Mestre Eckhart – A Mística da Essência
Mestre Eckhart, tal como São Tomás de Aquino,
foi discípulo de São Alberto Magno.
Foi acusado de heresia e proibido de pregar.
Para Echart a essência primordial, que tanto
pode ser comum aos homens como aos deuses, não é passível de conceptualização.
Toda a tentativa de conceptualização da realidade é sempre uma limitação. Os “bem
aventurados” são os pobres em espírito: a “mística da essência” faz a apologia
do nada querer, nada saber, nada ter.
Nada querer saber, nem de si, nem do mundo, nem
de Deus. Tudo isso são entraves aquilo que já realmente se É. O mais importante
é estar livre, desocupado. Ser livre de tudo, inclusivé de deus.
A partir do momento em que o homem quis alguma
coisa, saiu de Si e cindiu-se. E aí, passou a haver deus, homem e mundo. Antes
dessa rutura, o que verdadeiramente existe, é uma realidade primordial não diferenciada,
integral.
Se nos Dominicanos, o homem chega a Deus
através do intelecto, e se nos Franciscanos, o homem chega a Deus através da
vontade e do amor; Mestre Eckhart afasta-se de uns e de outros e sustenta que
há algo no homem que não é intelecto, nem amor. Para ele, a fonte da “grande
felicidade” é a beatitude: «não há nada a vir, não há nada a esperar, não há
nada a temer». O único caminho para a liberdade é a própria liberdade. Deus,
estando livre de tudo, não sendo uma coisa, engloba todas as coisas. E o que se
aplica a Deus, aplica-se ao homem. A alma abarca todas as coisas, pré-existe, é
anterior e responsável pela criação do mundo. Ela transcende-O, está para além.
A perceção da alma é possível pela não
conceptualização, pelo evitar de toda a tentativa de imaginação.
Em Eckhart, a “bem aventurança” chega com o
desapego de todas as coisas materiais ou espirituais, mas igualmente de si
próprio. Mas, a sua proposta não é de uma anulação do ser, pelo contrário, em
vez de alguma coisa o importante é ser tudo.
“Eu já sou. Eu autocriei-me desde a eternidade.
Eu sou incriado, imortal.” A existência, o ser, é o cair para fora da
eternidade. É preciso voltarmos ao antes de “sermos”.
Carlos Rodrigues
Referências Bibliográficas:
BORGES, Paulo, Seminário de Filosofia da
Religião, Fac. De Letras da Universidade de Lisboa, 2011/2012, 2º sem.
Eckhart, Mestre, Tratados e Sermões, Edições
Paulinas.
4 comentários:
Por imposições profissionais comecei a olhar para estes apontamentos com outros olhos - estive a ler também os apontamentos anteriores, que me ajudaram a entender alguns conceitos. É interessante o que se aprende neste espaço, o que, desde já, agradeço!
Cumprimentos!
...que imposições profissionais?...que outros olhos?...quais os conceitos?...é interessante o quê?
Agradecido, sou eu.
Abraço.
Já o disse anteriormente mas, por ser verdade, não me importa nada de repetir:
Acho deliciosas estas sinopses de Carlos Rodrigues.
São formativas, educativas, sintéticas e, a mim, proporcionam sempre prazer e vontade de partir para uma descoberta mais aprofundada do mestre apresentado.
Os estímulos são imprescindíveis ao crescimento do conhecimento.
Abraços.
Manuel João
Bem, já somos dois.
São estímulos que vão passando de mão em mão e que não deixamos de agarrar quando gostamos. E se gostamos, não faria sentido guardar as ideias na gaveta, antes é quase obrigação a partilha. E boas viagens.
Aquele Abraço.
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