Camões, Júlio Pomar, 1989
Acrílico sobre Tela, 195x130cm
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Uma história sobre esta peça
Este quadro foi adquirido a Júlio Pomar, por 50 mil
euros, quando Vasco Graça Moura dirigia a Comissão dos Descobrimentos, ficando
na posse do CCB.
Foi dado como desaparecido em Setembro de 2003, quando a
Presidência da República solicitou ao Ministério da Cultura a sua cedência, a
fim de ser integrado numa exposição de Arte Portuguesa.
Um inquérito interno ao
caso terminou meses depois sem que a obra tivesse sido localizada,
conseguindo-se apenas apurar que fora vista pela última vez em público em Junho
de 1994, numa exposição em Paris, tendo sido entregue ao CCB três meses depois.
Nos dois anos seguintes, surge listada em documentos internos, mas após 1996
não há mais informações sobre a sua localização no acervo.
Sobre as conclusões do
inquérito, em Janeiro de 2004, o semanário “Expresso” noticiava que a directora
do centro de exposições, Margarida Veiga, sublinhava que “não era possível
assegurar a total inviolabilidade das reservas” do CCB.
A Polícia Judiciária acabaria por incluir o quadro na
lista de obras de arte furtadas de colecções públicas.
Depois de dado como desaparecido durante quatro anos, o
Centro Cultural de Belém anunciou ter encontrado no seu acervo o quadro de
Júlio Pomar.
Camões tem um instinto de sobrevivência a toda a prova!
António Tapadinhas
O psicopata
Não sei em que pais
vive o dito Gaspar. Talvez um país habitado por gnomos, fadas, ministros
alemães e jogadores do Benfica. Ou por sujeitos de fato e gravata que emergem
dos carros e mergulham nas garagens e nos gabinetes e daí para os hotéis e
condomínios fechados, ou os aviões, e nunca encontram gente. Dessa que paga
impostos, taxas e contribuições de solidariedade para ajudar as pessoas que
precisam, ou seja, eles mesmos entre outros. Não me chateia que o Benfica perca
jogos, nem por solidariedade com o dito Gaspar, chateia-me que quando vou
arrumar o carro venha não o arrumador do costume, um chunga a fazer pela vida,
e sim um reformado. Um velhote, uns são mais tesos do que outros, que fica
agradecido pelo euro e dá um grande bom-dia em troca. Conviria mandar para cima
destes trocos uma taxa de arrumação gratuita, ou colocar os jovens da EMEL, a
ganhar à multa, viva o empreendedorismo, a multar os arrumadores reformados.
Fica aqui a ideia. E podem acrescentar os porteiros, guardas, choferes, moços
de recados e ajudantes com mais de 75 anos. Há muitos. Chateia-me a
senhora que amanhece no néon da costuraria, agora chamada de retoucherie por
todos os centros comerciais, e que me diz que nunca sabe se vai ter ordenado.
Teria idade para estar reformada mas enquanto existirem óculos de ver ao perto,
devidamente não comparticipados, ao contrário do pacemaker grátis do homem mais
rico de Portugal, que ficou chocado por o sistema nacional de saúde lho
oferecer, oh indignação oh abominação, mas não se lembrou de devolver o
dinheiro ou doá-lo ao hospital. Conviria verificar se a costureira ganha o
salário mínimo, porque o salário mínimo, na opinião do dito Borges, é
demasiado. Quem quer bons salários vai fazer consultoria de privatizações e não
corte e costura. Empregos de mulheres ociosas. A costura, não a consultoria. Na
caixa do supermercado estou sempre a ver caras novas nos mesmos dias da semana,
ou seja, ou têm empregados a mais ou têm contratados a menos. É um emprego com
grande agilidade e mobilidade, ninguém fica por ali a aquecer o lugar. Será
como noutras lojas em que os empregados trabalham seis meses e a seguir são
despedidos e vem uma nova leva, fresca e prontinha a ser despedida? Chateia-me
o miúdo de 20 anos que guiava o táxi e disse que trabalhava de noite para ver
se conseguia continuar a estudar de dia. De noite, era mais perigoso. O que
lhe fazia impressão era transportar a malta da idade dele que andava pelo
bairro a divertir-se, miúdos e miúdas mais ricos, alguns embriagados, que nem
o viam nem viam a idade dele. Se eles soubessem como gostaria de não estar ali,
àquela hora, ao volante de um carro de aluguer.
O Gaspar e os que o
acompanham, com os seus mestrados de luxo, chamam a isto falta de iniciativa,
ser pobre. Não é, é só falta de dinheiro. Nunca ninguém se lembrará de convidar
um pobre para falar sobre a pobreza num seminário da universidade. São sempre
os ricos, os abastados, os privilegiados, que falam em nome deles. Que escrevem
tratados e compêndios em nome deles. Que inventam a solidariedade em nome
deles, mas não a solidariedade que o Gaspar nos pede por causa da derrota do
Benfica, outra. E ficam agastados quando o pobre não é virtuoso e agradecido e
quer gastar dinheiro nas mesmas coisas que um rico, sei lá, um concerto ou uma
viagem. Chateia-me a gente de olhos baixos. A gente de olhos mortos, que espera
cansada por qualquer coisa que não se vai materializar. A gente que teme pelos
pais e pelos filhos, e que vive amedrontada. A gente carimbada como
excedentária, parasitária, protozoária. A gente pária. Perdulária. Portugal
resolvia-se se tivesse menos cinco milhões de pessoas e se os reformados,
funcionários públicos envelhecidos, doentes com doenças exorbitantes, desempregados
e outros subsidiados e excluídos, jovens com sonhos de educações superiores,
simplesmente desaparecessem morrendo ou emigrassem vivendo. Se metade da
população portuguesa fosse dizimada pela peste isto resolvia-se.
Reconvertia-se. Sobreviviam os empreendedores, os filósofos do empreendimento,
os financiadores e financeiros, os teólogos da austeridade e respetívas
famílias, mesmo velhas e excedentárias, as grávidas, os católicos e demais
religiosos reprodutivos, os funcionários superiores e os consultores. E seus
assessores. E os jogadores do Benfica que comovem o dito Gaspar. Mais meia
dúzia de artistas oficiais patrocinados e restauradores da confiança nacional.
Com os banqueiros e os grandes industriais e retalhistas. As pequenas e médias
empresas não falidas, porque o país está em processo de… reconversão.
Ajustamento. Consolidação. Estas coisas da reconversão são como os filmes de
Hollywood, acabam sempre bem. O mesmo não se dirá dos jogos do Benfica.
1 comentário:
Sim, naquele desenho barbado consegui reconhecer o Camões. Mas percebo perfeitamente que o acervo do CCB tenha perdido a localização do quadro. Afinal, foram só 50 mil euros...
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