sexta-feira, 14 de junho de 2013

A Losna ou Absinto


por Miguel Boieiro


O vizinho Manel Alves, causticado pelas asperezas da vida, socorria-se das tisanas para tratar quase todas as enfermidades que afluíam regularmente a si e aos familiares. A sua planta favorita era a losna que insistentemente recomendava para os transtornos do estômago e do fígado. Também denominada absinto ou erva-santa, tal planta é conhecida desde a lonjura dos tempos, encontrando-se mencionada em todos os tratados botânicos antigos. Os egípcios chamavam-na “a mãe de todas as ervas”, sendo famosa na época dos gregos, dos romanos, no império árabe e na Idade Média. Hoje, após algumas vicissitudes, encontra-se bastante esquecida, face à panóplia de remédios da farmacopeia de síntese.

O meu estimado amigo e distinto investigador botânico, Dr. Valdemiro Gonçalves Pereira trouxe-me, a meu pedido, da sua quinta de Aidos da Vila (Anadia) um vasinho com uma pequena losna que agora medra viçosa no meu quintal. Vou ver se a consigo conservar porque se trata de uma planta de múltiplas aplicações, como iremos ver.

A Artemisia absinthium L é uma asterácea do género das artemísias que engloba para cima de 180 espécies. Nativa das regiões temperadas da Europa, Ásia e norte de África, esta herbácea perene tem rizomas lenhosos e cheiro intenso característico. As suas folhas são verde-acinzentadas, alternas e recortadas, que se desenvolvem em espiral. Ficam cobertas por pequenas penugens prateadas e têm pecíolos que vão diminuindo de tamanho consoante a altura, até se tornarem completamente sésseis nos cimos. As flores, pequenas e tubulares, de amarelo-pálido, são anemófilas (polinizadas através do vento) e os frutos formam aquénios cilíndricos que não excedem os 0,5 mm de diâmetro.

A losna contém silício, tanino, caroteno, resina, mucilagens, vitaminas B6 e C, ácido málico, princípios amargos de que os principais são a absintina e a anabsintina e um óleo essencial denominado tuiona que, sendo puro, é altamente venenoso, inibindo até a capacidade de respirar.

Propriedades terapêuticas: estomacal, vermífuga, abortiva, antidiabética, antidiarreica, febrífuga, hepática, combatente do enjoo, afrodisíaca, psico- estimulante, desobstrutiva do fígado e do baço, artrítica, anti dores menstruais, desintoxicante, etc.
O “chá” de losna (10 g que se deitam num litro de água a ferver e se deixa repousar 15 minutos) é ideal para a falta de apetite, digestões difíceis, flatulências, e bom funcionamento do fígado, sendo também um tónico para o sistema nervoso e a fraqueza. Toma-se uma chávena três vezes ao dia durante duas semanas. Se forem ultrapassados os 30 dias, a tisana pode acarretar consequências nefastas porque a losna contém elementos tóxicos que se tornam ainda mais venenosos com a habituação.

O “vinho” ou “tintura” prepara-se do seguinte modo: macera-se 40 g de ramos floridos de losna em 30 g de aguardente durante 5 dias. Junta-se, a seguir, 1 centilitro de vinho branco seco e deixa-se em repouso durante mais 5 dias. Filtra-se a mistura e guarda-se o líquido numa garrafa bem rolhada. Toma-se um cálice antes das principais refeições, para combater a falta de apetite, ou depois das comidas, para ajudar a digestão.

Tanto num caso, como no noutro, jamais se deve juntar açúcar pois, para além de ele nada adoçar, torna as bebidas insuportavelmente enjoativas.

Refira-se ainda que o Dr. Lyon de Castro, no seu compêndio “Medicina Vegetal”, acentua que o absinto é planta muito amarga e tóxica e que preparações que levem absintina, só por indicação médica devem ser seguidas.

Mas a maior fama do absinto vem-lhe de um licor narcótico fortemente alcoólico, também chamado vermute (designação em língua alemã), usado e abusado pelos artistas (poetas, pintores, filósofos …) nos fins do século XIX e princípios do século XX. Diziam que tal bebida era a “fada verde” que estimulava a criatividade mas que também poderia levar à loucura. Havia vários rituais para preparar o absinto a que chamavam o “destilado esmeralda”, devido à sua bonita cor. Todavia ele gerava alucinações e o seu fabrico e comercialização acabaram por ser proibidos em vários países, pois danificava de forma violenta a saúde de quem o ingeria. Há muita literatura sobre a relevância histórica destas matérias ligadas a grandes vultos das artes que, por economia de tempo e de espaço, não irei detalhar.


Finalmente, não poderia deixar de referir a mais-valia do absinto ou losna para o modo de produção em agricultura biológica. Com ele se prepara um chorume muito eficaz como inseticida para pulverizar as hortas e assim eliminar piolhos, pulgões, gorgulhos e outros insetos nocivos. Plantado nas proximidades de certas hortícolas (não todas) tem um efeito inibidor à indesejável proliferação de plantas adventícias infestantes.



10 comentários:

luis santos disse...


Caro Miguel,

Muito bom este seu texto. Muito obrigado por mais esta lição. Estas plantas que curam, milagres da criação, são muito boas de conhecer. Aquilo de que elas são capazes...

Grande Abraço.

Unknown disse...

Boa tarde,

gostei mto do seu post, e acho que para quem quer iniciar um horta biológiva tem toda a vantagem em ter esta planta por perto.
Sabe-me dizer onde posso comprar a planta ou sementes?
Obrigada e cumprimentos,

Ana Sofia Cardoso

Miguel Boieiro disse...

Tenho uma no meu quintal. Talvez lhe consiga arranjar uma podas na altura própria (princípio do inverno)

Alexandre Azinheira disse...

Olá, por favor informe-me onde posso comprar esta erva. O meu pai está com um cancro e li que uma infusão pode ajudar. O meu email: alexandreazinheira@mac.com obrigado

Unknown disse...

ola boa noite,pode-me informar onde posso comprar LOSNA em sementes ou em planta... obrigado

cristina disse...

Olá boa tarde!
Tenho uma familiar com cancro e se que a artemisia/losna pode ajudar. Onde possos adquirir?
O meu contacto: cristina.s.guerreiro@gmail.com. Obrigada

estudo geral disse...

Aconselho a usar a losna verde. Deve procurá-la num viveirista e não numa ervanária.
Os efeitos eventualmente positivos dependem da compatibilidade entre o doente e a respetiva planta.
Abraço!

Miguel

darkholz disse...

Boas Miguel

Não consigo encontrar nenhuma ervanária que tenha esta erva. Pode-me sugerir alguma? Sei que esta erva é bastante boa para ulceras gástricas.

Obrigado

Anónimo disse...

Bom Dia,

Gostava de saber onde consigo comprar essa erva ou chá. É urgente !!

Obrigada
Sandra Vicente
sandra.vicente1@sapo.pt

Anónimo disse...

Ola boa noite, querendo ajudar esta erva pode ser encontrada, na ervanaria angolana fica em lisboa qualquer duvida sobre a localizacao é so pesquizar o site ou no google maps beijinhos gosto em ajudar!