Hyde Park, André Derain, 1906Óleo sobre Tela, 66x99cm |
DOIS
LADOS
Ele olhava-a carinhosamente.
Sentia-se feliz por estar ali, e as
suas mãos, aquecidas pelo sol – ou talvez pelo amor – afagavam levemente a
toalha.
Amava profundamente aquela mulher
As nuvens desenhavam flores no céu e a areia
da praia brilhava como quem brinca às cidades de luz. A espuma branca do mar
tocava as mãos da mulher e sussurrava segredos de amantes. O vento
acariciava-lhe o rosto e, pelo calor das palavras contidas, pintava nas faces
um rubor encantado.
Amava-a profundamente.
O banco de madeira recortava a
paisagem e deixava marcada por dentro dos olhos uma imagem de corpos entregues
ao cansaço delicioso do amor já feito. A pele macia tocava-lhe – apenas – as
mãos e deixava a eternidade naquele instante de tempo.
Sentados lado a lado, adivinhava-se o
amor.
Ela olhava-o com impaciência.
O calor estava a tornar-se
insuportável e ele não parava de mexer na porcaria da toalha.
Que homem detestável e
desinteressante.
Para piorar a situação, parecia estar
prestes a cair uma daquelas chuvadas…
Gelava-lhe o vento as mãos cansadas de
evitarem o toque da espuma cinzenta e suja trazida pelo mar revolto da tarde.
Perto dali, via-se um banco de madeira
velho, feio e sujo. Nele, sentado, estava um homem completamente bêbado que
vomitava uma mistela vermelha cujo mau cheiro apenas se assemelhava ao do homem
que a acompanhava naquela tarde de azar.
O seu corpo reagiu instintivamente ao
cheiro pestilento dos dois homens e afastou-se, sem, no entanto, conseguir
evitar um ligeiro toque entre os dois corpos – o dela e o daquele homem
detestável e desinteressante a quem um dia tinha jurado amor eterno.
Um arrepio de nojo tingiu-lhe de
vermelho a cara e a alma.
3 comentários:
Penso que há uma repetição no texto publicado que não é para existir.
Teresa Bondoso: Não era quatro lados?
:)
Não sei como aconteceu. Os insondáveis mistérios do computador...
Para além do mais, os nossos leitores percebem logo à primeira! As minhas desculpas!
Beijo,
António
Bom dia Teresa e António!
Teresa: Muito Bom, como sempre são os teus contos. Os momentos em que te leio são sempre especiais, porque é um prazer enorme ler amigos que produzem coisas tão boas - por isso te agradeço!
António: Que saudades de Hyde Park... apeteceu-me fazer as malas e ir até lá, para mais um daqueles concertos de domingo à tarde no coreto junto ao lago... boas memórias, foi o que a sua escolha me trouxe hoje! Também por isso lhe agradeço.
Abraços aos dois!
Amélia
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