VW distribui um
prémio de 7.200 euros aos seus 100.000 Trabalhadores
António CD Justo
Muitos trabalhadores alemães ainda beneficiam da
economia social de mercado, um modelo tendente a desaparecer devido às leis da
EU (União Europeia) que implantam na europa um capitalismo agressivo à medida
do modelo anglo-saxónico.
Na Alemanha, em 2013, mais de 100.000 empregados da VW
recebem 7.200 € como prémio de comparticipação dos lucros da empresa, a acrescentar
ao seu ordenado; em 2011 tinham recebido 7.500 € e em 2006 já tinham
recebido 2.710 €. 10% do lucro operativo da Empresa VW ( 22 mil milhões
de € em 2012) são pagos com prêmio aos trabalhadores. A Audi, em
2011, deu um prémio de 8.000 € aos seus 45 mil empregados; Porsche tinha dado
um prémio de 7.600 € e a Mercedes Daimler 4.100 €. Com a comparticipação dos
empregados nos lucros, a firma reconhece o seu trabalho e motiva o trabalhador
pela positiva. A Troika procura, em nome do euro e com o apoio de governos
incautos, impor à sociedade a abdicação de regalias “standards” duma economia
desenvolvida.
Dólar contra o Euro
Na Europa assiste-se a uma luta desenfreada do
turbocapitalismo anglo-saxónico contra o capitalismo (moderado) do mercado
social.
A Comissão da EU levantou uma acção no Tribunal de
Justiça Europeu (TJE) contra a” lei da VW” que não permite a um accionário ter
mais que 20% dos direitos a voto reservando para o Estado da Baixa Saxônia uma
quota de 20,2 %. Esta quota impede que accionários, só interessados
nos lucros e na exploração da empresa e empregados assumam o senhoreio da
empresa e a explore até à última. Com a acção em tribunal a EU quer destruir um
modelo de economia, contempladora da pessoa, para impor o modelo anglo-saxónico
(actual turbocapitalismo) que considera o operário também como mercadoria.
Os países do sul da Europa tornam-se as maiores
vítimas desta política de mercado que destrói por completo a economia social do
mercado e se demostra radical contra o modelo nórdico de economia (ainda
mais beneficiador das classes operárias).
A economia social de mercado é um modelo económico
sociopolítico que surgiu depois da segunda grande guerra e que pretendia uma
economia competitiva mas de rosto humano baseado na doutrina social da Igreja
(encíclicas sociais que consideram o ser humano como centro da ordem social).
Ao modelo de economia social de mercado também se dá o nome de capitalismo
renano (Rheinischen Kapitalismus) que é uma variante de capitalismo com
rosto humano pretendendo ter uma equidade social o mais justa possível;
contrapõe-se ao modelo anglo-saxónico que assenta em pleno liberalismo e vive
das grandes desigualdades sociais. Assim se salvaguardam os princípios da
solidariedade da subsidiariedade e da Justiça social
O capitalismo renano sentia-se responsável também pelo
bem-comum e reconhecia o ser humano como o ponto central da vida social e
económica. O capitalismo anglo-saxónico vem, através do desvio
da EU favorecer os grandes capitalistas, entre eles também os alemães. O cómico
da situação está no facto de a acção em tribunal, no caso da EU ganhar vir, por
um lado, destruir na Alemanha dos trabalhadores os direitos adquiridos dos
trabalhadores alemães para entregarem a VW à ganância brutal dos grandes
capitalistas internacionais e alemães (tudo à custa dos direitos sociais do
povo. Se a VW perder quererá isso significar que também a Alemanha (se aceitar
a decisão do tribunal europeu) abdica totalmente do modelo da economia social
de mercado.
Com a construção da EU à imagem dos USA, assistimos à
destruição do modelo da economia social do mercado (capitalismo moderado) em
favor dum capitalismo anglo-saxónico feroz.
A EU tem intenção de anular a lei da VW para dar a
possibilidade aos monstros da economia de dominarem empresas e nações, tal como
fazem agora com a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, etc. que não têm
capacidade económica para resistir ao redemoinho capitalista em voga e em que
as suas elites se reservaram um pé-de-meia que brada aos céus, à custa do
bem-comum e dum povo entregue à bicharada.
A luta concertada, a nível da EU (campanhas na opinião
pública), contra o Papado não tem só a ver com as fraquezas do Vaticano mas
especialmente com a tentativa de desacreditação da única entidade global que
sem empenha na defesa duma sociedade justa e ainda tem força para o fazer.
Neste sentido leiam-se também as encíclicas sociais da doutrina social da
igreja católica, que são mais exigentes, na defesa dos trabalhadores que qualquer
ideologia política.
António da Cunha Duarte Justo
1 comentário:
Caríssimo Sr. Professor António Justo
Todo o reconhecimento que possamos expressar pelas suas palavras e todo o conjunto de publicações que aqui nos tem oferecido, todo o reconhecimento por isso, dizia, será pouco e todos os agradecimentos insuficientes, se tivermos em conta que o meu querido Senhor faz um trabalho imprescindível e precioso para um dos lados deste mundo em guerra em que estamos a viver. Eu sei que a sua generosidade de boa pessoa, pessoa boa, já nos esclareceu que, para si, nada mais se trata que dar resposta a um imperativo de consciência; mas ainda assim isso abona a favor do carácter que revela e, mesmo assim, não será isso que nos impelirá a deixarmos de, mais que enaltecer, agradecer um contributo tão decisivo e, por isso, para ele chamarmos a atenção do destaque que amplamente merece.
Mais uma vez o Senhor Professor deixa bem claro que o desmantelamento do(s) modelo(s) de estado social europeu(s) se trata de uma opção ideológica, não de um movimento natural – se assim se pode dizer – dos dinamismos do(s) tecido(s) económico(s), mas antes de medidas políticas que aos poderes têm sido impostas pela(s) lógica(s) de interesses particulares que, numa perspectiva da ganância desmedida, têm vindo a conseguir construir um mundo em que o lucro ilimitado é o paradigma e tudo o mais, as pessoas incluídas, apenas têm o valor de peças dos mecanismos que para tanto concorram, naturalmente em função disso, descartáveis e desconsideráveis a partir do momento em que percam os requisitos para um tal utilidade.
Ora tenho para mim, na minha modesta opinião, é claro, um dos palcos mais importantes em que se joga uma das batalhas dessa guerra – a tal geringonçazinha que, apesar de tudo se continuava a mexer, não é, só que aqui no termo que dá pela luta de classes que é nada mais no consiste essa guerra sobre os povos em que nos vemos envolvidos – é justamente no do plano das ideias e isto porque todas as medidas, todas as políticas que têm sido postas em prática a favor da ganância – agora – organizada, têm sido acompanhadas por numa narrativa de discurso assente em mentiras sucessivas que tem criado uma realidade mais ou menos virtual que vai sendo apresentada às populações como o mundo concreto em que estão vivendo. Pois é isso que o Senhor Professor não só põe em causa, denuncia, desmente, como ainda acrescenta os devidos exemplos comprovativos de que um mundo alternativo é possível. Por muito pouco relevante que possa parecer o eco deste querido espaço de liberdade, por muito insignificante que o mesmo seja, a verdade é que por aqui passam leitores que são pessoas simples, como nós e são aqueles sobre quem afinal são lançadas as bombas deste conflito e, nessa dimensão, sempre estaremos num meio difusor entre aqueles a quem importa estarem despertos para estas verificações e verdades que o Professor António Justo aqui nos traz.
Não há estima bastante, nem agradecimento excessivo para o elevado valor destes seus artigos.
Permita-me que lhe deixe um abraço fraterno, como aquele que se dá entre companheiros de uma mesma luta.
Luís Gomes
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