os homens dessem as mãos formando uma roda em redor do enorme tronco da Velha Árvore e que dançassem em celebração da Vida! Fez-se silêncio, enquanto os homens olhavam uns para os outros, sem saberem bem o que fazer… e, a pouco e pouco, foram estendendo as mãos a quem estava ao lado, formando uma roda e dançando e libertando energias contidas!

Ainda hoje não falam do assunto uns com os outros mas quem os conhece íntimamente sabe do ‘Milagre do Velho Carvalho’ que fez um grupo de homens da terra, másculos, machos, dar as mãos e dançar em redor de uma árvore, na mais pura celebração da Vida! Um Verdadeiro Milagre, sem dúvida…


Amélia  Oliveira

Ps. de António Tapadinhas - Juro que não sabia que Jack Nicholson ia apresentar o Melhor Filme nesta noite de Óscares.

13 comentários:

Amélia Oliveira disse...

Antonio,
Não resisto a deixar-lhe um comentário, porque estou farta de rir sozinha, nesta bela manhã: o seu sentido de humor é Brilhante!E a coincidência também! E a música idem! Adorei!
Até me vou permitir mandar-lhe

Um beijo de Obrigada por me ter deixado tão bem disposta!
Amélia

MJC disse...

Bom dia Amélia.

Gosto muito do seu texto e não apenas pelo facto de ser um confesso apaixonado por árvores.

Ainda no passado sábado fui a uma excursão a Serralves e gastei parte do tempo a tirar fotografias de telemóvel às magníficas árvores que vivem naqueles jardins.

Fiquei com vontade de conhecer o Velho Carvalho e a guia que tão bem entende a energia da árvore.

Acredito perfeitamente que a energia que se libertou no ritual só possa ter sido positiva e sem mácula.

Lembrei-me de um outro velho carvalho - aquele que é personagem incontornável no "A Um Deus Desconhecido" do Steinbeck - com quem foi celebrada a paternidade e a renovação.
Ali terá antes sido celebrada a amizade.
Quer num caso quer noutro acredito terão os sentimentos saído reforçados.

Um abraço.

Manuel João Croca

MJC disse...

Já agora, seria lamentável não referir a complementariedade potencializadora da música e da imagem.
Parabéns também ao António pois claro.

Manuel João

Amélia Oliveira disse...

Boa Tarde, Manuel João!

O livro de Steinbeck está na minha lista de livros 'Para Ler'!
O Velho Carvalho e Miss Dot estão à sua espera em New Orleans: pegue numa Harley e tenha uma 'easy ride'! Pelo caminho pode ir ouvindo 'Born to be Wild'...

Um abraço e obrigada por ter gostado!
Amélia

Luís F. de A. Gomes disse...

Bem, quem mais jura mais mente, assim diz a sabedoria popular e a
verdade é que todos sabemos que o Tó lá tem os seus contactos entre as
estrelas e depois... Depois? Bem, depois o rapaz é modesto e não pode
andar por aqui a dar conta do tu cá tu lá - isto agora com o skype até
é como ir ali ao café do lado - com o Jack que certamente lhe terá
comunicado isso não fosse o caso de ter que vir a haver um qualquer
jantar coincidente. Seja como for, a verdade é que a esta hora está o
responsável pela cerimónia a jurar a pés juntos - já fez uma pequenina
cova - às chefias da Academia que não senhor, ele jamais conseguiria
imaginar que o EG iria apresentar o "Real..." desta semana
precisamente com o Nick, ainda que de há quarenta anos atrás. Pena que
o Hopper, já tenha ido para o lado de lá, mas ainda assim se consegue ouvir as suas gargalhadas.

E com tudo isto lá me ia esquecendo de dizer,

Bom dia, Amélia

E que lindo que está o dia de hoje.

Mas o que eu quero mesmo é falar desta tua história.

Foi o Einstein que disse, numa das suas tiradas ímpares e de pendor filosófico que a guerra é a doença infantil da Humanidade. Dando crédito ao pensamento do Físico, é pois de presumir que, uma vez que o mundo continua em guerra, permanece aquela na infantilidade. E é precisamente para isso que este teu texto começa por nos remeter, para a infantilidade dos homens que em tal estádio mental se vão mantendo. Não é tão humoroso que os homens, tão cientes da sua virilidade, tão veementes e indefectíveis na(s) expressão(ões) em que a têm em conta, estejam tão longe de entender que aquela começa precisamente no cérebro? É uma gracinha, tal como o é a outra verificação para que podemos extrair destas tuas palavras preciosas e cheias do encanto de um sorriso – eu diria melancólico – que ao mesmo tempo que encerra alguma tristeza – poderei chegar aqui? – traz com ela a beleza de um olhar que aceita – aqui teríamos uma longuíssima conversa sobre a importância da aceitação e das distinções entre ela e outras atitudes como, por exemplo, a de tolerância, debate crucial para os contornos civilizacionais de um mundo socialmente mais justo – o outro, como é, sabendo que a Vida quase sempre se encarrega de nos reservas as surpresas de encontros que nos permitem crescer – depois há que ter a vontade individual para o fazer e aí há aqueles que conseguem e aqueles que não são capazes de se deixar ir crescendo – mesmo quando o fazem pelos murros no estômago, como é este o caso – e esta é a segunda verificação de que falei – e, nessa medida, ela se vai cumprindo lentamente, de gerações para gerações, ainda que não o quiséssemos e disso não tenhamos a consciência e isso por passar em boa parte pela complexidade do interior de cada um. Ora isto, leva-nos, se o quisermos, a ter que reflectir sobre o que de mais fundo há nos homens, na Humanidade, em geral e daí a profundidade desta tua história, tão sucinta quanto perspicaz, tão precisa quanto bonita.
É o “Real…” a desafiar-nos para que nos demos conta de nós, em pensamento.

Aquele abraço, velha amiga
Luís

Luís F. de A. Gomes disse...

Errata:

1. É uma gracinha, tal como o é a outra verificação para que podemos extrair destas tuas palavras

A frase certa é a seguinte:

É uma gracinha, tal como o é a outra verificação que podemos extrair destas tuas palavras

2. reservas as surpresas

A palavra certa é, naturalmente:

reservar

Peço desculpa pelas gralhas.

Luís

A.Tapadinhas disse...

Vou confessar-vos um propósito que eu tive quando deixei as "Conversas na Galeria" e comecei com o "Real... Irreal... Surreal...".

No meu fraco entender, julgava que a nova rubrica me deixaria algum tempo livre para fazer outras coisas sem a obrigação de cumprir horários, porque era uma coisa simples: pegar num texto já escrito, arranjar uma imagem e já está!

Como me enganei! Os Luíses, a Teresa, a Amélia, o Manuel João e... os outros, não me deixaram gozar as minhas merecidas (julgava eu, ingénuo como sou!) férias!

E assim, em cada REAL... há sempre o desafio de superar o que foi feito anteriormente...

...Como é bom ser obrigado a pensar!

Agradeço do coração as vossas palavras, julgando, embora, que devem ser dirigidas aos criadores que tenho podido escolher.

Abreijos
António Tapadinhas

luis santos disse...


Está quase tudo dito. Aproveitar só para relembrar duas das grandes figuras do movimento "beat" norte americano, Ginsberg e Kerouac, poetas e filósofos que estiveram por detrás do Movimento que foi dar no filme e que, se bem me lembro, esteve imediatamente por detrás do movimento hippie, do "peace and love", "make love not war", esse deslumbrante movimento pacifista, naturista, pouco dado a velhas politiquices, espírito que ainda hoje perdura entre os melhores de nós, pelo meio desta modernidade mecanizada e desalmada. Muito boa, portanto, a conjugação entre o beat e o velho carvalho, onde se trocavam flores. Temos por cá, para a troca, uma oliveira com mais de 2 mil anos, com datação arqueológica e canção de roda.

Abraços.

Amélia Oliveira disse...

Luís Gomes, o dia está, de facto, fantástico!

Eu sou uma eterna optimista e quero acreditar que saímos sempre maiores e mais fortes de todos os murros no estômago que vamos levando. E depois há a ligação com a natureza, que só pode ser uma coisa boa e que faz milagres de verdade. Basta olhar um pouco para dentro de nós- lembras-te da alegria que sentiste ontem ao ver uma andorinha cruzar o teu caminho? Pois é, a capacidade de crescer e ser feliz está ao alcance de todos, tantas vezes nas pequenas coisas da vida...

Um abraço para ti também, meu velho amigo!

Amélia

Amélia Oliveira disse...

Luís Santos,

Que bom teres trazido o Movimento Hippie! Que a nossa geração viveu, em Portugal, no final dos anos 70 e inícios dos anos 80... e que ainda vai vivendo, se bem que de forma mais 'tranquila'? Ainda acreditamos que mais vale o Amor do que a Guerra, acho...

Abraços floridos!
Amélia

Unknown disse...

Talvez o Velho Carvalho nunca viesse a ser mais do que uma velha árvore com mais de três séculos de existência… isto se os homens não tivessem que dar as mãos. A perplexidade é uma coisa maravilhosa!!!
Gostei muito do texto, como sempre, Amélia. Simples e belo.
A gente fica a pensar e sorri…

Amélia Oliveira disse...

Obrigada Teresa!

A natureza faz destes milagres... ou será que foi a Miss Dot?
E é tão bom sorrir...
Obrigada!
Amélia

Anónimo disse...

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