TOMAZ
VIEIRA DA CRUZ (1900 – 1960)
“… a
homenagem a um poeta que morreu é decorar-lhe os versos!”. Frase sábia
de António Manuel Couto Viana e que bem poderia constar no epitáfio de Tomaz
Vieira da Cruz. Os seus versos pertencerão para sempre à memória de Angola e da
lusofonia. Nasceu em 1900 em Constância onde, por coincidência (ou não), foi a
terra onde também nasceu Luiz Vaz de Camões (dizem…), mas foi em Angola que
viveu grande parte da sua vida. Faleceu em Lisboa em 1960 mas, como último
desejo, pediu para ser sepultado em chão angolano, a terra por quem se
apaixonou e onde nasceram os seus filhos. Assim aconteceu e hoje repousa em
Luanda no cemitério do Alto das Cruzes.
De um
pequeno livro (relíquia minha salva de uma inundação em Luanda!) intitulado “POESIA
ANGOLANA DE TOMAZ VIEIRA DA CRUZ (ANTOLOGIA POÉTICA)”, publicado em 1961 pela CEI/Casa
dos Estudantes do Império, com capa de Neves e Souza e selecção e prefácio de
Mário António, que aglutina três dos seus livros de poesias, “Quissanje –
Saudade Negra” (1932), “Tatuagem” (1941) e “Cazumbi” (1950), transcrevo aquele
que será, talvez, o seu mais belo e expressivo poema, deixando no ar uma
pergunta: para quando uma reedição da obra deste poeta tão importante?
COLONO
A terra que lhe cobriu o rosto
e lhe beijou o último sorriso,
foi ele o primeiro homem que a pisou!
Ele venceu a terra que o venceu.
Ele construiu a casa onde viveu…
Ele desbravou a terra heroicamente,
sem um temor, sem uma hesitação,
- terra fecunda que lhe deu o pão
e lhe floriu a mesa de tacula*…
Mas quando olhava a imagem pequenina
- Senhora da Boa Viagem -,
que a mãe lhe pôs ao peito à hora da
partida,
o Homem forte chorava…
Foi arquitecto e foi também pintor,
porque pintou de verde a sua esperança…
Esculpiu na própria alma um sonho
enorme,
por isso foi também grande escultor!
Foi genial artista e mal sabia ler!
O que aprendeu foi Deus que o ensinou,
lá na floresta virgem, imensa catedral,
onde tanta vez ajoelhou!
Viveu a vida inteira olhando o céu,
a contar as noites
da lua nova à lua cheia.
E o sol do meio-dia lhe queimou a pele,
o corpo todo e até a alma pura.
Foi médico na doença que o matou,
ao homem ignorado e primitivo
que derrubou bravios matagais
e junto deles caiu
como caem árvores sacrificadas
à abundância dos frutos que criaram…
E a primeira mulher que amou e quis
foi sua inteiramente…
E era negra e bela, tal o seu destino!
E ela o acompanhou
como a mais funda raiz
acompanha a flor de altura
que perfuma as mãos cruéis
de quem a arrancou.
………………………………………………………
Foi o primeiro em tudo,
na dor e no amor,
na honra e na saudade,
porque nunca mais voltou…
E nas terras de toda a gente
e de ninguém…
- estranha criatura! –
… foi sua também
a primeira sepultura!
Tacula
– árvore africana de cor avermelhada.
8 comentários:
Belíssimo poema, tão cheio de significado neste momento presente - merece, sem dúvida, que lhe decoremos os versos!
Tocante! também eu tenho um lugar onde não nasci mas é muito meu...
Gostei tanto!
Adorei. Um resgaste aos colonos portugueses de fortíssimo coração que um dia partiram e que tão maltratados e incompreendidos têm sido. Lembro-me logo de amigos meus como a Margarida Castro e o Francisco Gomes da família dos Amoríndeos que também por lá andaram desbravando território com o coração nas mãos. Abraços.
Em nome do poeta, agradeço usando as suas próprias palavras:
Lágrimas de tinta
chora a minha pena
e a minha dor de contar...
Tomaz Vieira da Cruz, um poeta a (re)descobrir.
Abraço!
Tomás
Muito bom o poema Colono de TOMAZ VIEIRA DA CRUZ (1900 – 1960)
Sem dúvida: a homenagem a um poeta que morreu é decorar-lhe os versos!.
Bom ler a sua obra e conhecer a sua ligação com Angola.
Li o poema Colono no http://luis-eg.blogspot.pt/
Obrigada por partilhar sempre o Estudo Geral.
Saudações,
Margarida
Gostaria de parabenizar o Tomás Coelho por esta rúbrica que nos vai revelando vozes injustamente esquecidas pelo cavalgar da história.
O poema hoje aqui revelado é belíssimo.
Ficando cada vez mais rico este nosso Estudo Geral...
Um abraço.
Manuel João Croca
Gostaria de parabenizar o Tomás Coelho por esta rúbrica que nos vai revelando vozes injustamente esquecidas pelo cavalgar da história.
O poema hoje aqui revelado é belíssimo.
Ficando cada vez mais rico este nosso Estudo Geral...
Um abraço.
Manuel João Croca
Gostaria de parabenizar o Tomás Coelho por esta rúbrica que nos vai revelando vozes injustamente esquecidas pelo cavalgar da história.
O poema hoje aqui revelado é belíssimo.
Ficando cada vez mais rico este nosso Estudo Geral...
Um abraço.
Manuel João Croca
Enviar um comentário