segunda-feira, 17 de junho de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (33)

Hyde Park, André Derain, 1906Óleo sobre Tela, 66x99cm
DOIS LADOS

Ele olhava-a carinhosamente.
Sentia-se feliz por estar ali, e as suas mãos, aquecidas pelo sol – ou talvez pelo amor – afagavam levemente a toalha.
Amava profundamente aquela mulher
As nuvens desenhavam flores no céu e a areia da praia brilhava como quem brinca às cidades de luz. A espuma branca do mar tocava as mãos da mulher e sussurrava segredos de amantes. O vento acariciava-lhe o rosto e, pelo calor das palavras contidas, pintava nas faces um rubor encantado.
Amava-a profundamente.
O banco de madeira recortava a paisagem e deixava marcada por dentro dos olhos uma imagem de corpos entregues ao cansaço delicioso do amor já feito. A pele macia tocava-lhe – apenas – as mãos e deixava a eternidade naquele instante de tempo.
Sentados lado a lado, adivinhava-se o amor.

Ela olhava-o com impaciência.
O calor estava a tornar-se insuportável e ele não parava de mexer na porcaria da toalha.
Que homem detestável e desinteressante.
Para piorar a situação, parecia estar prestes a cair uma daquelas chuvadas…
Gelava-lhe o vento as mãos cansadas de evitarem o toque da espuma cinzenta e suja trazida pelo mar revolto da tarde.
Perto dali, via-se um banco de madeira velho, feio e sujo. Nele, sentado, estava um homem completamente bêbado que vomitava uma mistela vermelha cujo mau cheiro apenas se assemelhava ao do homem que a acompanhava naquela tarde de azar.
O seu corpo reagiu instintivamente ao cheiro pestilento dos dois homens e afastou-se, sem, no entanto, conseguir evitar um ligeiro toque entre os dois corpos – o dela e o daquele homem detestável e desinteressante a quem um dia tinha jurado amor eterno.
Um arrepio de nojo tingiu-lhe de vermelho a cara e a alma.

3 comentários:

Unknown disse...

Penso que há uma repetição no texto publicado que não é para existir.

estudo geral disse...

Teresa Bondoso: Não era quatro lados?
:)

Não sei como aconteceu. Os insondáveis mistérios do computador...

Para além do mais, os nossos leitores percebem logo à primeira! As minhas desculpas!

Beijo,
António

Amélia Oliveira disse...

Bom dia Teresa e António!

Teresa: Muito Bom, como sempre são os teus contos. Os momentos em que te leio são sempre especiais, porque é um prazer enorme ler amigos que produzem coisas tão boas - por isso te agradeço!

António: Que saudades de Hyde Park... apeteceu-me fazer as malas e ir até lá, para mais um daqueles concertos de domingo à tarde no coreto junto ao lago... boas memórias, foi o que a sua escolha me trouxe hoje! Também por isso lhe agradeço.

Abraços aos dois!
Amélia