domingo, 9 de junho de 2013

 
FANTASIA
 
Sei que há flores que só se abrem de noite. Descobri que é verdade pelo perfume que exalam, e que detectei inadvertidamente quando caminhava ao luar por ruas calcetadas mergulhadas em silêncio. As narinas farejaram e a alma foi atrás. Desaguou exangue numa praia que existe e é real.
 O violoncelista cagou prá banda e solou o quanto quis. Quem escutava por escutar e só queria um final feliz com concordância na sonoridade blasfemou: «Grande merda!!!»
Eu ouvi, calei e sorri. Pensei: «Grande curte!!!»
Que coreto querias tu?
Mas que noite feita manhã.
 
Manuel João Croca
 
 
Foto: Edgar Cantante

4 comentários:

Unknown disse...

Grande curte!!! Li, calei e sorri. Muito bom, Manuel João. Este fica comigo onde as minhas noites se fazem manhãs - no lugar das palavras.

MJC disse...

Boa tarde Teresa.

De facto, normalmente é assim com as fantasias.
Calam-se.
Depois talvez se revelem, mais tarde, um dia, numa crónica, num conto ou num poema ou então fiquem eternamente a voar soltas na mente.
Um abraço.

Manuel João Croca

luis santos disse...

Prosa poética, trechos curtos, de grande beleza literária. Um género a aprofundar.

Como diria mestre caetano "...cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."

Abraço.

estudo geral disse...

Amigo Luís, viva!

Outra vez mestre Caetano a marcar a subjectividade que não necessita de se explicitar.

Creio que, quando ele souber que nos acompanha tanto, ainda há-de querer aqui vir, à velha terrinha, para disfrutar.

Sendo absolutamente pacífica e apoiada a constatação enunciada no teu post pela voz do mestre e nosso amigo, talvez não seja essa a gradação que a balança se propõe pesar desta vez.

Talvez seja apenas a ratificação e aceitação das diferentes apreciações de um mesmo acontecimento.

"grande merda" versus "grande curte" ninguém se preocupará em decidir em qual votar.

Será mais como dizia o Gedeão:

"Vê moinhos?
São moinhos!
Vê gigantes?
São gigantes!"

E viva o livre arbítrio.

Abraço.

Manuel João