Cenáculo, Autor António Tapadinhas Díptico, Acrílico sobre Tela 2x60x100cm |
Pormenor
Pormenor
Cenáculo, nome dado à sala, à reunião, em que
Jesus Cristo celebrou a ceia. Por ext.
Reunião qualquer de pessoas
unidas para um fim comum, especialmente sociedade ou grémio literário.
Quando um casal meu amigo me convidou para almoçar porque
queriam falar comigo sobre um assunto importante, não fazia ideia de qual seria
o tema da conversa. Durante o almoço foi crescendo a minha curiosidade que,
finalmente, foi saciada na hora dos cafés. Tinham um espaço nobre da casa, que
queriam preencher com uma obra minha. Deixavam ao meu critério todos os
pormenores: cor, técnica, estilo, tamanho... Aceitavam qualquer sugestão porque
confiavam em mim...
Se não fossem meus amigos, a partir desse momento ficaria a considerá-los como tal: depositar no meu critério o preenchimento dum espaço do seu lar, com que iriam conviver para o resto da sua vida, mais do que uma prova de amizade, é uma prova de amor...
Se não fossem meus amigos, a partir desse momento ficaria a considerá-los como tal: depositar no meu critério o preenchimento dum espaço do seu lar, com que iriam conviver para o resto da sua vida, mais do que uma prova de amizade, é uma prova de amor...
…
Quando a tela ficou completa combinámos a
entrega da obra, com a sua instalação no local onde iria morar. Pedi aos meus
amigos que fossem brincar com o seu belo cão para o jardim enquanto eu colocava
o díptico. Podem imaginar (se calhar não podem!) a minha angústia expectante
quando eles voltaram para ver pela primeira vez a obra no local escolhido. Eu
fiquei em êxtase com a sua reacção, talvez por contágio...
…
…
A Beleza reside no mundo das ideias e o Belo
é identificado com a perfeição, com a verdade. A partir da beleza emanada por
uma obra podemos chegar à beleza superior do Homem.
Uma vez por outra, é bom esquecer imperfeições...
Uma vez por outra, é bom esquecer imperfeições...
António Tapadinhas
Aí vai um texto que acabei de escrever, até a
propósito do que senti ontem no jantar do 100 Espinhas – 23.º Jantar Poético
(Teresa Bondoso)
JANTAR
No princípio não se ouviam as vozes mais altas e todos eram certos e perfeitos. As senhoras sorriam. Um pouco comedidas, talvez. Os homens olhavam, curiosos e silenciosos.
Todas as mesas tinham pessoas diferentes. Diferentes umas das outras e mesmo entre elas.
Todas as mesas tinham pessoas diferentes menos uma.
Nessa, estavam dois homens que riam… sem sorrir.
No princípio não se ouviam as vozes mais altas e todos eram certos e perfeitos. As senhoras sorriam. Um pouco comedidas, talvez. Os homens olhavam, curiosos e silenciosos.
Todas as mesas tinham pessoas diferentes. Diferentes umas das outras e mesmo entre elas.
Todas as mesas tinham pessoas diferentes menos uma.
Nessa, estavam dois homens que riam… sem sorrir.
E uma mulher zangada… que
sorria.
Vejo um grupo
grande de pessoas. Estão sentadas à mesa, a jantar.
Os que não estão a jantar estão a servir os que comem à mesa. Penso que se calhar já comeram ou então ainda vão comer. Eu sou dos que estão sentados.
A mesa dos homens que riram sem sorrir e da mulher que sorriu zangada, foi a única mesa igual, embora tivesse sido uma mesa diferente das outras mesas. E foi diferente porque tinha pessoas iguais. As pessoas iguais que estavam naquela mesa diferente, julgavam-se o máximo. Achavam que os outros eram todos menos do que elas… achavam que sabiam muito… achavam até que faziam muito… achavam que o povo isto e o povo aquilo. E disseram palavras muito certas com olhares que tinham pouco.
Naquela mesa sentou-se um grupo grande de pessoas pequenas.
A mim, meteram-me medo.
Mas não foi um medo como o medo normal de quando estamos com medo.
Eu não tenho medo de muitas coisas. É que algumas já as sei de dentro… e as outras não são de ter medo.
Dizem que no meu bairro é perigoso andar à noite. E é.
Mas eu já tive medo muitas vezes do meu bairro e por isso já não tenho. É que o medo das coisas incertas passa com o tempo.
Mas as pessoas pequenas apontam-nos nas certezas. Julgam-se o máximo. Acham que os outros são todos menos do que elas… acham que sabem muito… acham que fazem muito… e se calhar até fazem. Mas dizem palavras muito certas com olhares que têm pouco.
A mim, metem-me medo.
Dizem-me que as ignore, ou que as compreenda, ou até que as ame. E eu tenho medo de não ser capaz.
Os que não estão a jantar estão a servir os que comem à mesa. Penso que se calhar já comeram ou então ainda vão comer. Eu sou dos que estão sentados.
A mesa dos homens que riram sem sorrir e da mulher que sorriu zangada, foi a única mesa igual, embora tivesse sido uma mesa diferente das outras mesas. E foi diferente porque tinha pessoas iguais. As pessoas iguais que estavam naquela mesa diferente, julgavam-se o máximo. Achavam que os outros eram todos menos do que elas… achavam que sabiam muito… achavam até que faziam muito… achavam que o povo isto e o povo aquilo. E disseram palavras muito certas com olhares que tinham pouco.
Naquela mesa sentou-se um grupo grande de pessoas pequenas.
A mim, meteram-me medo.
Mas não foi um medo como o medo normal de quando estamos com medo.
Eu não tenho medo de muitas coisas. É que algumas já as sei de dentro… e as outras não são de ter medo.
Dizem que no meu bairro é perigoso andar à noite. E é.
Mas eu já tive medo muitas vezes do meu bairro e por isso já não tenho. É que o medo das coisas incertas passa com o tempo.
Mas as pessoas pequenas apontam-nos nas certezas. Julgam-se o máximo. Acham que os outros são todos menos do que elas… acham que sabem muito… acham que fazem muito… e se calhar até fazem. Mas dizem palavras muito certas com olhares que têm pouco.
A mim, metem-me medo.
Dizem-me que as ignore, ou que as compreenda, ou até que as ame. E eu tenho medo de não ser capaz.
Um dia, talvez as
possa mudar de mesa.
Teresa Bondoso
31 de maio de 2013
Teresa Bondoso
31 de maio de 2013
18 comentários:
António
Com esse tamanho na pintura as letras na coluna da direita vêm-se mal.
Abraço,
Luís
Bom Dia Teresa e António!
Teresa:
Já há algum tempo que só tenho dois compartimentos onde 'colocar' pessoas: o compartimento dos que amo e o compartimentos daqueles que me são indiferentes. O que resulta na perfeição, porque assim não há medos nem 'ódios de estimação'! É claro que tu estás no primeiro compartimento :)))
António:
A única coisa que me ocorre dizer é que também tenho lá por casa umas paredes vazias... não sei cozinhar, mas faço umas boas sangrias e o café também não é mau de todo! E como hoje não preciso de explicação adicional, fico-me por aqui com um Adorei!
Beijinhos aos dois!
Luís: Já corrigi para o tamanho médio. Obrigado.
Abraço,
António
Amélia Oliveira: Este mês vou passar uns dias a Portimão.
Vamos ter oportunidade de comer umas pizzas, na Pizzaria Smile, que tem um ingrediente único: a pintura de António Tapadinhas nas suas paredes.
Valeu?
Beijo,
António
Valeu! Fico à espera...
Bj
O texto ficou um bocadinho pintalgado, mas a pintura mais bonita, sem dúvida e abraço.
Boa tarde caros realistas, irrealistas e surrealistas, vivam!
Gosto muito do "Cenáculo" e o contexto em que foi concebido e executado parecem-me perfeitos: liberdade total e expectativa positiva.
Provavelmente haverão sempre pessoas que nos provocam sensações desagradáveis mas, o que vale, é que também haverão outras que nos transmitem sensações de pólo absolutamente contrário que nos deixam optimistas e acrescentados.
Nada a fazer, é a vida.
Abraços,
Manuel João
MJC: Temos de mudar de vida...
Abraço,
António
António:
E haverá vidas que estejam absolutamente salvaguardadas de se cruzarem com energias negativas?
Até pode haver mas eu duvido, e muito.
Abraço,
Manuel João
Subscrevo. A gente sempre tenta as positivas, mas as negativas também cá estão, não é?
Mudar de vida, sim, mas como?
100 Abraços?
Acho que se muda de vida, mudando. Podemos sempre optar pelo que a pintura invoca ou pelo que o texto revela. Aí estará a solução... em fazer a opção mais certa.
Senhores (António, MJC e Luís Santos),
Considero-vos responsáveis por hoje não me ter saído da cabeça a canção do António Variações 'Muda de Vida' (versão Humanos) durante todo o dia, graças aos vossos comentários. Assim sendo - e porque já estou tão farta de a ter na cabeça- aqui fica um bocadinho da letra, para ver se vos acontece o mesmo... 'à laia' de vingança :)
'Muda de vida se
tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás
sempre a tempo de mudar
Muda de vida, não
deves viver contrafeito
Muda de vida
se há vida em ti
a latejar
Ver-te sorrir
eu nunca te vi
E a cantar
eu nunca te ouvi
Será de ti
ou pensas que tens
que ser assim?'
Abraços e Sorrisos!
Amélia
Amélia: Para mudar a música, experimente esta de José Mário Branco:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís de Camões
Cara Amélia, também tenho uma canção dessas que não saem da cabeça, e que vai e volta quando quer. Desta vez só vou deixar a 1ª quadra, porque poderia ser mal entendido. E diz assim:
Esse papo seu tá qualquer coisa
Você já está p'ra lá de Marraquexe
Mexe qualquer coisa dentro doida
Já qualquer coisa doida dentro mexe
(...)
E siga a música!
Pois é, Luís, uma 'chatice' quando as canções ganham vida própria e entram e saem das nossas cabeças quando querem e muito bem lhes apetece - mas essa do Caetano é muito bonita, por isso podes dar-te por feliz - digo eu!
A do José Mário Branco também é boa - mas espero que nenhuma delas me 'assombre' amanhã, uma vez que gosto de ser eu a escolher as minhas 'bandas-sonoras' :)
Abraços!
Grandes vontades de mudanças aqui pelo blog. E também bandas sonoras, letras de canções.
Então vou também partilhar a letra de uma canção que hoje já ouvi pelo menos três vezes.
Apenas porque me apeteceu. Chama-se
Para não dizer que não falei das flores (Geraldo Vandré)
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Nas escolas nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam uma antiga lição
De morrer pela pátria e viver sem razão
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais braços dados ou não
Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.
Vem, vamos embora, que esperar não é saber,
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Link: http://www.vagalume.com.br/geraldo-vandre/pra-nao-dizer-que-nao-falei-das-flores.html#ixzz2VINKg5V6
MJC: Estive a ouvir o som das flores a crescer...
Há tanto tempo que não me acontecia!
E gostei!
Abraço,
António
Que bom António, a sensação replicou-se.
Fico feliz com isso.
Abraço.
Manuel João Croca
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