Poema
“O Grito”
‘Estava andando pela estrada com dois amigos
O sol se pondo com um céu vermelho sangue
Senti uma brisa de melancolia e parei
Paralisado, morto de cansaço…
… meus amigos continuaram andando - eu continuei parado
tremendo de ansiedade, senti o tremendo Grito da natureza’
Edvard Munch
O grito, Edvard Munch, de 1893, numa técnica de óleo e pastel sobre cartão, 91x73.5 cm |
PEDRO
O Pedro era um homem comum. Todos os homens são
comuns.
Era um homem lúcido, inteligente e sério.
Naquele dia, o Pedro espreitou. A janela estava
fria e branca.
Do lado de fora, mas dentro.
O Pedro ficou gelado.
O Pedro, que era um homem inteligente, lúcido e
sério, sorriu.
Devagar…
Um pouco mais.
Riu. Ruidoso e lúcido. Gelado e branco.
A vida tinha fugido.
Era nada.
Bebeu um copo.
Deitou-se.
E foi.
Não havia dentro.
Cá fora, chamavam a polícia. O Pedro estava louco e
batia furiosamente com a cabeça na parede.
O pai do Pedro tirava fotografias.
Havia lá tanta gente… a ver.
Maria
Teresa Bondoso
4 comentários:
Bom Dia, Teresa e António!
Teresa:
Não acha que é tão ténue esta linha que nos impede de nos tornarmos 'Pedros'? Que impede que a vida nos fuja? E que linha será esta, que ainda nos vai mantendo presos a uma certa lucidez (às vezes!)? Em todo o caso suponho que todos temos em nós um pouco do Pedro porque, como diz o ditado, 'De poeta e de louco, todos temos um pouco!'! Ainda bem?
Quando ao texto, maravilhoso como sempre - dá que pensar, como todos os seus textos, Teresa! Por isso gosto tanto de a ler!
Obrigada!
António:
Cheguei hoje à minha escola e deparei com uma exposição fantástica nos nossos corredores e Biblioteca: trabalhos dos alunos, juntamente com uma série de quadros de que gostei muito (embora ainda não tenha tido tempo de visitar toda a exposição) de uma artista plástica chamada Carmelita Falé! Recomendo-lhe uma visita aos trabalhos dela, que se encontram on-line (verifiquei antes da sugestão) - pode ser que também goste ou, quem sabe, talvez conheça?
Amélia
O sentir vazio é uma coisa terrível.
Mesmo quando se encontram formas belas de o relatar.
Como diria a Sophia de Mello Breyner: "A poesia não se explica, a poesia implica"
Como, aliás, toda a Arte, creio.
Manuel João
Tem gente que morre assim... aos poucos, Outros que nem chegam a nascer, E os que ainda estão a tempo de nunca terem nascido, Vamos lá a gente perceber isto!
Que queda tão mais sem jeito: O Pedro distraiu-se e partiu a cabeça.
E nós?
Abraço.
Eu espero não ser dos que estão lá fora... a ver.
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