sábado, 2 de março de 2013

União Europeia contra a Economia avançada do Mercado Social



VW distribui um prémio de 7.200 euros aos seus 100.000 Trabalhadores



António CD Justo

Muitos trabalhadores alemães ainda beneficiam da economia social de mercado, um modelo tendente a desaparecer devido às leis da EU (União Europeia) que implantam na europa um capitalismo agressivo à medida do modelo anglo-saxónico.

Na Alemanha, em 2013, mais de 100.000 empregados da VW recebem 7.200 € como prémio de comparticipação dos lucros da empresa, a acrescentar ao seu ordenado; em 2011 tinham recebido 7.500 €  e em 2006 já tinham recebido 2.710 €. 10% do lucro operativo da Empresa VW ( 22 mil milhões de  € em 2012) são pagos com prêmio aos trabalhadores. A Audi, em 2011, deu um prémio de 8.000 € aos seus 45 mil empregados; Porsche tinha dado um prémio de 7.600 € e a Mercedes Daimler 4.100 €. Com a comparticipação dos empregados nos lucros, a firma reconhece o seu trabalho e motiva o trabalhador pela positiva. A Troika procura, em nome do euro e com o apoio de governos incautos, impor à sociedade a abdicação de regalias “standards” duma economia desenvolvida.

Dólar contra o Euro

Na Europa assiste-se a uma luta desenfreada do turbocapitalismo anglo-saxónico contra o capitalismo (moderado) do mercado social.
A Comissão da EU levantou uma acção no Tribunal de Justiça Europeu (TJE) contra a” lei da VW” que não permite a um accionário ter mais que 20% dos direitos a voto reservando para o Estado da Baixa Saxônia uma quota de 20,2 %. Esta quota impede que accionários, só interessados nos lucros e na exploração da empresa e empregados assumam o senhoreio da empresa e a explore até à última. Com a acção em tribunal a EU quer destruir um modelo de economia, contempladora da pessoa, para impor o modelo anglo-saxónico (actual turbocapitalismo) que considera o operário também como mercadoria.
Os países do sul da Europa tornam-se as maiores vítimas desta política de mercado que destrói por completo a economia social do mercado e se demostra radical contra o modelo nórdico de economia (ainda mais beneficiador das classes operárias).

A economia social de mercado é um modelo económico sociopolítico que surgiu depois da segunda grande guerra e que pretendia uma economia competitiva mas de rosto humano baseado na doutrina social da Igreja (encíclicas sociais que consideram o ser humano como centro da ordem social). Ao modelo de economia social de mercado também se dá o nome de capitalismo renano (Rheinischen Kapitalismus) que é uma variante de capitalismo com rosto humano pretendendo ter uma equidade social o mais justa possível; contrapõe-se ao modelo anglo-saxónico que assenta em pleno liberalismo e vive das grandes desigualdades sociais. Assim se salvaguardam os princípios da solidariedade da subsidiariedade e da Justiça social

O capitalismo renano sentia-se responsável também pelo bem-comum e reconhecia o ser humano como o ponto central da vida social e económica. O capitalismo anglo-saxónico vem, através do desvio da EU favorecer os grandes capitalistas, entre eles também os alemães. O cómico da situação está no facto de a acção em tribunal, no caso da EU ganhar vir, por um lado, destruir na Alemanha dos trabalhadores os direitos adquiridos dos trabalhadores alemães para entregarem a VW à ganância brutal dos grandes capitalistas internacionais e alemães (tudo à custa dos direitos sociais do povo. Se a VW perder quererá isso significar que também a Alemanha (se aceitar a decisão do tribunal europeu) abdica totalmente do modelo da economia social de mercado.

Com a construção da EU à imagem dos USA, assistimos à destruição do modelo da economia social do mercado (capitalismo moderado) em favor dum capitalismo anglo-saxónico feroz.
A EU tem intenção de anular a lei da VW para dar a possibilidade aos monstros da economia de dominarem empresas e nações, tal como fazem agora com a Grécia, Portugal, Espanha, Itália, etc. que não têm capacidade económica para resistir ao redemoinho capitalista em voga e em que as suas elites se reservaram um pé-de-meia que brada aos céus, à custa do bem-comum e dum povo entregue à bicharada.

A luta concertada, a nível da EU (campanhas na opinião pública), contra o Papado não tem só a ver com as fraquezas do Vaticano mas especialmente com a tentativa de desacreditação da única entidade global que sem empenha na defesa duma sociedade justa e ainda tem força para o fazer. Neste sentido leiam-se também as encíclicas sociais da doutrina social da igreja católica, que são mais exigentes, na defesa dos trabalhadores que qualquer ideologia política.

António da Cunha Duarte Justo

1 comentário:

Luís F. de A. Gomes disse...

Caríssimo Sr. Professor António Justo

Todo o reconhecimento que possamos expressar pelas suas palavras e todo o conjunto de publicações que aqui nos tem oferecido, todo o reconhecimento por isso, dizia, será pouco e todos os agradecimentos insuficientes, se tivermos em conta que o meu querido Senhor faz um trabalho imprescindível e precioso para um dos lados deste mundo em guerra em que estamos a viver. Eu sei que a sua generosidade de boa pessoa, pessoa boa, já nos esclareceu que, para si, nada mais se trata que dar resposta a um imperativo de consciência; mas ainda assim isso abona a favor do carácter que revela e, mesmo assim, não será isso que nos impelirá a deixarmos de, mais que enaltecer, agradecer um contributo tão decisivo e, por isso, para ele chamarmos a atenção do destaque que amplamente merece.
Mais uma vez o Senhor Professor deixa bem claro que o desmantelamento do(s) modelo(s) de estado social europeu(s) se trata de uma opção ideológica, não de um movimento natural – se assim se pode dizer – dos dinamismos do(s) tecido(s) económico(s), mas antes de medidas políticas que aos poderes têm sido impostas pela(s) lógica(s) de interesses particulares que, numa perspectiva da ganância desmedida, têm vindo a conseguir construir um mundo em que o lucro ilimitado é o paradigma e tudo o mais, as pessoas incluídas, apenas têm o valor de peças dos mecanismos que para tanto concorram, naturalmente em função disso, descartáveis e desconsideráveis a partir do momento em que percam os requisitos para um tal utilidade.
Ora tenho para mim, na minha modesta opinião, é claro, um dos palcos mais importantes em que se joga uma das batalhas dessa guerra – a tal geringonçazinha que, apesar de tudo se continuava a mexer, não é, só que aqui no termo que dá pela luta de classes que é nada mais no consiste essa guerra sobre os povos em que nos vemos envolvidos – é justamente no do plano das ideias e isto porque todas as medidas, todas as políticas que têm sido postas em prática a favor da ganância – agora – organizada, têm sido acompanhadas por numa narrativa de discurso assente em mentiras sucessivas que tem criado uma realidade mais ou menos virtual que vai sendo apresentada às populações como o mundo concreto em que estão vivendo. Pois é isso que o Senhor Professor não só põe em causa, denuncia, desmente, como ainda acrescenta os devidos exemplos comprovativos de que um mundo alternativo é possível. Por muito pouco relevante que possa parecer o eco deste querido espaço de liberdade, por muito insignificante que o mesmo seja, a verdade é que por aqui passam leitores que são pessoas simples, como nós e são aqueles sobre quem afinal são lançadas as bombas deste conflito e, nessa dimensão, sempre estaremos num meio difusor entre aqueles a quem importa estarem despertos para estas verificações e verdades que o Professor António Justo aqui nos traz.
Não há estima bastante, nem agradecimento excessivo para o elevado valor destes seus artigos.

Permita-me que lhe deixe um abraço fraterno, como aquele que se dá entre companheiros de uma mesma luta.

Luís Gomes