Informação que apela
à Lágrima e ao Sentimento
António Justo
Acabo de regressar de Portugal com uma certa
melancolia pela beleza e riqueza dum país que sofre no corpo e na alma como um
canino amarrado a uma casota de raposas e predadores. O medo e a raiva assolam
um povo a viver cada vez mais na rua, sem poder entrar em casa.
O povo ainda anda de pé mas é conduzido pela mão da
Troika e de instalados nas diferentes administrações e representações que o
conduzem docemente ao curral dos senhores. Muitas pessoas “vivem da mão para a boca” e muitas outras na
angústia/revolta perante um Estado que cada vez interfere mais negativamente na
sua vida. Apesar da presença de personalidades sociais responsáveis a dignidade
humana cada vez é mais ultrajada.
Fomenta-se uma mentalidade mafiosa que, a nível de discussão
pública, deita achas para a fogueira duma emotividade que ofusca a razão com o
fumo de sentimentos difusos que vão da raiva ao desespero e da inveja ao
racismo. Um Estado sem rumo próprio segue uma política subterrânea jacobina que
ganhou especial expressão em Portugal com as invasões francesas e com o
republicanismo.
A luz do sol e a alegria de viver encontram-se cada
vez mais ensombrados. A falta de esperança leva a dormir e torna-se motivo do
não viver.
A grande cultura lusa sofre e é depauperada por uma
Comunicação Social que fomenta o miserabilismo popular e a leviandade de muitos
comentadores cínicos e convencidos que se aproveitam dum certo voyeurismo e de
opiniões entumecidas como se opinião e realidade fossem a mesma coisa.
Muitos locutores do dia-a-dia agarrados às banalidades
noticiosas bombardeiam o povo com ideias, imagens e sentimentos repetitivos
lisonjeadores de amigos e desrespeitadores de inimigos. Fomenta-se um pessimismo amedrontador que inibe a
própria iniciativa e o espírito de investimento.
Como sanguessugas, até os meios de comunicação social
nacionais se fixam no negativismo de notícias dirigidas ao sentimento. Quando
alguém se enforca logo se juntam os leões e as hienas à volta de imagens e
ideias que fomentam a imitação. A TV pública fala de suicídios do foro privado
e faz render o peixe, como se se tratasse de suicídios de motivação política
realizados dentro da sala do Parlamento. Cultiva-se o extremismo emocional e um
voyeurismo que se alonga nos telejornais até às profundezas dos canais de
rádio. As coisas são repetidas até à exaustão.
Observam-se controlos da ASAE a restaurantes e
empresas como se fossem mandatados por estrangeirados sem consciência pela
realidade local com um comportamento anti-regionalista ao serviço de interesses
centralistas anónimos e antinacionais.
Um sistema político servidor de interesses individuais
e partidários a nível nacional e de autarquias continua a servir o compadrio da
avalanche dos arrivistas criando postos de trabalho na administração quando não
há trabalho suficiente para os já empregados. Uma mafia de rosto lavado dos
lugares cimeiros de Câmaras e administrações procura desestabilizar os seus
subordinados criando um clima de medo, desconfiança e intriga entre os empregados.
Arrasta-se o povo para um pessimismo medroso e
amedrontador. Num ambiente de tudo contra todos, tudo tem razão, predadores e
subjugados; só uma coisa falta: a consciência de responsabilidade nacional.
A contestação social mais que objectiva, é, muitas
vezes, manipulada por grupos que vivem de mordomias à custa do povo, sejam eles
representantes dos trabalhadores ou dos senhores. Um exemplo disto foi a última
greve ferroviária que pretende manter bilhetes gratuitos para os familiares dos
empregados. Naturalmente que todos os grupos têm direito a defenderem os
próprios interesses; o dilema de Portugal é encontrar-se nas mãos duma esquerda
intransigente e de senhores e capitalistas sem alma social nem nacional.
O último sintoma do estado doentio grave e depravado
de quem tem o dizer em Portugal, foi o facto José Sócrates, que deveria estar
sob observação judicial, aparecer como candidato a comentador político nos
canais da TV pública. Um atrevimento que bradaria aos céus numa sociedade
normal! A tal falta de discernimento chegou um povo! A honra dos predadores
é legitimada com a desonra da nação. Os interesses partidários afirmam-se
mafiosamente sem que haja oposição qualificada. Com esta iniciativa, José
Sócrates pretendia aproveitar-se da lorpice da Comunicação Social para se
preparar para as presidenciais.
No meu belo e inocente país os predadores são os
senhores!
António da Cunha Duarte Justo
1 comentário:
Por muito engenhosa que seja a poluição mediática interesseira, a realidade da situação portuguesa está bem visível para qualquer olhar atento e solto das amarras dos interesses que nos atolaram na miséria que o Senhor Professor tão causticamente descreve.
Bem haja por mais este momento de lucidez e pela generosidade de o partilhar connosco.
Um abraço fraterno,
Luís Gomes
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