Não sou um bombista nem as suas vítimas na Síria
nem um tibetano a imolar-se por desespero na sua terra
ocupada
Não sou um toureiro, um cavalo ou um touro com o lombo
trespassado
numa arena de sangue, dor e morte
Também não estou na multidão em êxtase que paga para que
isso aconteça
Não sou um especulador financeiro que enriquece com a
miséria das populações
nem um ministro ou juiz que decide a favor dos poderosos
Não sou um cão ou gato abandonado por quem se cansou do
meu amor
nem estou a tremer de medo e angústia num canil de abate
Não sou um porco, uma vaca ou um frango amontoado num
campo de concentração
para oferecer vinte minutos de prazer aos humanos
e intoxicá-los com a minha carne envenenada
Não sou uma mãe separada dos filhos
com as tetas a escorrer pus escrava da ordenha mecânica
para que os humanos bebam o leite que não necessitam e os
faz adoecer
Não sou um deputado pago para esquecer quem o elegeu
nem um primeiro-ministro ou presidente a vender o seu país
aos senhores do mundo
Não sou um rato torturado e aberto em vida para que a
ciência conclua que sofro
nem estou a ser morto à pancada para me retirarem a pele
ainda vivo
Não sou um tigre nascido para a selva a definhar triste
atrás de umas grades
um elefante espicaçado para mostrar habilidades
ou uma ave com asas de lonjura engaioladas
Não sou pago para veicular mentiras na rádio, tv e jornais
nem sou administrador, director ou accionista de empresas
que lucram com o trabalho escravo de mulheres, homens e
crianças
Não sou um médico ao serviço da indústria farmacêutica
nem um profissional da alienação das consciências
Não sou uma mãe a ver os filhos despedaçados por mísseis
ou violados e mortos à sua frente
Não sou o presidente, o ministro ou o general
que no conforto do gabinete ordena o inferno para os
outros
Não trabalho para empresas ávidas de lucro que poluem,
devastam e destroem o planeta
que pertence igualmente a todos os seres vivos
e às gerações futuras de humanos e não-humanos
Não trafico drogas nem ilusões
e não vendo receitas de felicidade
Não pertenço nem quero pertencer às corporações dos
senhores do mundo
ocultos na sombra a mudar governos e manipular povos como
marionetas
Não sou um terrorista camuflado nem engravatado, com
armas, ideologias ou planos económico-financeiros
nem um eleitor que confunde a democracia com votar de vez
em quando
e não ter controle sobre quem elege
Não sou também um activista que sucumbe ao ódio e ao
desespero
e envenena as causas que defende
com a violência que lhe estreita a mente e devora o
coração
Não, não sou nada disto
Não sou ninguém especial
Apenas alguém que pode reconhecer a imensa liberdade e
oportunidade de que agora mesmo desfruta
para apreciar a vida sem esquecer o sofrimento do mundo
e concentrar-se no essencial enquanto há energia e a morte
não chega:
despertar a mente e o coração
e tudo fazer para expulsar a ignorância, o sofrimento e o
absurdo da face da Terra
Sim, é isso que sou
Sim, é isso que és
e connosco a grande maioria dos humanos:
sementes de um Mundo Novo
Juntemo-nos e germinemos pois!
Paulo Borges
25 de Fevereiro de 2013
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