Sem fazer muita força poderemos constatar a existência de estereótipos em nossa cidade:
- Boba alegre: ou “patricinha desmiolada”. Tem o hábito de falar ao celular enquanto dirige(?) e dá gostosas gargalhadas enquanto não enxerga o trânsito ao redor. Geralmente é loira de farmácia e anda em bandos. Outra variedade do grupo “Sem noção”.
- Botinudo: também conhecido por “agroboy”. Destaca-se pela pouca discreção de seus caminhaozinhos urbanos e pelo berreiro que deles emana, no maior volume possível: “O destino levou minha amada, por favor tenha pena de mim...”. Quase sempre é fruto de dinheiro novo.
- Bundão: mantém uns prudentes 50 m de distância do carro à frente, não importando as circunstâncias: “ouviu dizer” que assim é melhor. Sua mãe é lembrada sempre que se atreve a entrar em uma preferencial. Também acredita que fazer uma curva a mais de 20 km/h é capotamento na certa.
- Cachorro louco. Motoboys, mototaxistas e motoqueiros em geral (motociclista é outro papo). Indivíduos revoltados que desforram sua frustração nas portas e nos retrovisores alheios, quando não estão se matando em acidentes de trânsito absurdos. Em países civilizados sua existência somente seria aceita nas prisões.
- Cafageste: estaciona em vagas para deficientes físicos quando na realidade se comporta como um deficiente mental. Não é privilégio das classes abastadas nem de algum dos vários sexos conhecidos. É, de longe, o mais desprezível.
- Criminoso: o meliante que dirige embriagado ou o que “acha” que dá para passar por um sinal já vermelho. Merece açoitamento público. É a mais democrática manifestação do brazilian way of drive.
- Dono do mundo: trafega ocupando todas as faixas possíveis, e considera insulto pessoal qualquer tentativa de ultrapassagem.
- Foragido da escola: muito frequente, desconhece barreiras socias, de sexo ou outras. Desafia as leis da Fìsica ao frear no meio de uma curva ou ao se esquecer de fazê-lo em algum momento.
- Hello Kitty: praga urbana moderna. Começou com o baixo custo das motocicletas de pequena cilindrada. O capacete cor-de-rosa com um adesivo da Hello Kitty reflete o estado de amadurecimento emocional da criatura a pilotar. Pertence ao grupo “Sem noção”. Coisa de pobre.
- Jeca-tatu: motoristas que saem da pachorra de seus grotões para se sentirem inseguros no feérico tráfego de Ribeirão. Desastre certo.
- Madame deslumbrada: sub-espécie do grupo “Sem noção”, composto por profissionais do casamento que não se tocam de que não estão dirigindo no quintal de casa. Coisa de novo-rico.
- "Pois é": condutor de ruínas que largam pedaços de lataria pela rua, geralmente sem paciência com os outros, como se estes fossem responsáveis pelo miserê ostentado. Se apenas os veículos sem condições fossem retirados de circulação já seria um alívio. Se os motoristas idem também o fossem seria o paraíso, mas aí já é pedir muito.
- Rohypnol: leva uma eternidade para notar que o semáforo ficou verde ou que a fila andou. Deve ser moda por aqui.
- Sem noção: transcende gênero, classe social e idade. É aquela gente que aciona o pisca-pisca (quando muito) e faz uma manobra irracional, como estar na faixa mais à esquerda de uma rotatória e de repente resolver virar à direita (o argumento “mas eu dei seta” é de chorar). Também conhecido como mula-sem-cabeça. É o que mais se vê.
- Troglodita: acha que pode resolver toda e qualquer diferença no grito ou na porrada. Um caso exemplar do que a falta de sexo pode fazer com a cabeça de algumas pessoas.
- Velho de chapéu. Um clássico ora em extinção, para nosso relativo sossego.
Faltou o verbete “omisso”, mas ele diria respeito mais à Transerp e às autoridades ditas responsáveis do que aos lamentáveis condutores acima descritos.
Ficou alguém de fora? O espaço é seu, manifestem-se.
Paulo Arruda
Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
Manhã cedo da alma
Dedicado a
“por vezes a lareira”
de José Félix
Em Dezembro,”por vezes a lareira”
na manhã cedo
da alma inteira, o homem
no homem das emoções
profundas rente á parede
num desassossego de angustia
vago luar ainda nos sonhos
desta noite, entre a solidez
das cerejas destruíram a falta
de afecto como a tarde de
sol, batendo no outro sol do
desassossego do poema
no cuidado da limador que
comigo escreve sem metafísica
no interior da sombra dos teus
seios íntegros de Inverno
numa linguagem requintada de
tantos beijos, olho-te e
só vejo os seios da terra trabalhada
como o relógio do
descanso – vivo na realidade interior,
fascina-me a minha mão
a tua mão agora na rocha e na escarpa,
vamos subir
José Gil
http://joseamilcarcapinhagil.blogspot.com/
“por vezes a lareira”
de José Félix
Em Dezembro,”por vezes a lareira”
na manhã cedo
da alma inteira, o homem
no homem das emoções
profundas rente á parede
num desassossego de angustia
vago luar ainda nos sonhos
desta noite, entre a solidez
das cerejas destruíram a falta
de afecto como a tarde de
sol, batendo no outro sol do
desassossego do poema
no cuidado da limador que
comigo escreve sem metafísica
no interior da sombra dos teus
seios íntegros de Inverno
numa linguagem requintada de
tantos beijos, olho-te e
só vejo os seios da terra trabalhada
como o relógio do
descanso – vivo na realidade interior,
fascina-me a minha mão
a tua mão agora na rocha e na escarpa,
vamos subir
José Gil
http://joseamilcarcapinhagil.blogspot.com/
quarta-feira, 29 de dezembro de 2010
Filosofia e Saudade
12. Leonardo Coimbra (1883-1936) - O Criacionismo
Fundador e Professor da 1ª Faculdade de Letras do Porto. Formado em Matemática e Filosofia. Grande sensibilidade literária e poética. Deputado. Duas vezes Ministro da Educação.
Elabora uma hermenêutica sobre todos os pensadores seus contemporâneos (Antero, Bruno, Pascoaes, Junqueiro), mas afasta-se de todos eles.
O Criacionismo:
A realidade é sempre pensamento. A actividade mental vai determinando a realidade. A realidade está sempre a ser determinada. O espírito determina-se a si próprio na medida em que vai determinando a realidade.
Até 1923, tenta unir o pensamento libertário com o Criacionismo. Depois, aproxima-se cada vez mais do Cristianismo, até aderir ao catolicismo pouco tempo antes de morrer em acidente de viação. Passagem de livre pensador a cristão ortodoxo.
Nele, o Homem é fundamentalmente um ser saudoso: uma saudade imanente e transcendente. Uma nostalgia da realidade, onde o Amor é a nota de Unidade com Deus. Quanto mais Amor mais consciência. A matéria não é senão o soro do espírito. Há vários níveis de amor e de consciência.
O homem vive com saudade do Paraíso (o Mito do Génesis). É saudoso de um estado em que a sua consciência ainda não se tinha precipitado para a exterioridade e materialidade. Uma saudade metafísica.
Luis Santos
Referência Bibliográfica: Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
Fundador e Professor da 1ª Faculdade de Letras do Porto. Formado em Matemática e Filosofia. Grande sensibilidade literária e poética. Deputado. Duas vezes Ministro da Educação.
Elabora uma hermenêutica sobre todos os pensadores seus contemporâneos (Antero, Bruno, Pascoaes, Junqueiro), mas afasta-se de todos eles.
O Criacionismo:
A realidade é sempre pensamento. A actividade mental vai determinando a realidade. A realidade está sempre a ser determinada. O espírito determina-se a si próprio na medida em que vai determinando a realidade.
Até 1923, tenta unir o pensamento libertário com o Criacionismo. Depois, aproxima-se cada vez mais do Cristianismo, até aderir ao catolicismo pouco tempo antes de morrer em acidente de viação. Passagem de livre pensador a cristão ortodoxo.
Nele, o Homem é fundamentalmente um ser saudoso: uma saudade imanente e transcendente. Uma nostalgia da realidade, onde o Amor é a nota de Unidade com Deus. Quanto mais Amor mais consciência. A matéria não é senão o soro do espírito. Há vários níveis de amor e de consciência.
O homem vive com saudade do Paraíso (o Mito do Génesis). É saudoso de um estado em que a sua consciência ainda não se tinha precipitado para a exterioridade e materialidade. Uma saudade metafísica.
Luis Santos
Referência Bibliográfica: Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
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terça-feira, 28 de dezembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XVIII
Flor de Amendoeira Autor António Tapadinhas
Óleo sobre Platex 15x15cm
(clique sobre a imagem)
Inverno
Com o trabalho tudo correu bem, o último quadro foram ramos floridos – tu verás, entre as minhas obras talvez a que fiz com mais paciência e melhor, pintada com calma e uma maior segurança das pinceladas.
Estas palavras foram escritas por Van Gogh, numa carta ao seu irmão, depois de concluir um quadro, para oferecer ao seu sobrinho e afilhado, Vincent.
A obra, com o título, “Amendoeira em Flor”, óleo sobre tela, 73x92cm, está em Amesterdão, no Rijksmuseum Vincent Van Gogh. Todos os críticos, nos seus comentários, consideram este céu, o mais intenso, o mais brilhante, que o artista alguma vez pintou. Tinha a intenção de colocar aqui o quadro, mas fiquei completamente baralhado: se se derem ao trabalho, verificarão, nas centenas de reproduções que há no Google, as diferenças gritantes que existem entre cada uma delas.
Brevemente, estarei no local para saber qual é, afinal, o verdadeiro azul do mestre (quando escrevi o texto ainda não tinha visitado o museu). Por agora, mais do que a queda de neve ou os gélidos ventos, imaginem as andorinhas pairando no ar, com o inconfundível aroma das amendoeiras em flor, anunciando a chegada da Primavera…
Pode escutar o concerto para violino e orquestra, “As Quatro Estações – Inverno”, em que, logo no início, os acordes dissonantes da orquestra lembram os gélidos ventos e a queda de neve, com o violino em escalas descendentes e harpejos, imitando o canto dos pássaros ávidos do calor do sol - como nós!
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
domingo, 26 de dezembro de 2010
Dois Natais, duas Festas dos Loucos
Paulo Borges
Máscaras
Há dois Natais. Um que tem uma face pagã e outra cristã. Em termos cristãos, nele se celebra o nascimento de Cristo na terra ou, segundo os místicos, na linha de Eckhart, o nascimento do divino na consciência (como escreveu Angelus Silesius: “Que me importa que Cristo haja nascido ontem em Belém, / Se não nasce hoje na minha alma?”). Em termos pagãos, a celebração que foi cristianizada é a do solstício de Inverno, ou seja, o renascimento simbólico do Sol Invictus após a sua simbólica morte: ou seja, o renascimento do próprio mundo, quando a energia vital que há nos seres e nas coisas, após declinar e se recolher, inicia um novo ciclo de expansão. O Deus cristão foi depois visto como um Deus crucificado, apontando um caminho de ascese e renúncia ao mundo, em prol de uma salvação sobrenatural, acessível apenas aos homens, destinados a uma eternidade separada dos animais que lhes serviram de companhia, alimento, matéria-prima e força de trabalho. Todavia, como se assinala na inspiração franciscana do Presépio, Cristo veio ao mundo numa gruta, figura das profundezas da Natureza, primeiro que tudo aquecido e protegido pelos animais, uma vaca e um burro: poderoso símbolo de uma fraternidade divino-humano-cósmica, ainda por cumprir, como igualmente se expressa no “Jardim das Delícias”, de Bosch, ou nos quadros de Chagall, entre outros.
Este Natal, pagão ou cristão, implica sempre um (re)nascimento iniciático, uma metamorfose da consciência e das energias profundas do ser, um mundo ao arrepio das convenções, rotinas e usos comuns, em que a libertadora experiência do sagrado consiste em rir daquilo a que se está apegado como mais sagrado (o “sagrado de transgressão”, de que fala Roger Caillois). Não é por acaso que, ainda na Idade Média cristã, o Natal coexistia, no período da libertas decembrica, com as Festas dos Loucos, celebradas de meados de Dezembro até à Epifania, em 6 de Janeiro, com comida, bebida e danças dentro das igrejas e em cima dos altares, missas paródicas com burros a zurrar, homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens, crianças entronizadas como Imperadores dos Inocentes, a quem os adultos e a hierarquia eclesiástica tinham de obedecer, etc. Progressivamente proibidas nas igrejas, acabaram por originar o Carnaval moderno, tendo sido a forma medieval e cristã do mundo às avessas que é ritualizado em muitas tradições e culturas como forma de recordar e vivenciar o regresso cíclico do cosmos ao Caos primordial ou ao Tempo das Origens onde tudo é puro, sagrado e possível e a liberdade, a metamorfose, o jogo e a festa predominam sobre a rígida delimitação do sagrado e do profano, do divino, do animal e do humano e dos papéis psicológicos, sociais e cósmicos, com a vida orientada para o trabalho e a produção. Correspondendo ao solstício de Inverno, as Festas dos Loucos herdam a memória de mais antigas festividades pagãs, de sentido carnavalesco, como as Saturnais, onde se celebrava o regresso à abundância e inocência da Idade do Ouro, com a troca de presentes e o travestimento de homens e mulheres. Festividades ainda bem presentes no Nordeste transmontano, de cuja inversão da ordem estabelecida se acredita depender a renovação das energias humanas e cósmicas, a fertilidade das mulheres, dos animais e dos campos. Como ainda hoje se diz em certas aldeias de Trás-os-Montes, por ocasião das tropelias e mascaradas praticadas nas Festas dos Rapazes e outras: “É Natal, ninguém leva a mal!”. Um Carnatal, como pude presenciar…
Estas festas, tradicionais e iniciáticas, podemos entendê-las, para além da óbvia catarse das pulsões reprimidas, como convites à transmutação da consciência que assume e liberta a sua iluminada ou divina natureza primordial, anterior a qualquer estado, condição ou limite, anterior a qualquer máscara, ego e personalidade e sua projecção de um mundo ilusoriamente considerado como exterior, real e objectivo. O Louco simboliza bem, como na carta do Tarot, essa natureza primordial da mente, não egocentrada, sem centro nem periferia, tão livre e infinita como o espaço, tal um zero metafísico e pré-existencial que, por não ser nada, pode a cada instante imaginar-se e tornar-se tudo, como assume Bernardo Soares no “Livro do Desassossego”. Aquilo que todos somos: Todo o Mundo-Ninguém.
O Louco ou a Criança. Porque a Festa dos Loucos é a festa da coroação das crianças como detentoras da suprema autoridade, com a inversão das funções e relações habituais entre as classes etárias e sociais. A exemplo do ensinamento de Lao Tsé, Cristo e Agostinho da Silva. Tal como acontecia e acontece na Festa do Espírito Santo, sua directa herdeira no Ocidente, fundada pela rainha Santa Isabel e levada para os Açores, Brasil e América. Preservada ainda hoje no Penedo, perto de Sintra, com a mácula da tourada à corda. A Festa onde Agostinho da Silva viu a simbólica antecipação do futuro que todos desejamos: a libertação de todas as prisões, a igualitária partilha da abundância, a coroação e a sacralização da infância, ou seja, da inocência, da liberdade e da imaginação criadora.
Este é o espírito e o simbolismo profundo do Natal, do Presépio, da Árvore de Natal, imagem do axis mundi que liga Céu e Terra e passa em cada uma das nossas colunas vertebrais. O simbolismo da troca de prendas, da festa da infância e da abundância, da comunhão na alegria, na solidariedade e na despreocupação.
O outro Natal é o que hoje temos à nossa volta, a deturpação deste e do seu espírito num ciclo de civilização em que o crescente vazio interior de mentes sem imaginação, amor e sabedoria se busca ilusoriamente compensar por um produtivismo e consumismo galopantes e ávidos, que alimentam uma economia regida por especuladores e agiotas, financiam guerras, trucidam milhões de seres vivos e envenenam e enchem de lixo o planeta para uma Consoada e um dia de Natal de embrutecimento e esquecimento da vida triste e opressiva levada em quase todos os restantes dias do ano. No fundo, e ainda, uma grande Festa de Loucos, mas não de Loucos sábios e livres, antes de Loucos patológicos que buscam libertar-se com aquilo que mais os escraviza, ofusca e aliena.
Importa contudo ir além do moralismo estreito e estéril e ver, através dum Natal e duma Festa de Loucos, o outro Natal e a outra Festa de Loucos cuja saudade no fundo move a avidez e a alienação do Holocausto produtivista-consumista do nosso tempo. E, serenamente, transitar de um para o outro, sendo feliz e tornando-se contagioso. Ou seja, transitar das prisões do ego para a Grande Festa do Livre Espírito, na infinita comunidade de todos os seres vivos, da Vida e da Natureza.
FELIZ NATAL! LIBERTADORA FESTA DOS LOUCOS!
Este Natal, pagão ou cristão, implica sempre um (re)nascimento iniciático, uma metamorfose da consciência e das energias profundas do ser, um mundo ao arrepio das convenções, rotinas e usos comuns, em que a libertadora experiência do sagrado consiste em rir daquilo a que se está apegado como mais sagrado (o “sagrado de transgressão”, de que fala Roger Caillois). Não é por acaso que, ainda na Idade Média cristã, o Natal coexistia, no período da libertas decembrica, com as Festas dos Loucos, celebradas de meados de Dezembro até à Epifania, em 6 de Janeiro, com comida, bebida e danças dentro das igrejas e em cima dos altares, missas paródicas com burros a zurrar, homens vestidos de mulheres e mulheres vestidas de homens, crianças entronizadas como Imperadores dos Inocentes, a quem os adultos e a hierarquia eclesiástica tinham de obedecer, etc. Progressivamente proibidas nas igrejas, acabaram por originar o Carnaval moderno, tendo sido a forma medieval e cristã do mundo às avessas que é ritualizado em muitas tradições e culturas como forma de recordar e vivenciar o regresso cíclico do cosmos ao Caos primordial ou ao Tempo das Origens onde tudo é puro, sagrado e possível e a liberdade, a metamorfose, o jogo e a festa predominam sobre a rígida delimitação do sagrado e do profano, do divino, do animal e do humano e dos papéis psicológicos, sociais e cósmicos, com a vida orientada para o trabalho e a produção. Correspondendo ao solstício de Inverno, as Festas dos Loucos herdam a memória de mais antigas festividades pagãs, de sentido carnavalesco, como as Saturnais, onde se celebrava o regresso à abundância e inocência da Idade do Ouro, com a troca de presentes e o travestimento de homens e mulheres. Festividades ainda bem presentes no Nordeste transmontano, de cuja inversão da ordem estabelecida se acredita depender a renovação das energias humanas e cósmicas, a fertilidade das mulheres, dos animais e dos campos. Como ainda hoje se diz em certas aldeias de Trás-os-Montes, por ocasião das tropelias e mascaradas praticadas nas Festas dos Rapazes e outras: “É Natal, ninguém leva a mal!”. Um Carnatal, como pude presenciar…
Estas festas, tradicionais e iniciáticas, podemos entendê-las, para além da óbvia catarse das pulsões reprimidas, como convites à transmutação da consciência que assume e liberta a sua iluminada ou divina natureza primordial, anterior a qualquer estado, condição ou limite, anterior a qualquer máscara, ego e personalidade e sua projecção de um mundo ilusoriamente considerado como exterior, real e objectivo. O Louco simboliza bem, como na carta do Tarot, essa natureza primordial da mente, não egocentrada, sem centro nem periferia, tão livre e infinita como o espaço, tal um zero metafísico e pré-existencial que, por não ser nada, pode a cada instante imaginar-se e tornar-se tudo, como assume Bernardo Soares no “Livro do Desassossego”. Aquilo que todos somos: Todo o Mundo-Ninguém.
O Louco ou a Criança. Porque a Festa dos Loucos é a festa da coroação das crianças como detentoras da suprema autoridade, com a inversão das funções e relações habituais entre as classes etárias e sociais. A exemplo do ensinamento de Lao Tsé, Cristo e Agostinho da Silva. Tal como acontecia e acontece na Festa do Espírito Santo, sua directa herdeira no Ocidente, fundada pela rainha Santa Isabel e levada para os Açores, Brasil e América. Preservada ainda hoje no Penedo, perto de Sintra, com a mácula da tourada à corda. A Festa onde Agostinho da Silva viu a simbólica antecipação do futuro que todos desejamos: a libertação de todas as prisões, a igualitária partilha da abundância, a coroação e a sacralização da infância, ou seja, da inocência, da liberdade e da imaginação criadora.
Este é o espírito e o simbolismo profundo do Natal, do Presépio, da Árvore de Natal, imagem do axis mundi que liga Céu e Terra e passa em cada uma das nossas colunas vertebrais. O simbolismo da troca de prendas, da festa da infância e da abundância, da comunhão na alegria, na solidariedade e na despreocupação.
O outro Natal é o que hoje temos à nossa volta, a deturpação deste e do seu espírito num ciclo de civilização em que o crescente vazio interior de mentes sem imaginação, amor e sabedoria se busca ilusoriamente compensar por um produtivismo e consumismo galopantes e ávidos, que alimentam uma economia regida por especuladores e agiotas, financiam guerras, trucidam milhões de seres vivos e envenenam e enchem de lixo o planeta para uma Consoada e um dia de Natal de embrutecimento e esquecimento da vida triste e opressiva levada em quase todos os restantes dias do ano. No fundo, e ainda, uma grande Festa de Loucos, mas não de Loucos sábios e livres, antes de Loucos patológicos que buscam libertar-se com aquilo que mais os escraviza, ofusca e aliena.
Importa contudo ir além do moralismo estreito e estéril e ver, através dum Natal e duma Festa de Loucos, o outro Natal e a outra Festa de Loucos cuja saudade no fundo move a avidez e a alienação do Holocausto produtivista-consumista do nosso tempo. E, serenamente, transitar de um para o outro, sendo feliz e tornando-se contagioso. Ou seja, transitar das prisões do ego para a Grande Festa do Livre Espírito, na infinita comunidade de todos os seres vivos, da Vida e da Natureza.
FELIZ NATAL! LIBERTADORA FESTA DOS LOUCOS!
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
O que pensar do Natal?
Fernanda Leite Bião(1)
O que pensar do Natal? Uma época de tanto movimento social, abre e fecha de presentes. Papai Noel passeando por aí, em suas carruagens, em ambientes sofisticados. Sonhos e fantasias nos olhares dos pequeninos, que tanto esperam um momento mágico e, por que não dizer?, de nós, também, eternos velejadores, entre oceanos de sonhos, desejos e fantasias.
Acredito que toda criação humana tenha a sua importância, mas amo pensar na raiz, no radical, no principio em que tudo começou. Assim...
Era uma vez uma história de Natal...
Menino nascendo, reis magos, animais acalentadores, uma mulher e um homem a caminho de sua cidade natal, para o recenseamento. Estrela que brilha lá longe! Longe e perto de nós. A luz que se procura. Esclarecimento, conhecimento, paz, amor. A estrela brilha, é a figura que se destaca, a escuridão agora só é o fundo de uma pintura bonita que retrata uma história.
Jesus nasce!
Nasce e se desenvolve em meio a homens e mulheres, carneiros e ovelhas, escolhidos e malditos. Nasce, cresce e se desenvolve, abrindo novas paragens, construindo novos olhares, educando pelas parábolas e trazendo às pessoas a esperança e a possibilidade da desenvoltura de sua autonomia, para se lançarem a uma vida diferente e melhor. Cegos que são cegos e cegos não cegos voltam a enxergar. Ouvidos ouvem pela primeira vez a palavra e as pernas começam a se movimentar. Vejo o toque da liberdade da humanidade a se humanizar.
Jesus nasce!
Em várias crenças, em várias casas, em várias mesas, nos olhares e nos cânticos de adoração.
Entretanto, o meu desejo hoje é que Ele nasça em seu coração! Muita paz!
(1)Psicóloga e Orientadora Profissional. Bacharela em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
E-mail: fernandabiao9@hotmail.com
O que pensar do Natal? Uma época de tanto movimento social, abre e fecha de presentes. Papai Noel passeando por aí, em suas carruagens, em ambientes sofisticados. Sonhos e fantasias nos olhares dos pequeninos, que tanto esperam um momento mágico e, por que não dizer?, de nós, também, eternos velejadores, entre oceanos de sonhos, desejos e fantasias.
Acredito que toda criação humana tenha a sua importância, mas amo pensar na raiz, no radical, no principio em que tudo começou. Assim...
Era uma vez uma história de Natal...
Menino nascendo, reis magos, animais acalentadores, uma mulher e um homem a caminho de sua cidade natal, para o recenseamento. Estrela que brilha lá longe! Longe e perto de nós. A luz que se procura. Esclarecimento, conhecimento, paz, amor. A estrela brilha, é a figura que se destaca, a escuridão agora só é o fundo de uma pintura bonita que retrata uma história.
Jesus nasce!
Nasce e se desenvolve em meio a homens e mulheres, carneiros e ovelhas, escolhidos e malditos. Nasce, cresce e se desenvolve, abrindo novas paragens, construindo novos olhares, educando pelas parábolas e trazendo às pessoas a esperança e a possibilidade da desenvoltura de sua autonomia, para se lançarem a uma vida diferente e melhor. Cegos que são cegos e cegos não cegos voltam a enxergar. Ouvidos ouvem pela primeira vez a palavra e as pernas começam a se movimentar. Vejo o toque da liberdade da humanidade a se humanizar.
Jesus nasce!
Em várias crenças, em várias casas, em várias mesas, nos olhares e nos cânticos de adoração.
Entretanto, o meu desejo hoje é que Ele nasça em seu coração! Muita paz!
(1)Psicóloga e Orientadora Profissional. Bacharela em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas).
E-mail: fernandabiao9@hotmail.com
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Crónica,
Fernanda Leite Bião,
Natal
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XVII
Favela 0512 Díptico Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre 2 telas de 60x40cm
(clique sobre a imagem)
O meu amigo, Luís Santos, escreveu:
Morro acima cruzes, muitas cruzes. Feitas de pau. Como aquelas que se vêem em muitos cemitérios. No tombo dos mais frágeis o sonoro revela o ruído compassado de uma intermitente arma de guerra, como se de um sapateado se tratasse.
No meio do morro nasceu uma flor. E nasceu uma criança que se apaixona pela flor. É um pé de laranja lima.
Porque será que o morro está mais amarelado de um lado? Pela luz do sol, pela rotação do planeta. A indestrutível lei da natureza. Não fossem as sombras.
Respondi-lhe:
No alto do morro, nas favelas
nascem pés de laranja lima,
não nascem facas ou fuzis!
O sol que brilha nas janelas
aquece as sombras e a dor,
num bairro alegre ou tristonho.
Com ele fica a esperança
de quem nunca desanima
e acredita no sonho!
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Conjecturo
Meu pensamento não dorme
De tão leve que existe em mim
Como uma nuance informe
Que não tem causa nem fim.
Pareço levitar
No meu sentir-me água
Dou comigo a balançar
Na minha alma que não tem mágoa.
E vem a mim pequeno como um deus
O relembrar da minha esperança
Que no meu envelhecer
O mundo ainda é uma criança.
Corre Pé
A todos os pequenos Deuses e ao Universo em geral.
Um Feliz Natal
De tão leve que existe em mim
Como uma nuance informe
Que não tem causa nem fim.
Pareço levitar
No meu sentir-me água
Dou comigo a balançar
Na minha alma que não tem mágoa.
E vem a mim pequeno como um deus
O relembrar da minha esperança
Que no meu envelhecer
O mundo ainda é uma criança.
Corre Pé
A todos os pequenos Deuses e ao Universo em geral.
Um Feliz Natal
ÁGUA
Tanto tempo
perdido
na contemplação
do deserto
que, sem querer,
me fiz
deserto
também.
Vou plantar uma árvore.
Guardo lembrança
e saudade
do cheiro
verde
das maçãs.
Manuel João
Dezembro, 21, 2010
perdido
na contemplação
do deserto
que, sem querer,
me fiz
deserto
também.
Vou plantar uma árvore.
Guardo lembrança
e saudade
do cheiro
verde
das maçãs.
Manuel João
Dezembro, 21, 2010
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
MEDITAÇÃO de NATAL + CONCERTO COM TAÇAS TIBETANAS
SOCIEDADE PORTUGUESA DE NATURALOGIA
PELAS LEIS NATURAIS, PELA CULTURA INTEGRAL DO INDIVÍDUO
www.spn.eco-gaia.net
Quarta-feira, 22 DEZEMBRO 2010
19H - 20H30
MEDITAÇÃO ESPECIAL DE NATAL
SEGUIDA DE CONCERTO MEDITATIVO COM TAÇAS TIBETANAS
Com Paula Soveral
Meditar é muito simples, não requer esforço. É parar, escutar e deixar acontecer. Não é esvaziar a mente, é aprender a navegar no espaço entre os pensamentos.
Com a prática da meditação podemos experienciar paz, tranquilidade, a nossa beleza interior, levando-nos a re-pensar o que somos e tudo o que nos rodeia. Confere-nos a capacidade de dirigir as nossas energias para purificar o nosso corpo e mente.... e assim, podemos descobrir e desenvolver a nossa espiritualidade.
Com a prática diária, mesmo apenas alguns minutos, acaba por ser extremamente compensador e benéfico para a nossa saúde física, emocional e mental.
E lembre-se que tudo é energia e que a energia segue o pensamento...
Material recomendado: roupa confortável e meias
DESCONTOS PARA SÓCIOS
Fundada em 1912 - Instituição de Utilidade Pública
PELAS LEIS NATURAIS, PELA CULTURA INTEGRAL DO INDIVÍDUO
www.spn.eco-gaia.net
Quarta-feira, 22 DEZEMBRO 2010
19H - 20H30
MEDITAÇÃO ESPECIAL DE NATAL
SEGUIDA DE CONCERTO MEDITATIVO COM TAÇAS TIBETANAS
Com Paula Soveral
Meditar é muito simples, não requer esforço. É parar, escutar e deixar acontecer. Não é esvaziar a mente, é aprender a navegar no espaço entre os pensamentos.
Com a prática da meditação podemos experienciar paz, tranquilidade, a nossa beleza interior, levando-nos a re-pensar o que somos e tudo o que nos rodeia. Confere-nos a capacidade de dirigir as nossas energias para purificar o nosso corpo e mente.... e assim, podemos descobrir e desenvolver a nossa espiritualidade.
Com a prática diária, mesmo apenas alguns minutos, acaba por ser extremamente compensador e benéfico para a nossa saúde física, emocional e mental.
E lembre-se que tudo é energia e que a energia segue o pensamento...
Material recomendado: roupa confortável e meias
DESCONTOS PARA SÓCIOS
Fundada em 1912 - Instituição de Utilidade Pública
Rua do Alecrim, nº 38 - 3º, 1200-018 Lisboa Tel: 213 463 335
E-mail: spn@eco-gaia.net
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Website: www.spn.eco-gaia.net
1.
Quieto e veloz:
Quando me aquieto e fico mudo
na brandura do Divino espanto
Dou por saber de Tudo
Sendo-o em Espírito Santo
Nessa ciência do Brahman
Sou o vento que vier
Os dias das velas bramando
Sonhos que querem viver
2.
Paralelas que se amam
Vão achar que é bonito
No plural que a Deus chamam
só O ser no infinito
(Eduardo Espírito Santo)
Quieto e veloz:
Quando me aquieto e fico mudo
na brandura do Divino espanto
Dou por saber de Tudo
Sendo-o em Espírito Santo
Nessa ciência do Brahman
Sou o vento que vier
Os dias das velas bramando
Sonhos que querem viver
2.
Paralelas que se amam
Vão achar que é bonito
No plural que a Deus chamam
só O ser no infinito
(Eduardo Espírito Santo)
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Homenagem aos que pensam nos outros... por Manuel de Sousa
“Fluindo Absorto pelo Destino Observado…”
Navego a meio de bravas ondas…
Vou manso que nem um cordeiro
Assobio para os males espantar
Ajeito as feições para entrar na festa
Enfio-me no seio da turba de gente
Passo a pertencer ao mundo incógnito
Levo fogo na nuca que nem um vulcão
Carrego a actividade de uma fogueira acesa
Levanto a garupa durante o frenesim da corrida…
Penso em subir a íngreme subida da Torre de Babel…
Nada quero deixar para trás para alem do remorso
Trago somente comigo o pensamento complexo
Sem nexo algum na mochila que porto às costas
Vergo-me para a frente para chegar célere ao cume
Quero que se me abram as portas do Céu e da Terra
Antes mesmo que se passe a falar novas linguagens
Seja pela ambição alheia ou por interesses impróprios
Porque nao tenho intenções de alterar a verbalidade…
Troco de camisa e de clube para prosseguir viagem…
Decido ir por turvas paisagens sem côr explícita
Preparo o pincel ao longo do curso sinuoso
Insinuo-o-me em tons dúbios e animalescos
Puxo para o caminho certo a quem a mim se achega
Injecto-me misturado com a liquidez das matizes
Penetro em cada buraco e em cada físsura dos muros
Enfio-me disciplinado por entre finos buracos de agulhas
Comprometo-me em ser mais uma de entre trilhões de vidas…
…Vagueando por entre Estrelas feitas e pela fluídez da Alma
…Movendo-me umas vezes sem pressa e tambem vagarosamente
…Levando na bagagem a mente preprogramada do Destino Divino…
Escrito em Luanda, Angola, a 18 de Dezembro de 2010, por manuel de sousa, em Homenagem a todos os Sêres Celulares da Vida, e cujo motor é impulsionado pelo Plano Inteligente da Una Inteligência Cósmica, que a todo o Universo Administra e Destina e ao qual, dá ou imprime ordem sequencial e de certa forma, empresta tambem harmonia, apesar de toda uma confusa e destruidora desordem aparente, que nos dias de hoje, vamos tendo ocasião de observar através dos cada vez mais potentes e precisos Observatórios/Telescópios Celestes…
sábado, 18 de dezembro de 2010
Filosofia e Saudade
11. Teixeira de Pascoaes (1877-1952)
O autor do Saudosismo. Partindo de uma definição de Saudade, propõe uma doutrina para regeneração de Portugal a ser transmitida às novas gerações.
Portugal devia libertar-se daquilo que o oprimia: A monarquia, as visões europeístas, o catolicismo.
A Pátria de Pascoaes era uma unidade orgânica com vida própria – um corpo e uma alma. E são as características da alma que têm de dirigir o corpo. Portugal era tido como uma alma doente.
O renascer do espírito de Portugal virá sob a forma de uma nova religião que mistura Pan (Paganismo) e Cristo. O Saudosimo é um sentimento que pode desenvolver essa nova religião. Surgimento de uma nova divindade - o Deus Menino - um intermediário para a consciência plena das coisas. A Educação, a Arte, a Religião deviam ser lusitanas e não estrangeiras.
É, sobretudo, nas populações rurais, nas classes populares, onde mais se espelha a alma do país - uma alma naturalista e mística. As classes urbanas estão corrompidas.
Também as Línguas são tidas como organismos vivos. As palavras são a energia intrínseca a cada uma delas. O Verbo divino.
A Saudade é simultaneamente nacional e universal. Alma da nação e do próprio mundo. A experiência da saudade: um estado de alma latente que se tornará realidade. Assim é Portugal.
Luis Santos
Referência Bibliográfica: Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
O autor do Saudosismo. Partindo de uma definição de Saudade, propõe uma doutrina para regeneração de Portugal a ser transmitida às novas gerações.
Portugal devia libertar-se daquilo que o oprimia: A monarquia, as visões europeístas, o catolicismo.
A Pátria de Pascoaes era uma unidade orgânica com vida própria – um corpo e uma alma. E são as características da alma que têm de dirigir o corpo. Portugal era tido como uma alma doente.
O renascer do espírito de Portugal virá sob a forma de uma nova religião que mistura Pan (Paganismo) e Cristo. O Saudosimo é um sentimento que pode desenvolver essa nova religião. Surgimento de uma nova divindade - o Deus Menino - um intermediário para a consciência plena das coisas. A Educação, a Arte, a Religião deviam ser lusitanas e não estrangeiras.
É, sobretudo, nas populações rurais, nas classes populares, onde mais se espelha a alma do país - uma alma naturalista e mística. As classes urbanas estão corrompidas.
Também as Línguas são tidas como organismos vivos. As palavras são a energia intrínseca a cada uma delas. O Verbo divino.
A Saudade é simultaneamente nacional e universal. Alma da nação e do próprio mundo. A experiência da saudade: um estado de alma latente que se tornará realidade. Assim é Portugal.
Luis Santos
Referência Bibliográfica: Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
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Direitos dos Animais e Equilíbrio Ecológico
Quarta-Feira, 22 de Dezembro, às 18h, no Anfiteatro III da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, tem lugar mais um debate sobre Direitos dos Animais e Equilíbrio Ecológico, desta vez com o Dr. Defensor de Moura. Após o debate com o Dr. Fernando Nobre, Defensor de Moura é o segundo candidato presidencial a aceitar um convite enviado a todos.
Organização da revista Cultura ENTRE Culturas com o apoio do Partido pelos Animais e pela Natureza e do Movimento Outro Portugal.
Os dois números da revista estarão à venda no evento.
Agradecemos a divulgação.
Paulo Borges
Organização da revista Cultura ENTRE Culturas com o apoio do Partido pelos Animais e pela Natureza e do Movimento Outro Portugal.
Os dois números da revista estarão à venda no evento.
Agradecemos a divulgação.
Paulo Borges
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sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Entrevista a Luís Guerreiro na Revista Carioca, Zé Pereira
Caros Amigos,
a revista carioca online, Zé Pereira publicou esta entrevista que eu lhe concedi: http://www.revistazepereira.com.br/um-mestre-paineleiro/ onde falo sobre música, cinema, história em quadrinhos e muito mais...
Saudações
--
Luís Cruz Guerreiro
www.azulejariaguerreiro.com
a revista carioca online, Zé Pereira publicou esta entrevista que eu lhe concedi: http://www.revistazepereira.com.br/um-mestre-paineleiro/ onde falo sobre música, cinema, história em quadrinhos e muito mais...
Saudações
--
Luís Cruz Guerreiro
www.azulejariaguerreiro.com
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XVI
Favela 2711 Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 100x110cm
(clique sobre a imagem)
No espaço de tempo em que concluí Favela 1511 e Favela 2711, a situação tornou-se explosiva nas favelas do Rio de Janeiro.
Leio no DN:
Dezenas de tanques cercaram o Complexo do Alemão, na região norte do Rio de Janeiro, na véspera da derradeira investida militar, ontem, na área. Madrugada de vigília. Medo e psicologia de guerra. De um lado, moradores da comunidade em pânico, resguardados em casa. De outro, criminosos escondidos e armados a engendrar uma forma de fintar o cerco policial de 2600 homens: polícia militar, civil, federal e soldados do Exército e da Marinha, contra o Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio. Desde domingo são 38 mortos e 80 veículos queimados.
Leio mensagens de apoio a esta acção.
Leio de Marcello Salles, jornalista:
O povo brasileiro não deve se deixar iludir pela operação casada entre governo do Rio e corporações de mídia. Não se pode vencer o tráfico de drogas nas favelas, nem com tanques de guerra, nem mesmo com bombas atômicas. Por um motivo muito simples: os donos do negócio não estão lá.
Leio mensagens de apoio a esta crónica.
Leio que o filme português, “Complexo – Universo Paralelo”, rodado no Complexo do Alemão, foi vencedor na categoria, Melhor Filme Internacional Direitos Humanos, do Artivist Film Festival, em Hollywood, Los Angeles.
Leio que, Diaky Diaz, fundador e produtor executivo do festival, afirmou que "com a urbanização a aumentar em todo o globo, mais e mais pessoas vivem em grandes guetos. Filmes como este permitem-nos realmente olhar para essas zonas com compaixão e forçar-nos a reflectir sobre o que podemos fazer para tornar melhor a vida dos nossos semelhantes".
É um óptimo destino para uma obra de arte: ajudar a reflectir!
Eu procuro fazê-lo com as minhas obras! Não é por acaso que esta tem como cores dominantes as da bandeira do Brasil!
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Reflexões de um embaixador sobre o Brasil
Num artigo publicado no Jornal de Letras, nº 1048 , o antigo Cônsul-Geral no Rio de Janeiro e atual Embaixador de Portugal na Índia,poeta e ficcionista, Luís Filipe Castro Mendes, escreveu sob o título "Lendo Ruy Duarte de Carvalho", reflexões que considero de interesse partilhar com vocês.
Reflete Castro Mendes: Lendo " Desmedida", o excelente livro de viagens de Ruy Duarte de Carvalho pelo Brasil, vejo como um angolano sente exatamente o que eu senti como português face àquela permanente "fábrica de inédito"(na expressão dele) que é o Brasil: eu só entendi bem o que era ser português(e, pelo o que ele diz, o Ruy só entendeu completamente o que era ser angolano) depois de ter vivido a experiência do Brasil.'
E Luís Castro Mendes continua: 'O Brasil é a nossa desmedida.. O Agostinho da Silva tem a clássica fórmula "o brasileiro é o português à solta".Eu penso que esta imagem produzida por Ruy do Brasil como " fábrica de inédito" é ainda melhor e mais generalizante.
Concluindo, Castro Mendes lembra: 'Reparem o que o Brasil faz dos imigrantes de todas as etnias. E reparem na complexidade do processo de branqueamento, que está a ser agora deturpado com ações afirmativas copiadas dos americanos. Não que não haja injustiças no Brasil em relação aos negros que tem urgentemente de ser corrigidas, mas acontece que o Brasil não tem nada que ver com os Estados Unidos.'
Estas reflexões de Luís Castro Mendes ajudam-nos a compreender as diferenças e afinidades entre brasileiros, angolanos e portugueses. Compreender o olhar do "outro".
Margarida Castro
Reflete Castro Mendes: Lendo " Desmedida", o excelente livro de viagens de Ruy Duarte de Carvalho pelo Brasil, vejo como um angolano sente exatamente o que eu senti como português face àquela permanente "fábrica de inédito"(na expressão dele) que é o Brasil: eu só entendi bem o que era ser português(e, pelo o que ele diz, o Ruy só entendeu completamente o que era ser angolano) depois de ter vivido a experiência do Brasil.'
E Luís Castro Mendes continua: 'O Brasil é a nossa desmedida.. O Agostinho da Silva tem a clássica fórmula "o brasileiro é o português à solta".Eu penso que esta imagem produzida por Ruy do Brasil como " fábrica de inédito" é ainda melhor e mais generalizante.
Concluindo, Castro Mendes lembra: 'Reparem o que o Brasil faz dos imigrantes de todas as etnias. E reparem na complexidade do processo de branqueamento, que está a ser agora deturpado com ações afirmativas copiadas dos americanos. Não que não haja injustiças no Brasil em relação aos negros que tem urgentemente de ser corrigidas, mas acontece que o Brasil não tem nada que ver com os Estados Unidos.'
Estas reflexões de Luís Castro Mendes ajudam-nos a compreender as diferenças e afinidades entre brasileiros, angolanos e portugueses. Compreender o olhar do "outro".
Margarida Castro
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terça-feira, 14 de dezembro de 2010
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
DEMOCRATAS, DEMOCRATAS, NEGÓCIOS À PARTE
Vendas Novas, 12 de Dezembro de 2010
DESCULPEM se me repito. Já o disse várias vezes: em toda a minha vida, que já vai longa, conheci milhares de pessoas, mas fosse por sorte, por azar ou por razões magnéticas, nunca me foi dado conhecer um só democrata que fosse, embora muitos jurassem a pés juntos e sem fazer figas que o eram. Muito. Desde pequeninos.
Vejam que até o Marcelo Caetano dizia que era democrata e que democrático era o seu regime. Uma «democracia orgânica». Pois.
Mas as coisas podem ser vistas de uma outra maneira: podemos dizer que todos somos democratas enquanto não nos pisam os calos. Isto é válido para os indivíduos e é válido para as nações, porque democratas, democratas, negócios à parte.
O centro democrático de torturas, instituído na ilha de Cuba pelo protótipo da democracia globalista que são os USA, essa coisa a que chamam Guantánamo, só foi possível pelo silêncio cúmplice das mais conceituadas democracias (e até alguma colaboração activa); as mesmas nações que colaboram agora na perseguição indecente, perversa, cínica e iníqua ao jovem mal comportado que incomoda aqueles que nos têm tentado ensinar que é pela liberdade de expressão (ou pela falta dela) que se distinguem os regimes democratas daqueles que o não são. Se há leis violadas, então os tribunais que batam com o martelo logo que possam, mas nada de golpes baixos.
Estamos esclarecidos? Então, adiante.
O senador ianque republicano Mitch MacConnel, disse para os seus, para os outros e em entrevistas em que se tem multiplicado, que o fundador da WikiLeaks é um terrorista que deve ser extraditado para os USA, para ser executado. Entretanto, as diversas agências secretas da grande democracia (?) estão a tratar do assunto. Dois ou três dias após o grande acto de terror documental internético, duas virgens ofendidas queixam-se na Suécia de terem sido violadas por Julian Assange (o australiano que já teve nacionalidade sueca). Ala para prisão de Sua Majestade Britânica e vamos lá a ver se se arranja modo de extradição. Do Vale Azevedo é que não.
Uma das denunciantes é a cubana militante anti-castrista Ana Ardin, cuja organização, como se sabe, é democraticamente subsidiada pelos USA. Palavras para quê?
Pode bem ser que o Assange seja o responsável pela morte do Menino Jesus e o culpado da secura dos desertos, mas mesmo que a Sr.ª Clinton jure sobre a Bíblia, ninguém vai acreditar, porque, como dirá o povo, quem mais jura mais mente.
ABDUL CADRE
DESCULPEM se me repito. Já o disse várias vezes: em toda a minha vida, que já vai longa, conheci milhares de pessoas, mas fosse por sorte, por azar ou por razões magnéticas, nunca me foi dado conhecer um só democrata que fosse, embora muitos jurassem a pés juntos e sem fazer figas que o eram. Muito. Desde pequeninos.
Vejam que até o Marcelo Caetano dizia que era democrata e que democrático era o seu regime. Uma «democracia orgânica». Pois.
Mas as coisas podem ser vistas de uma outra maneira: podemos dizer que todos somos democratas enquanto não nos pisam os calos. Isto é válido para os indivíduos e é válido para as nações, porque democratas, democratas, negócios à parte.
O centro democrático de torturas, instituído na ilha de Cuba pelo protótipo da democracia globalista que são os USA, essa coisa a que chamam Guantánamo, só foi possível pelo silêncio cúmplice das mais conceituadas democracias (e até alguma colaboração activa); as mesmas nações que colaboram agora na perseguição indecente, perversa, cínica e iníqua ao jovem mal comportado que incomoda aqueles que nos têm tentado ensinar que é pela liberdade de expressão (ou pela falta dela) que se distinguem os regimes democratas daqueles que o não são. Se há leis violadas, então os tribunais que batam com o martelo logo que possam, mas nada de golpes baixos.
Estamos esclarecidos? Então, adiante.
O senador ianque republicano Mitch MacConnel, disse para os seus, para os outros e em entrevistas em que se tem multiplicado, que o fundador da WikiLeaks é um terrorista que deve ser extraditado para os USA, para ser executado. Entretanto, as diversas agências secretas da grande democracia (?) estão a tratar do assunto. Dois ou três dias após o grande acto de terror documental internético, duas virgens ofendidas queixam-se na Suécia de terem sido violadas por Julian Assange (o australiano que já teve nacionalidade sueca). Ala para prisão de Sua Majestade Britânica e vamos lá a ver se se arranja modo de extradição. Do Vale Azevedo é que não.
Uma das denunciantes é a cubana militante anti-castrista Ana Ardin, cuja organização, como se sabe, é democraticamente subsidiada pelos USA. Palavras para quê?
Pode bem ser que o Assange seja o responsável pela morte do Menino Jesus e o culpado da secura dos desertos, mas mesmo que a Sr.ª Clinton jure sobre a Bíblia, ninguém vai acreditar, porque, como dirá o povo, quem mais jura mais mente.
ABDUL CADRE
domingo, 12 de dezembro de 2010
Aculturação. Uma Pintura de Moçambique.
Ocupa espaço principal na nossa sala de jantar um quadro, grande, com uma história curiosa, que merece ser contada. Devido ao animado movimento das suas figuras e colorido, encanta todos quantos o vêm, sobretudo as crianças pequenas, os bebes, que não desgrudam os olhos dele! Curioso como sempre prendeu tão intensamente o olhar de todos os bebes!
É de um moçambicano, L. Makwakwa, o L. já não sei o que abrevia, o resto, nome difícil de escrever! Este Makwakwa, grande artista, sempre andou metido em confusões, não tanto políticas, mas bebedeiras, brigas, e até drogas, e acabou preso em Lourenço Marques. Esteve, creio que uns bons meses, na cadeia da cidade. Algum tempo antes de ser solto, foram-lhe dadas, pela direção da cadeia, telas e tintas para que, além de estar ocupado, preparasse uma exposição a inaugurar com a sua liberdade, e assim conseguir dinheiro para seguir uma carreira fora do alcool. Gesto bonito do diretor da prisão.
A pintura dele é rica, intensa, marcadamente moçambicana. Como não sou crítico de arte não posso afirmar que seja da escola do mestre Malangatana, mas a verdade é que parece ter sido este o percursor de um estilo que distingue, ao primeiro olhar, o artista moçambicano de qualquer um de outro país africano.
Fomos visitar a exposição e o quadro que mais agradou foi este, o maior, que dominava a sala. Estive algum tempo a apreciá-lo até que o artista me veio explicar o seu significado: a Ceia de Cristo, vista por olhos africanos. Um reunião entre um Grande Chefe e os seus doze seguidores, onde sempre se bebe muito, e In Vino Veritas, é grande a alegria e animação de uns e prostração de outros.
Um dos presentes, depois de ter bebido por uma cabaça o vinho, ali configurado como fazendo parte do corpo do Grande Feiticeiro, e com um gesto de falsa amizade, ter colocado a mão no Seu ombro, acaba repudiando a cabaça que está a cair-lhe da mão! Os outros seguidores, tal como rezam os Evangelhos, são uns mais tranquilos, outros mais irrequietos, mas sente-se um misto de animação e até admiração, reações que o vinho dá a cada um.
Mais ainda fiquei a gostar daquela obra.
Achei sensacional o quadro e mais ainda a idéia, mas como o preço pedido eram vinte e cinco contos, demasiado para o meu sempre curto bolso, não comprei. O João Marco comprou dois menores, muito bons, e eu limitei-me a olhar e ficar na minha.
Trabalhava nessa altura no BCCI - Banco de Crédito Comercial e Industrial - e tinha a meu cargo as relações públicas, publicidade e afins. Terminada a exposição, pouco tempo passado, um dos meus diretos colaboradores pediu-me para receber um pintor que precisava de trabalhar. Estaria sem dinheiro para comprar material.
- Quem é ele?
- Makwakwa.
- Interessante. Fui ver a exposição dele, onde vendeu uma boa porção de quadros e já está sem dinheiro? Gostei muito de toda a obra e tive pena de não ter dinheiro para comprar o quadro maior, uma Ceia muito curiosa e bem pintada. Era muito dinheiro para mim!
- Foi o único que ele não vendeu.
- Eu não discuto preço de arte, mas posso fazer uma proposta a ser considerada entre amigos, apesar de não o conhecer. Ele dá-me esse quadro, e eu dou-lhe uma razoável quantidade de material de telas e tintas. Volto a repetir que não tenho vinte e cinco contos!
- Vou falar com ele.
- Ainda podíamos fazer, paralelamente, outra coisa, mas para o Banco. Ele que estude e nos apresente uma idéia sobre a visão africana do dinheiro! O que ele entender e quiser. Assim como concebeu esta Ceia, diferente, ele que pense em algo relacionado com dinheiro, transações comerciais, o que quiser. Três a seis esboços para discutirmos. O Banco compra-lhe os quadros e fará para o próximo ano um calendário com eles.
Encurtando razões. O esperto do Makwakwa, depois de fechado o acordo comigo, foi pedindo sempre mais um pouco de dinheiro, para mais uma tela, mais um pincel, mais uma cor, e não tardou que eu tivesse pago praticamente os vinte e cinco contos que teria custado o quadro! Burro, eu.
Para com o Banco, teve uma outra atitude, dentro da mesma tónica: antes de apresentar os esboços pedidos para se discutir o seu custo, pediu também dinheiro adiantado! E ficou enrolando, enrolando, até que um dia chegou a Revolução e o projeto dos quadros, bem como tudo o mais, se esvaiu, evaporou.
Dinheiro recebido como adiantamento, também por lá ficou!
Passou-se isto em finais de 1973 para 74.
Passados uns quantos anos, em 2001, quando fui estar uma temporada na Casa do Gaiato, ao lado de Boane, a 45 quilometros de, agora, Maputo, já de regresso a casa, fui apresentado no aeroporto a um secretário da embaixada de Moçambique na África do Sul que viajou comigo nesse primeiro trecho. Chamava-se também Makwakwa!
De imediato perguntei-lhe se conhecia ou era da família de um pintor L., que eu não lembrava o que significava, Makwakwa.
Respondeu-me que Makwakwa era um nome muito comum em Moçambique e até na Zambia, porque designava algumas localidades com esse nome. Tinha ouvido falar desse tal pintor, e pelo que, mais ou menos, lhe constava tinha saído há muito da capital, estaria no interior, e, infelizmente, sempre ligado à bebida, sem produzir mais nada!
Uma pena.
7 dez. 10
Francisco Gomes Amorim
É de um moçambicano, L. Makwakwa, o L. já não sei o que abrevia, o resto, nome difícil de escrever! Este Makwakwa, grande artista, sempre andou metido em confusões, não tanto políticas, mas bebedeiras, brigas, e até drogas, e acabou preso em Lourenço Marques. Esteve, creio que uns bons meses, na cadeia da cidade. Algum tempo antes de ser solto, foram-lhe dadas, pela direção da cadeia, telas e tintas para que, além de estar ocupado, preparasse uma exposição a inaugurar com a sua liberdade, e assim conseguir dinheiro para seguir uma carreira fora do alcool. Gesto bonito do diretor da prisão.
A pintura dele é rica, intensa, marcadamente moçambicana. Como não sou crítico de arte não posso afirmar que seja da escola do mestre Malangatana, mas a verdade é que parece ter sido este o percursor de um estilo que distingue, ao primeiro olhar, o artista moçambicano de qualquer um de outro país africano.
Fomos visitar a exposição e o quadro que mais agradou foi este, o maior, que dominava a sala. Estive algum tempo a apreciá-lo até que o artista me veio explicar o seu significado: a Ceia de Cristo, vista por olhos africanos. Um reunião entre um Grande Chefe e os seus doze seguidores, onde sempre se bebe muito, e In Vino Veritas, é grande a alegria e animação de uns e prostração de outros.
Um dos presentes, depois de ter bebido por uma cabaça o vinho, ali configurado como fazendo parte do corpo do Grande Feiticeiro, e com um gesto de falsa amizade, ter colocado a mão no Seu ombro, acaba repudiando a cabaça que está a cair-lhe da mão! Os outros seguidores, tal como rezam os Evangelhos, são uns mais tranquilos, outros mais irrequietos, mas sente-se um misto de animação e até admiração, reações que o vinho dá a cada um.
Mais ainda fiquei a gostar daquela obra.
Achei sensacional o quadro e mais ainda a idéia, mas como o preço pedido eram vinte e cinco contos, demasiado para o meu sempre curto bolso, não comprei. O João Marco comprou dois menores, muito bons, e eu limitei-me a olhar e ficar na minha.
Trabalhava nessa altura no BCCI - Banco de Crédito Comercial e Industrial - e tinha a meu cargo as relações públicas, publicidade e afins. Terminada a exposição, pouco tempo passado, um dos meus diretos colaboradores pediu-me para receber um pintor que precisava de trabalhar. Estaria sem dinheiro para comprar material.
- Quem é ele?
- Makwakwa.
- Interessante. Fui ver a exposição dele, onde vendeu uma boa porção de quadros e já está sem dinheiro? Gostei muito de toda a obra e tive pena de não ter dinheiro para comprar o quadro maior, uma Ceia muito curiosa e bem pintada. Era muito dinheiro para mim!
- Foi o único que ele não vendeu.
- Eu não discuto preço de arte, mas posso fazer uma proposta a ser considerada entre amigos, apesar de não o conhecer. Ele dá-me esse quadro, e eu dou-lhe uma razoável quantidade de material de telas e tintas. Volto a repetir que não tenho vinte e cinco contos!
- Vou falar com ele.
- Ainda podíamos fazer, paralelamente, outra coisa, mas para o Banco. Ele que estude e nos apresente uma idéia sobre a visão africana do dinheiro! O que ele entender e quiser. Assim como concebeu esta Ceia, diferente, ele que pense em algo relacionado com dinheiro, transações comerciais, o que quiser. Três a seis esboços para discutirmos. O Banco compra-lhe os quadros e fará para o próximo ano um calendário com eles.
Encurtando razões. O esperto do Makwakwa, depois de fechado o acordo comigo, foi pedindo sempre mais um pouco de dinheiro, para mais uma tela, mais um pincel, mais uma cor, e não tardou que eu tivesse pago praticamente os vinte e cinco contos que teria custado o quadro! Burro, eu.
Para com o Banco, teve uma outra atitude, dentro da mesma tónica: antes de apresentar os esboços pedidos para se discutir o seu custo, pediu também dinheiro adiantado! E ficou enrolando, enrolando, até que um dia chegou a Revolução e o projeto dos quadros, bem como tudo o mais, se esvaiu, evaporou.
Dinheiro recebido como adiantamento, também por lá ficou!
Passou-se isto em finais de 1973 para 74.
Passados uns quantos anos, em 2001, quando fui estar uma temporada na Casa do Gaiato, ao lado de Boane, a 45 quilometros de, agora, Maputo, já de regresso a casa, fui apresentado no aeroporto a um secretário da embaixada de Moçambique na África do Sul que viajou comigo nesse primeiro trecho. Chamava-se também Makwakwa!
De imediato perguntei-lhe se conhecia ou era da família de um pintor L., que eu não lembrava o que significava, Makwakwa.
Respondeu-me que Makwakwa era um nome muito comum em Moçambique e até na Zambia, porque designava algumas localidades com esse nome. Tinha ouvido falar desse tal pintor, e pelo que, mais ou menos, lhe constava tinha saído há muito da capital, estaria no interior, e, infelizmente, sempre ligado à bebida, sem produzir mais nada!
Uma pena.
7 dez. 10
Francisco Gomes Amorim
sábado, 11 de dezembro de 2010
Interligação de Universos (10)
………………….fala-me sobre o amor.
- Palavra tantas vezes pronunciada e tão mal compreendida. Que é o Amor senão a expressão da tua aliança com Deus, com o Uno, contigo. Palavra tão utilizada em relação a algo exterior a vós, a tudo que vos rodeia e que é mutável, a tudo que é ilusão. Como podereis amar a alguém ou algo, sem teres partilhado da essência que é o Amor? Aquilo a que muitas vezes chamais amor, na verdade é apego, é posse, é desejo. Despe-te de ti próprio e penetra no teu interior, procura dentro de ti a pérola que existe em todos, o teu Núcleo Divino. Aí, então, mergulha nesse néctar, sacia a tua sede. Saberás então que o Amor sempre esteve em ti, aguardando a tua empatia vibratória, a tua inclusão naquilo que tu já És, Amor, Unidade Cósmica. Vidas e vidas despendeste procurando no exterior aquilo que sempre esteve em ti. Cansada de tanto caminhar a humanidade rende-se e inicia o caminho de retorno a Casa, ao verdadeiro Amor. Aquele que não exclui, que não tem preferência por credos, religiões, raças, laços familiares, desejos, sentido de posse e que tudo envolve em um só. Ama-Te e estarás amando tudo e todos. O verdadeiro Amor, aquele que te completará não está no exterior em qualquer outro ser, mas dentro de ti.
António Alfacinha
Alfa2749@yahoo.com.br
- Palavra tantas vezes pronunciada e tão mal compreendida. Que é o Amor senão a expressão da tua aliança com Deus, com o Uno, contigo. Palavra tão utilizada em relação a algo exterior a vós, a tudo que vos rodeia e que é mutável, a tudo que é ilusão. Como podereis amar a alguém ou algo, sem teres partilhado da essência que é o Amor? Aquilo a que muitas vezes chamais amor, na verdade é apego, é posse, é desejo. Despe-te de ti próprio e penetra no teu interior, procura dentro de ti a pérola que existe em todos, o teu Núcleo Divino. Aí, então, mergulha nesse néctar, sacia a tua sede. Saberás então que o Amor sempre esteve em ti, aguardando a tua empatia vibratória, a tua inclusão naquilo que tu já És, Amor, Unidade Cósmica. Vidas e vidas despendeste procurando no exterior aquilo que sempre esteve em ti. Cansada de tanto caminhar a humanidade rende-se e inicia o caminho de retorno a Casa, ao verdadeiro Amor. Aquele que não exclui, que não tem preferência por credos, religiões, raças, laços familiares, desejos, sentido de posse e que tudo envolve em um só. Ama-Te e estarás amando tudo e todos. O verdadeiro Amor, aquele que te completará não está no exterior em qualquer outro ser, mas dentro de ti.
António Alfacinha
Alfa2749@yahoo.com.br
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Interligação de Universos
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
....o choro e o choro de Kátia....
Não sei se o choro era de indignação ou de medo. Se era de raiva ou de abandono.
Kátia chegou chorando.
Com as mãos algemadas, tentava em vão esconder o rosto abaixando a cabeça. Mas era impossível não vê-la nem ouvi-la aos berros.
Antes mesmo de entrar na apertada sala de audiências, já chamava a atenção de todos. O choro ininterrupto e incontrolável que vinha de fora, quando ainda conversava com a defensora na beira da sala.
As paredes têm ouvidos, mais ainda com as portas abertas. E para um choro desse tamanho, então, sobram ouvidos para todos os lados.
Vivíamos momentos de tensão, na expectativa de que ela entrasse e na certeza que traria consigo uma emoção que sempre rompe com a sisudez de uma audiência criminal.
Kátia tinha bons motivos para chorar.
Não bastasse o fato de estar presa, quando o processo ainda engatinhava, recebera contra si uma acusação de grande calibre. Quinze quilos de cocaína, armas, dinheiro, embalagens e balanças de precisão para a pesagem do entorpecente. Um estoque de drogas digno de um complexo do alemão. E Kátia, parda, pobre e triste, atônita pela acusação de ser a dona de tudo aquilo.
Ela não tinha dinheiro para contratar um advogado. Não tinha testemunhas a seu favor. Não tinha parentes ou amigos que pedissem ou zelassem por ela. E não tinha, sobretudo, cara de quem fosse responsável por aquela quantidade toda de droga.
Droga, deve ter pensado, enquanto chorava e chorava ao ouvir os policiais narrando as condições em que fora presa. Um adolescente dizia que acabara de comprar droga dela, e os PMs ouvindo a indicação de onde ela encontrara o entorpecente.
Mas não houve quem confirmasse que ela tinha droga em seu poder quando foi presa. Ou que admitira que aquela droga, escondida em um barraco duas quadras adiante, era de fato dela.
As provas foram se fragilizando a vista de todos, mas ela não entendia o suficiente para parar de chorar.
Na segunda audiência, mais choro ao adentrar à sala. Ninguém mais para ser ouvido, o adolescente não foi encontrado, pois forneceu endereço falso. Era só Kátia. Quando chegou a sua vez de falar, ela simplesmente chorou. Chorou e chorou. Um choro tão sincero e comovido que quase lhe serviu de defesa.
Não sei se o choro era de indignação ou de medo. Se era de raiva ou de abandono. Mas enquanto ela chorava e a promotora e a defensora se entreolhavam, duvidando que aquela mulher frágil fosse responsável pela droga apreendida, as peças do quebra-cabeça iam lentamente se formando. Verdade seja dita: não mostravam imagem alguma.
Ao final, ela conseguiu me dizer algumas poucas palavras desconexas que significavam mais do que pareciam: “macaca nóia, você vai segurar tudo, você vai segurar tudo, macaca. E eu estou aqui, doutor. Segurando tudo.”
Segurou tudo, menos o choro, que se rompeu com mais força depois do desabafo.
Quando as fumaças foram lentamente se dissipando, quando todos naquela sala chegavam a conclusão que considerar Kátia a dona da droga era de uma improbabilidade atroz, quando o consenso de que ela dizia algo próximo a verdade foi se criando entre nós, em meio a sussurros e olhares compartilhados, eu encarei Kátia uma vez mais, antes de ditar a sentença.
Fiz com uma ponta de culpa, por três meses de prisão sem sentido.
Fiz com uma ponta de orgulho. Vai saber o que podia acontecer a ela em outro lugar, com outra defensora, outra promotora, outro juiz.
Fiz com a sensação de um dever a ser cumprido. E com a ansiedade de dizer logo a ela que aquela história acabava por aqui.
Eu a absolvi e mandei que ela fosse solta. Nem a acusação discordou.
Mas Kátia não respondeu a meus olhares, nem fez cara de agradecimento. Não sorriu, nem conseguiu dizer palavra alguma. Ao saber que seria solta, saiu da sala chorando compulsivamente da mesma forma como nela tinha entrado.
Passados os dias, eu não me recordo mais da cara, nem da voz de Kátia. Mas não tenho como esquecer o som do seu choro.
Seu choro nos tirou uma pesada cruz das costas. Mas o silêncio que deixou atrás de si era ainda mais incômodo.
Quem é que não teve vontade de chorar depois que ela saiu?
Marcelo Semer
Juiz e Escritor
Kátia chegou chorando.
Com as mãos algemadas, tentava em vão esconder o rosto abaixando a cabeça. Mas era impossível não vê-la nem ouvi-la aos berros.
Antes mesmo de entrar na apertada sala de audiências, já chamava a atenção de todos. O choro ininterrupto e incontrolável que vinha de fora, quando ainda conversava com a defensora na beira da sala.
As paredes têm ouvidos, mais ainda com as portas abertas. E para um choro desse tamanho, então, sobram ouvidos para todos os lados.
Vivíamos momentos de tensão, na expectativa de que ela entrasse e na certeza que traria consigo uma emoção que sempre rompe com a sisudez de uma audiência criminal.
Kátia tinha bons motivos para chorar.
Não bastasse o fato de estar presa, quando o processo ainda engatinhava, recebera contra si uma acusação de grande calibre. Quinze quilos de cocaína, armas, dinheiro, embalagens e balanças de precisão para a pesagem do entorpecente. Um estoque de drogas digno de um complexo do alemão. E Kátia, parda, pobre e triste, atônita pela acusação de ser a dona de tudo aquilo.
Ela não tinha dinheiro para contratar um advogado. Não tinha testemunhas a seu favor. Não tinha parentes ou amigos que pedissem ou zelassem por ela. E não tinha, sobretudo, cara de quem fosse responsável por aquela quantidade toda de droga.
Droga, deve ter pensado, enquanto chorava e chorava ao ouvir os policiais narrando as condições em que fora presa. Um adolescente dizia que acabara de comprar droga dela, e os PMs ouvindo a indicação de onde ela encontrara o entorpecente.
Mas não houve quem confirmasse que ela tinha droga em seu poder quando foi presa. Ou que admitira que aquela droga, escondida em um barraco duas quadras adiante, era de fato dela.
As provas foram se fragilizando a vista de todos, mas ela não entendia o suficiente para parar de chorar.
Na segunda audiência, mais choro ao adentrar à sala. Ninguém mais para ser ouvido, o adolescente não foi encontrado, pois forneceu endereço falso. Era só Kátia. Quando chegou a sua vez de falar, ela simplesmente chorou. Chorou e chorou. Um choro tão sincero e comovido que quase lhe serviu de defesa.
Não sei se o choro era de indignação ou de medo. Se era de raiva ou de abandono. Mas enquanto ela chorava e a promotora e a defensora se entreolhavam, duvidando que aquela mulher frágil fosse responsável pela droga apreendida, as peças do quebra-cabeça iam lentamente se formando. Verdade seja dita: não mostravam imagem alguma.
Ao final, ela conseguiu me dizer algumas poucas palavras desconexas que significavam mais do que pareciam: “macaca nóia, você vai segurar tudo, você vai segurar tudo, macaca. E eu estou aqui, doutor. Segurando tudo.”
Segurou tudo, menos o choro, que se rompeu com mais força depois do desabafo.
Quando as fumaças foram lentamente se dissipando, quando todos naquela sala chegavam a conclusão que considerar Kátia a dona da droga era de uma improbabilidade atroz, quando o consenso de que ela dizia algo próximo a verdade foi se criando entre nós, em meio a sussurros e olhares compartilhados, eu encarei Kátia uma vez mais, antes de ditar a sentença.
Fiz com uma ponta de culpa, por três meses de prisão sem sentido.
Fiz com uma ponta de orgulho. Vai saber o que podia acontecer a ela em outro lugar, com outra defensora, outra promotora, outro juiz.
Fiz com a sensação de um dever a ser cumprido. E com a ansiedade de dizer logo a ela que aquela história acabava por aqui.
Eu a absolvi e mandei que ela fosse solta. Nem a acusação discordou.
Mas Kátia não respondeu a meus olhares, nem fez cara de agradecimento. Não sorriu, nem conseguiu dizer palavra alguma. Ao saber que seria solta, saiu da sala chorando compulsivamente da mesma forma como nela tinha entrado.
Passados os dias, eu não me recordo mais da cara, nem da voz de Kátia. Mas não tenho como esquecer o som do seu choro.
Seu choro nos tirou uma pesada cruz das costas. Mas o silêncio que deixou atrás de si era ainda mais incômodo.
Quem é que não teve vontade de chorar depois que ela saiu?
Marcelo Semer
Juiz e Escritor
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XV
Favela 1511 Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 50x60cm
(clique sobre a imagen)
Na minha pesquisa para esta série, fiquei com diverso material numa espécie de manifestação do caos que, por definição, contém todas as formas e cores possíveis. Sendo assim, era simples; para executar a obra bastava deitar fora tudo o que não fosse necessário.
Depois de seleccionar a favela que serviria de base a este quadro, faltava pensar os meios que iria utilizar.
Pensar é aproveitar tudo o que sei para cumprir o meu objectivo: transmitir sensações. Pensar é dar forma ao caos, torná-lo credível para o observador, isto é, identificá-lo, mas, ao mesmo tempo, retirar-lhe a consistência, torná-lo virtual, porque faço por esquecer o que não me interessa, salientando, apenas, a sua beleza.
No desenho, apenas esboçado, de repente, começaram a surgir as janelas, as ruas, as pessoas, como notas musicais coloridas, numa pauta mágica.
E cumpriu-se o seu destino! Afinal, cor é magia!
Com esta conversa erudita, não sei se deu para perceber o mais importante:
Gosto mesmo muito desta obra!
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Ora, o Goiás!
Se vou me meter numa seara perigosa... escrever é muito perigoso, parafraseando Riobaldo. Vou! Vou falar de futebol. Deveria comemorar o campeonato do meu Fluminense, mas com o tempo parece mesmo que a gente vai torcendo mais pelas pessoas que pelos clubes. Anote aí que a frase não é minha, é de Eduardo Galeano. Ou ainda falar do quanto o Goiás fez a diferença nas rodadas finais do brasileirão; em especial na última.
Prefiro, entretanto, perturbar o pensamento do leitor sobre o que pode acontecer hoje à noite. Uma coisa inusitada em termos de futebol. Um time rebaixado para a segunda divisão do campeonato nacional poderá se tornar campeão de um torneio internacional. Que o futebol é uma caixa de surpresas (e lá vou eu enchendo o texto com citações alheias) não é novidade, mas a conquista do Goiás será desconcertante.
Vejam só, não sou torcedor do Goiás, mas hoje à noite o Goiás é o Brasil (outra citação). Mais que isso, ele representa todos esses times fora do eixo sul-sudeste, representa uma alegria para torcedores que não costumam ter os nomes de seus times entre os grandes, cidadãos que não costumam ver sua região, seu estado se desenvolver ou se destacar em certos setores e atividades. Sei que exagero, mas é o que sinto. Quero vê-lo campeão (até para alegria de meu amigo Ilídio, na minha macondo – Marabá – ficar contente com seu time).
Entretanto é desconcertante. O problema é que no Brasil mesmo os times ditos grandes, não conseguem ter plantel para se sustentar em dois campeonatos. Não adianta colocar a culpa no acúmulo de torneios paralelos. Na Europa, não é muito diferente, mas lá os times montam plantéis de titulares suficientes para dois times.
Houve época em que se falava até de Milan A e Milan B. Nestas terras tupiniquins, em que mal os times se sustentam com 2/3 de bom elenco, seria um luxo inimaginável.
Por isso o Goiás caiu. Por isso um time que na pior hipótese será vice. Não! Não vou nem pensar nisso... Por isso um time que será campeão hoje à noite, vai no ano que vem disputar dois campeonatos paralelos: a Copa Libertadores da América e o Brasileirão da série B. E, como deverá, a exemplo desse ano, optar por direcionar atenções, treinamentos, jogadores a uma das competições... paremos por aqui.
Isto é que digo que é desconcertante: disputar a série B e um torneio internacional. Já disse que sou amante das leis (de algumas) e disse no início do texto que ia meter-me em seara perigosa falando sobre futebol. Pois bem, caros leitores, no caso do Goiás, torço para que seja campeão. Mas torço também para que algum passe de mágica faça-o disputar paralelamente a Libertadores, o Brasileirão 2011 da série A.
Belém, 08 de dezembro de 2010.
Abilio Pacheco, professor, escritor.
www.abiliopacheco.com.br
Prefiro, entretanto, perturbar o pensamento do leitor sobre o que pode acontecer hoje à noite. Uma coisa inusitada em termos de futebol. Um time rebaixado para a segunda divisão do campeonato nacional poderá se tornar campeão de um torneio internacional. Que o futebol é uma caixa de surpresas (e lá vou eu enchendo o texto com citações alheias) não é novidade, mas a conquista do Goiás será desconcertante.
Vejam só, não sou torcedor do Goiás, mas hoje à noite o Goiás é o Brasil (outra citação). Mais que isso, ele representa todos esses times fora do eixo sul-sudeste, representa uma alegria para torcedores que não costumam ter os nomes de seus times entre os grandes, cidadãos que não costumam ver sua região, seu estado se desenvolver ou se destacar em certos setores e atividades. Sei que exagero, mas é o que sinto. Quero vê-lo campeão (até para alegria de meu amigo Ilídio, na minha macondo – Marabá – ficar contente com seu time).
Entretanto é desconcertante. O problema é que no Brasil mesmo os times ditos grandes, não conseguem ter plantel para se sustentar em dois campeonatos. Não adianta colocar a culpa no acúmulo de torneios paralelos. Na Europa, não é muito diferente, mas lá os times montam plantéis de titulares suficientes para dois times.
Houve época em que se falava até de Milan A e Milan B. Nestas terras tupiniquins, em que mal os times se sustentam com 2/3 de bom elenco, seria um luxo inimaginável.
Por isso o Goiás caiu. Por isso um time que na pior hipótese será vice. Não! Não vou nem pensar nisso... Por isso um time que será campeão hoje à noite, vai no ano que vem disputar dois campeonatos paralelos: a Copa Libertadores da América e o Brasileirão da série B. E, como deverá, a exemplo desse ano, optar por direcionar atenções, treinamentos, jogadores a uma das competições... paremos por aqui.
Isto é que digo que é desconcertante: disputar a série B e um torneio internacional. Já disse que sou amante das leis (de algumas) e disse no início do texto que ia meter-me em seara perigosa falando sobre futebol. Pois bem, caros leitores, no caso do Goiás, torço para que seja campeão. Mas torço também para que algum passe de mágica faça-o disputar paralelamente a Libertadores, o Brasileirão 2011 da série A.
Belém, 08 de dezembro de 2010.
Abilio Pacheco, professor, escritor.
www.abiliopacheco.com.br
terça-feira, 7 de dezembro de 2010
Vidas Lusófonas
O rigor histórico não está condenado à prosa de notário,
é possível conviver com as figuras do passado.
Saber o que foi, pode ajudar-nos a talhar o que será.
O médico
JOSÉ FELICIANO
de CASTILHO
http://www.vidaslusofonas.pt/jcastilho.htm
enfrenta o Reitor
da Universidade de Coimbra.
Carlos Vieira Reis sugere
e o médico instala-se em
VIDAS LUSÓFONAS
http://www.vidaslusofonas.pt/
onde já moram 137.
Naquela casa
tudo está a acontecer,
cada vida / cada conto.
Por isso já recebeu
mais de 22,4 milhões de visitas.
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Carlos Vieira Reis,
José Feliciano de Castilho,
Vidas Lusófonas
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
FINAL
No final do dia
aproximado ao cansaço
presente. Ausentado ao tempo
não traduzido, esmaecido
nos alvoreceres da noite
amanhecido em finais
de tardes recompostas
minha ausência despercebida
em minúcias: a estrada
bloqueando a entrada.
aproximado ao cansaço
trazido dos ofícios
não estou
não estou
presente. Ausentado ao tempo
não traduzido, esmaecido
nos alvoreceres da noite
amanhecido em finais
de tardes recompostas
minha ausência despercebida
em minúcias: a estrada
bloqueando a entrada.
(Pedro Du Bois, inédito)
domingo, 5 de dezembro de 2010
Filosofia e Saudade
9. Junqueiro, Brandão e Pascoaes
Guerra Junqueiro (1850-1923), amigo de Sampaio Bruno e do pai de Teixeira de Pascoaes. É um dos pensadores da Portucalidade e uma referência para Pascoaes. Neste autor, Portugal surge associado à figura de Jesus Cristo...
Raul Brandão (1867-1930), amigo de Pascoaes, é o pensador da dor. É a dor que nos empurra para a frente. Só sofrendo se abre cada vez mais a consciência...
Teixeira de Pascoaes (1877-1952), o autor do Saudosismo, uma proposta de interpretação da Saudade. Um programa de acção para Portugal...
10. Renascença Portuguesa
Renascença Portuguesa foi um movimento cultural português surgido em 1912 no Porto que se manteve activo durante o primeiro quartel do século XX. O movimento tinha subjacente um ideal nacionalista ligado, no plano literário e filosófico, ao neo-garrettismo e a um sebastianismo quase messiânico. Enquanto agrupamento de acção sócio-cultural, a Renascença Portuguesa desenvolveu uma notável actividade, com aspectos originais, obedecendo ao propósito de "dar conteúdo renovador e fecundo à revolução republicana" (Jaime Cortesão). Teve como principal mentor, sobretudo até 1916, Teixeira de Pascoaes, com a sua teoria do saudosismo e, numa segunda fase, Leonardo Coimbra. Tinha como órgão a revista A Águia — Órgão da Renascença Portuguesa, publicado no Porto de 1910 a 1932, e o quinzenário Vida Portuguesa.
As coordenadas para a fundação do movimento foram definidos em reuniões realizadas em Coimbra a 27 de Agosto de 1911 e em Lisboa a 17 de Setembro 1911, tendo o processo sido liderado por Jaime Zuzarte Cortesão, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra e Álvaro Pinto.
Na Revista A Águia, colaboraram para além dos fundadores, Mário Beirão, António Correia de Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro.
Luis Santos
Referências Bibliográficas:
- Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
- Wikipédia, Enciclopédia Livre
Guerra Junqueiro (1850-1923), amigo de Sampaio Bruno e do pai de Teixeira de Pascoaes. É um dos pensadores da Portucalidade e uma referência para Pascoaes. Neste autor, Portugal surge associado à figura de Jesus Cristo...
Raul Brandão (1867-1930), amigo de Pascoaes, é o pensador da dor. É a dor que nos empurra para a frente. Só sofrendo se abre cada vez mais a consciência...
Teixeira de Pascoaes (1877-1952), o autor do Saudosismo, uma proposta de interpretação da Saudade. Um programa de acção para Portugal...
10. Renascença Portuguesa
Renascença Portuguesa foi um movimento cultural português surgido em 1912 no Porto que se manteve activo durante o primeiro quartel do século XX. O movimento tinha subjacente um ideal nacionalista ligado, no plano literário e filosófico, ao neo-garrettismo e a um sebastianismo quase messiânico. Enquanto agrupamento de acção sócio-cultural, a Renascença Portuguesa desenvolveu uma notável actividade, com aspectos originais, obedecendo ao propósito de "dar conteúdo renovador e fecundo à revolução republicana" (Jaime Cortesão). Teve como principal mentor, sobretudo até 1916, Teixeira de Pascoaes, com a sua teoria do saudosismo e, numa segunda fase, Leonardo Coimbra. Tinha como órgão a revista A Águia — Órgão da Renascença Portuguesa, publicado no Porto de 1910 a 1932, e o quinzenário Vida Portuguesa.
As coordenadas para a fundação do movimento foram definidos em reuniões realizadas em Coimbra a 27 de Agosto de 1911 e em Lisboa a 17 de Setembro 1911, tendo o processo sido liderado por Jaime Zuzarte Cortesão, Teixeira de Pascoaes, Leonardo Coimbra e Álvaro Pinto.
Na Revista A Águia, colaboraram para além dos fundadores, Mário Beirão, António Correia de Oliveira, Afonso Lopes Vieira, Fernando Pessoa e Mário de Sá Carneiro.
Luis Santos
Referências Bibliográficas:
- Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
- Wikipédia, Enciclopédia Livre
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Saudade
sábado, 4 de dezembro de 2010
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Crónica de Aniversário
Há cerca de três anos e meio tive uma ideia absurda. Decidi que ao atingir 500 amigos no Orkut iria publicar meu primeiro livro de poemas. Quase um ano e meio depois, veio a lume meu ‘mosaico primevo’, que é o primeiro impresso em gráfica, posto que outros dois já haviam sido mal prelados: um em impressora jato de tinta (poemia) e outro em xerox (vago mar – sob heterônimo).
Dizer que a ideia foi absurda deve ser eufemismo. Afinal, meus 500 amigos (na época) de orkut não iriam comprar cada um um exemplar. Aqueles que compraram ou não, certamente não o fizeram por causa do site de relacionamento, mas por causa do relacionamento comigo fora da net.
Mas não foi a venda ou não de livros para amigos de orkut o que mais me chamou atenção sobre estes relacionamentos reais / virtuais. O termo virtual não me soa bem. Afinal, não consigo enumerar pessoas com as quais nos últimos cinco anos tenho me relacionado apenas pela Internet. Todas são bem reais, garanto! E a relação estabelecida com eles nada tem de virtual. Alguns transitam das páginas da net para o telefone fixo, para minha caixa postal, para porta da minha casa, para ruas por onde ando, para corredores de instituições onde trabalho…
Foram alguns destes que me surpreenderam há dois anos. Talvez crise de ingenuidade. Ao se passar por uma pessoa conhecida sua que está fazendo aniversário e você tem ciência, você cumprimenta? Parabeniza? Se você, distante no espaço, sabe do aniversário de alguém, você telefona, manda email, scrapt no orkut ou mensagem pelo facebook? Ora da quantidade de mensagens de feliz aniversário em meu scrapt do orkut em 2008 (cerca de 2/3 dos amigos mandaram mensagem), muitas eram de colegas de trabalho e alunos para quem eu estava lecionando naqueles dias.
Eis o meu espanto, coisa que custei a entender e que ainda não me assentou direito: quem te cumprimenta na net, pode te ignorar totalmente ao vivo (vice-versa?). Para todos no Orkut agradeci o scrapt. Talvez isso tenha dado a interlocução como encerrada. Pessoalmente, poucos tocaram no assunto. Teve quem telefonasse, mandasse email… Destes dos scrapts aos quais resolvi agradecer, ouvi respostas interrogativas. Houve quem garantisse que não me mandara mensagem alguma.
Não, gente! Não estou querendo festas, tapetes vermelhos, bolos e presentes. Sequer me queixo de lembrancinhas ou mesmo da lembrança de que completo anos. Apenas chamo atenção para isto: parece haver em muitas pessoas uma cisão significativa entre a vida hodierna (off-line) e vida na Internet (on-line). Como o que se faz e se vive na Internet não apresentasse conexão com o que se faz na vida cotidiana. Não se lembram de compromissos marcados, de tarefas, de emails que enviaram. A Psicologia deve já estar estudando isso.
Este é o primeiro aniversário que completo estando no Facebook. (Desta vez não vou criar meta de amigos para me decidir pelo lançamento do próximo livro.) Talvez a coisa tenha mudado de dois anos para cá. Talvez alguns (especialmente os alunos) leiam isto aqui (crônica de aniversário – é um gênero? um sub-gênero?) e o comportamento seja diferente na segunda (que é quando volto à sala de aula, pois estou afundado numa suspeita de dengue). De todo modo, antes de escrever esta crônica ainda não li meus emails, scrapts ou mensagens no Facebook. Farei isso amanhã, conforme a febre e as dores deixarem.
É certo que muitos amigos verdadeiros e virtuais (só porque o termo que se é este, mas extremamente reais) vão usar a net para mandar mensagens de aniversário, não há mal algum nisso. Vou ler com muita satisfação, já disse: conforme a suspeita de dengue deixar. Entretanto, maior satisfação será ver algum pessoalmente nos próximos dias e receber um abraço.
Belém, 01 de Dezembro de 2010.
Abilio Pacheco, professor, escritor
Dizer que a ideia foi absurda deve ser eufemismo. Afinal, meus 500 amigos (na época) de orkut não iriam comprar cada um um exemplar. Aqueles que compraram ou não, certamente não o fizeram por causa do site de relacionamento, mas por causa do relacionamento comigo fora da net.
Mas não foi a venda ou não de livros para amigos de orkut o que mais me chamou atenção sobre estes relacionamentos reais / virtuais. O termo virtual não me soa bem. Afinal, não consigo enumerar pessoas com as quais nos últimos cinco anos tenho me relacionado apenas pela Internet. Todas são bem reais, garanto! E a relação estabelecida com eles nada tem de virtual. Alguns transitam das páginas da net para o telefone fixo, para minha caixa postal, para porta da minha casa, para ruas por onde ando, para corredores de instituições onde trabalho…
Foram alguns destes que me surpreenderam há dois anos. Talvez crise de ingenuidade. Ao se passar por uma pessoa conhecida sua que está fazendo aniversário e você tem ciência, você cumprimenta? Parabeniza? Se você, distante no espaço, sabe do aniversário de alguém, você telefona, manda email, scrapt no orkut ou mensagem pelo facebook? Ora da quantidade de mensagens de feliz aniversário em meu scrapt do orkut em 2008 (cerca de 2/3 dos amigos mandaram mensagem), muitas eram de colegas de trabalho e alunos para quem eu estava lecionando naqueles dias.
Eis o meu espanto, coisa que custei a entender e que ainda não me assentou direito: quem te cumprimenta na net, pode te ignorar totalmente ao vivo (vice-versa?). Para todos no Orkut agradeci o scrapt. Talvez isso tenha dado a interlocução como encerrada. Pessoalmente, poucos tocaram no assunto. Teve quem telefonasse, mandasse email… Destes dos scrapts aos quais resolvi agradecer, ouvi respostas interrogativas. Houve quem garantisse que não me mandara mensagem alguma.
Não, gente! Não estou querendo festas, tapetes vermelhos, bolos e presentes. Sequer me queixo de lembrancinhas ou mesmo da lembrança de que completo anos. Apenas chamo atenção para isto: parece haver em muitas pessoas uma cisão significativa entre a vida hodierna (off-line) e vida na Internet (on-line). Como o que se faz e se vive na Internet não apresentasse conexão com o que se faz na vida cotidiana. Não se lembram de compromissos marcados, de tarefas, de emails que enviaram. A Psicologia deve já estar estudando isso.
Este é o primeiro aniversário que completo estando no Facebook. (Desta vez não vou criar meta de amigos para me decidir pelo lançamento do próximo livro.) Talvez a coisa tenha mudado de dois anos para cá. Talvez alguns (especialmente os alunos) leiam isto aqui (crônica de aniversário – é um gênero? um sub-gênero?) e o comportamento seja diferente na segunda (que é quando volto à sala de aula, pois estou afundado numa suspeita de dengue). De todo modo, antes de escrever esta crônica ainda não li meus emails, scrapts ou mensagens no Facebook. Farei isso amanhã, conforme a febre e as dores deixarem.
É certo que muitos amigos verdadeiros e virtuais (só porque o termo que se é este, mas extremamente reais) vão usar a net para mandar mensagens de aniversário, não há mal algum nisso. Vou ler com muita satisfação, já disse: conforme a suspeita de dengue deixar. Entretanto, maior satisfação será ver algum pessoalmente nos próximos dias e receber um abraço.
Belém, 01 de Dezembro de 2010.
Abilio Pacheco, professor, escritor
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XIV
Favela 911 Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 50x60cm
(clique sobre a imagem)
Acabei esta primeira obra duma série que há longo tempo vinha planeando, em 9 de Novembro, daí o seu título, Favela 911. Desgraçadamente, pelos piores motivos, este tema tornou-se notícia de primeira página e abertura de noticiários de televisão. Não tinha intenção de apresentar estas obras no Estudo Geral, mas "Vemos, ouvimos e lemos...não podemos ignorar"...
Favela no Brasil, bairro de lata em Portugal ou musseque em Angola, são palavras que definem a área degradada de uma cidade, caracterizada por moradias precárias, com edificações inadequadas e materiais de construção inventados, muitas vezes estranguladas entre morros ou colinas.
No meu quadro é o azul que oprime as casas e as pessoas que se adivinham nos intervalos coloridos das vielas estreitas e é o amarelo que serve de manto diáfano para a dureza do quotidiano.
Esta é a primeira obra duma nova série a que chamo, Favela, porque das palavras que definem esta realidade, é a palavra mais colorida.
Na penumbra dourada que suaviza as cores cruas do passado presente, espero que encontrem a beleza verdadeira, aquela que provoca arrepios, como na canção de Caetano Veloso, Menino do Rio.
Tomem esta minha obra como um abraço!
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Criação
O olhar inequívoco do mestre
Com que defronta a tela.
No desabafo cruel pela
Imaginação se solta.
Alienada transcendência,
Declamando com o pincel
A emoção, formando cores
Espelhando a alma.
Composta a certeza, ergue-se
O corrupio cromático da tela.
Viagem lúcida estendendo-se em arco-íris!!!
A emoção quebrou o pensamento,
E a visão de paisagem outrora real
No presente floresce, dançando como a força
Do sol que entra pela janela.
Diogo Correia
(poema escrito em 2008)
Com que defronta a tela.
No desabafo cruel pela
Imaginação se solta.
Alienada transcendência,
Declamando com o pincel
A emoção, formando cores
Espelhando a alma.
Composta a certeza, ergue-se
O corrupio cromático da tela.
Viagem lúcida estendendo-se em arco-íris!!!
A emoção quebrou o pensamento,
E a visão de paisagem outrora real
No presente floresce, dançando como a força
Do sol que entra pela janela.
Diogo Correia
(poema escrito em 2008)
terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
"entre barreiras"
entre barreiras ergo o esqueleto
entorpecido para rasgar o sepulcro da vontade.
vi-te correr como gaivota de asas de cera
a imensidão do oceano tão longínquo
e tão estreitamente intemporal.
por isso te conservo sem braços sem rosto
despida de ideologias
de olhos nus por entre a barba
da terra em cada manhã fresca
de cacimbo quando gritavas
a tua sede no azul que flutuava em redor.
falo não-digo.
já ouço lá fora o histerismo contagiante:
as moscas poisam-me nas mãos.
Raul Costa
www.pbase.com/aliusvetus
entorpecido para rasgar o sepulcro da vontade.
vi-te correr como gaivota de asas de cera
a imensidão do oceano tão longínquo
e tão estreitamente intemporal.
por isso te conservo sem braços sem rosto
despida de ideologias
de olhos nus por entre a barba
da terra em cada manhã fresca
de cacimbo quando gritavas
a tua sede no azul que flutuava em redor.
falo não-digo.
já ouço lá fora o histerismo contagiante:
as moscas poisam-me nas mãos.
Raul Costa
www.pbase.com/aliusvetus
domingo, 28 de novembro de 2010
LEMBREM-SE DO PADEIRO!
A história sobre um escandaloso erro judicial foi há dias contada na SIC pelo juiz Orlando Afonso, prestigiado membro do Supremo Tribunal de Portugal.
In illo temporae, um padeiro foi acusado, julgado e condenado pelo assassinato de alguém e terá morrido no cárcere antes do cumprimento integral da pena. Muitos anos mais tarde, morreu um outro personagem – que nunca fora tido nem achado no processo judicial que vitimou o padeiro – e qual não foi o espanto quando, ao abrirem-lhe o testamento, depararam com a confissão do assassinato de que o padeiro fora inculpado.
O escândalo foi tal que os juízes mandaram tingir de preto as becas que até então eram encarnadas e durante muitos anos, sempre que um Tribunal reunia, alguém proferia em voz alta na sala de audiências a frase «LEMBREM-SE DO POBRE PADEIRO!»
Aqui fica a sugestão a todos os profissionais da política portuguesa: lembrem-se hoje do justo padeiro medieval que pagou pelo pecador.
Novembro de 2010
Henrique Salles da Fonseca
sábado, 27 de novembro de 2010
Um artista ouro-pretano
Ouro Preto
Foto fonte: Revista: Diálogo Médico (Ouro Preto, jan/1992)
Em 18 de novembro de 1814, numa modesta casa de Ouro Preto, encima de um pobre estrado de madeira, expirava Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Andar por Ouro Preto, a antiga Vila Rica, é subir e descer ladeiras, é ficar com torcicolo de tanto olhar para cima e para baixo as suas belas moradias e ricas igrejas dos tempos do Brasil Colônia. Tombada em 1981 Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, a cidade possui o maior acervo de obras sacras barrocas do mundo. Calçadas por pedras pé-de-moleque, ruas e becos guardam histórias, lendas e segredos dos inconfidentes. Casas ricas ou pobres, geminadas, testemunhas de vidas e mortes, todas conservadas pela necessidade histórica de preservá-las para o turismo ou para o grande número de estudantes, que povoa a cidade no tempo das atividades escolares, na preparação para cursos universitários em Farmácia, Geologia e Mineralogia que lá têm base.
A cidade das ladeiras, fundada pelos bandeirantes paulistas, é um misto de passado e presente, bem dosado, onde se encontra um espaço para toda a gente. Após um dia inteiro percorrendo o patrimônio histórico e comércio, lojas de pedras e de produtos artesanais, nada como um banho relaxante numa hospedaria tranqüila e aconchegante do lugar. Ao jantar, apreciar um frango caipira “de molho” com quiabo e arroz branquinho, ou bom prato de feijão tropeiro, com couve mineira bem fininha refogada na manteiga e costelinha frita... mas só para quem não tem problemas com a dieta! A sobremesa, para horror dos franceses e delícia dos mineiros, poderá ser um Romeu e Julieta (goiabada com queijo frescal), ou talvez um pudim de leite !
Para quem é jovem e gosta de agito, as praças principais oferecem chope gelado, mandioquinha frita como tira-gosto, música moderna. Para os românticos que apreciam um local antigo, tradicional, intimista, onde ao som das cantigas tradicionais, dolentes, acompanhadas pela viola, serve-se a garapinha ou a purinha... sempre quente. Depois, lá pelas altas horas, um escaldado de frango, um caldo de feijão ou de mocotó, fumegantes, para rebater o frio da madrugada. Assim é hoje a terra do mais famoso artista da arte sacra barroca brasileira, filho do mestre de obras português, Manuel Francisco Lisboa e de sua escrava africana Isabel, o Aleijadinho.
Os historiadores não chegaram a um consenso, se Antonio Francisco nasceu em 1730 ou 1738, como leva a crer o atestado de óbito, que diz ter morrido a 18 de novembro de 1814 aos 76 anos de idade. O que se sabe ao certo, é que cresceu num ambiente colonial onde a influencia religiosa era marcante e onipresente. Em Vila Rica, a Igreja recebia parte do ouro descoberto e o empregava em construções, reformas e embelezamento dos templos. Ela era a maior empregadora de pedreiros, marceneiros, mestres de obras e artista da época. Nas fachadas, altares, tetos, frontispícios, a arquitetura, o entalhe e as pinturas das igrejas guardaram a arte sacra barroca mineira para a posteridade. “Deus é detalhe” disse Guimarães Rosa, Aleijadinho mostrou-O em sua obra.
Da juventude desse mineiro iluminado pouco se sabe, porém seus trabalhos mais conhecidos ( Os doze profetas e Os passos da Paixão) foram executados quando já estava velho ( mais de 60 anos ) e doente. Aleijadinho sabia ler e escrever. Com o pai e tio aprendeu os primeiros desenhos, a projetar, a fazer as primeiras esculturas. Na casa de Fundição de Vila Rica, com João Gomes Batista prosseguiu seus estudos. Com os entalhadores Francisco Xavier de Brito e José Coelho de Noronha aprimorou o entalhe.
A Fonte do Padre Faria, em Ouro Preto, as imagens São Simão de Stock, São João da Cruz , em Sabará, e muitas das suas obras estão espalhadas pelas históricas cidades mineiras. Os três anjinhos bochechudos formando um triangulo, talvez sejam a impressão, a marca registrada de sua autoria, em tantas outras obras.
O capricho, o requinte do detalhe, a alta expressividade de seus personagens valeram-lhe fama, encomendas de muitos trabalhos e dinheiro que nunca soube administrar. Mesmo vitima de um mal que o deformava e que pouco a pouco o incapacitava, destruindo articulações e comendo-lhe dedos e artelhos, fazia com que seus escravos ( dois) o carregassem, amarrassem o cinzel e o martelo às mãos e atassem uma joelheira de couro, para que de joelhos pudesse trabalhar. Dizem que saía à noite montado num cavalo, enrolado numa capa escura para esconder sua triste figura dos olhares indiscretos.
Em 1812, já quase cego e inválido, foi morar com Joana Lopes, sua nora, que cuidou dele até o final de seus dias, em 18 de novembro de 1814, pobre e esquecido pela comunidade.
Antonio Francisco Lisboa, um luso-afro descendente, nasceu e morreu numa região de Minas Gerais onde a montanhas e a natureza que as circunda nada tem de exuberante, só o ouro que, brotado das suas entranhas, arreganhou a cobiça dos homens, abriu e enfeitou cidades, e sob a inspiração divina encontrou no gênio criativo de um homem a sua maior expressão de arte e beleza.
Suposto retrato póstumo de Aleijadinho, realizado por Euclásio Ventura no século XIX. Fonte : Wikipédia, enciclopédia livre
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 18 de novembro 2010-11-18
Dados:
-Diálogo Médico ( jan/1992) Ouro Preto
-Enciclopédia Delta Universal
-Wikipédia
Foto fonte: Revista: Diálogo Médico (Ouro Preto, jan/1992)
Em 18 de novembro de 1814, numa modesta casa de Ouro Preto, encima de um pobre estrado de madeira, expirava Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Andar por Ouro Preto, a antiga Vila Rica, é subir e descer ladeiras, é ficar com torcicolo de tanto olhar para cima e para baixo as suas belas moradias e ricas igrejas dos tempos do Brasil Colônia. Tombada em 1981 Patrimônio Histórico da Humanidade pela UNESCO, a cidade possui o maior acervo de obras sacras barrocas do mundo. Calçadas por pedras pé-de-moleque, ruas e becos guardam histórias, lendas e segredos dos inconfidentes. Casas ricas ou pobres, geminadas, testemunhas de vidas e mortes, todas conservadas pela necessidade histórica de preservá-las para o turismo ou para o grande número de estudantes, que povoa a cidade no tempo das atividades escolares, na preparação para cursos universitários em Farmácia, Geologia e Mineralogia que lá têm base.
A cidade das ladeiras, fundada pelos bandeirantes paulistas, é um misto de passado e presente, bem dosado, onde se encontra um espaço para toda a gente. Após um dia inteiro percorrendo o patrimônio histórico e comércio, lojas de pedras e de produtos artesanais, nada como um banho relaxante numa hospedaria tranqüila e aconchegante do lugar. Ao jantar, apreciar um frango caipira “de molho” com quiabo e arroz branquinho, ou bom prato de feijão tropeiro, com couve mineira bem fininha refogada na manteiga e costelinha frita... mas só para quem não tem problemas com a dieta! A sobremesa, para horror dos franceses e delícia dos mineiros, poderá ser um Romeu e Julieta (goiabada com queijo frescal), ou talvez um pudim de leite !
Para quem é jovem e gosta de agito, as praças principais oferecem chope gelado, mandioquinha frita como tira-gosto, música moderna. Para os românticos que apreciam um local antigo, tradicional, intimista, onde ao som das cantigas tradicionais, dolentes, acompanhadas pela viola, serve-se a garapinha ou a purinha... sempre quente. Depois, lá pelas altas horas, um escaldado de frango, um caldo de feijão ou de mocotó, fumegantes, para rebater o frio da madrugada. Assim é hoje a terra do mais famoso artista da arte sacra barroca brasileira, filho do mestre de obras português, Manuel Francisco Lisboa e de sua escrava africana Isabel, o Aleijadinho.
Os historiadores não chegaram a um consenso, se Antonio Francisco nasceu em 1730 ou 1738, como leva a crer o atestado de óbito, que diz ter morrido a 18 de novembro de 1814 aos 76 anos de idade. O que se sabe ao certo, é que cresceu num ambiente colonial onde a influencia religiosa era marcante e onipresente. Em Vila Rica, a Igreja recebia parte do ouro descoberto e o empregava em construções, reformas e embelezamento dos templos. Ela era a maior empregadora de pedreiros, marceneiros, mestres de obras e artista da época. Nas fachadas, altares, tetos, frontispícios, a arquitetura, o entalhe e as pinturas das igrejas guardaram a arte sacra barroca mineira para a posteridade. “Deus é detalhe” disse Guimarães Rosa, Aleijadinho mostrou-O em sua obra.
Da juventude desse mineiro iluminado pouco se sabe, porém seus trabalhos mais conhecidos ( Os doze profetas e Os passos da Paixão) foram executados quando já estava velho ( mais de 60 anos ) e doente. Aleijadinho sabia ler e escrever. Com o pai e tio aprendeu os primeiros desenhos, a projetar, a fazer as primeiras esculturas. Na casa de Fundição de Vila Rica, com João Gomes Batista prosseguiu seus estudos. Com os entalhadores Francisco Xavier de Brito e José Coelho de Noronha aprimorou o entalhe.
A Fonte do Padre Faria, em Ouro Preto, as imagens São Simão de Stock, São João da Cruz , em Sabará, e muitas das suas obras estão espalhadas pelas históricas cidades mineiras. Os três anjinhos bochechudos formando um triangulo, talvez sejam a impressão, a marca registrada de sua autoria, em tantas outras obras.
O capricho, o requinte do detalhe, a alta expressividade de seus personagens valeram-lhe fama, encomendas de muitos trabalhos e dinheiro que nunca soube administrar. Mesmo vitima de um mal que o deformava e que pouco a pouco o incapacitava, destruindo articulações e comendo-lhe dedos e artelhos, fazia com que seus escravos ( dois) o carregassem, amarrassem o cinzel e o martelo às mãos e atassem uma joelheira de couro, para que de joelhos pudesse trabalhar. Dizem que saía à noite montado num cavalo, enrolado numa capa escura para esconder sua triste figura dos olhares indiscretos.
Em 1812, já quase cego e inválido, foi morar com Joana Lopes, sua nora, que cuidou dele até o final de seus dias, em 18 de novembro de 1814, pobre e esquecido pela comunidade.
Antonio Francisco Lisboa, um luso-afro descendente, nasceu e morreu numa região de Minas Gerais onde a montanhas e a natureza que as circunda nada tem de exuberante, só o ouro que, brotado das suas entranhas, arreganhou a cobiça dos homens, abriu e enfeitou cidades, e sob a inspiração divina encontrou no gênio criativo de um homem a sua maior expressão de arte e beleza.
Suposto retrato póstumo de Aleijadinho, realizado por Euclásio Ventura no século XIX. Fonte : Wikipédia, enciclopédia livre
Maria Eduarda Fagundes
Uberaba, 18 de novembro 2010-11-18
Dados:
-Diálogo Médico ( jan/1992) Ouro Preto
-Enciclopédia Delta Universal
-Wikipédia
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XIII
D. Quixote Autor António Tapadinhas
Óleo sobre tela 80x100cm
Foi há quatrocentos e dois anos que saiu a primeira edição do livro El Ingenioso Hidalgo Don Quijote de La Mancha – quatro séculos de influência na cultura do mundo moderno. Tanto tempo decorrido e continua a fazer falta o nosso herói: “Vou a castigar insolentes e a endireitar tortos”.
Com esta minha obra aconteceu um facto estranho.
No segundo dia da exposição, já perto da hora do fecho, passei pela galeria para saber das impressões do público. Qual não é o meu espanto quando vejo, no sítio onde devia estar a obra, um letreiro a dizer vendido. Tinha dado instruções para que todas as obras ficassem em exposição, e só no final deveriam ser entregues aos eventuais compradores. Perguntei à encarregada da galeria o que se tinha passado. “Muito simples – disse ela – uma senhora nova, muito bonita e elegante (não são todas?), tinha de apanhar o avião para Buenos Aires e queria levar o quadro. Depois de pensar o que devia fazer, disse que o entregava mas exigi que me pagasse em dinheiro. Ela disse que sim, foi ao Banco ali ao lado e deu-me o dinheiro todo. Saiu toda contente”.
Quem não ficou muito feliz com a história fui eu. Até hoje não sei onde para esta obra. Refiro o caso porque (quem sabe?) pode dar-se a coincidência do meu blogue ser visitado pela pessoa que o comprou e contactar-me. Seria uma grande alegria reencontrá-lo.
Disse Woody Allen: “Por que Deus não fala comigo? Se Ele pelo menos tossisse”.
Quixotesco, não acham?
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Filosofia e Saudade
8. Sampaio Bruno (1857-1915)
Nós vivemos num mundo, onde se parte do Mal, da fealdade, do erro. O pecado original é de Deus, não do homem. Existência é dor, padecimento. Estado normal é doença.
A Saudade é o movimento em que tudo participa para uma reabsorção em Deus. A partir de uma diferenciação inicial, há sempre desejo de regresso. A vontade de viver destina-se ao regresso à consciência pura, à unidade primordial.
Adepto de um vegetarianismo que pudesse até poupar as plantas - alimentção química. Não matar para viver. As alterações psico-fisiológicas trariam um Super-Homem no futuro.
O Homem está no mundo para procurar a evolução de si e de todas as coisas. A alma embora não se possa conhecer plenamente, sempre se pode ir conhecendo mais um pouco.
Crítico de todas as ideias antropocêntricas, não vê a Humanidade como o fim último da criação
Luis Santos
Referência Bibliográfica:
- Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
- Sampaio Bruno, A Ideia de Deus, 1902
Nós vivemos num mundo, onde se parte do Mal, da fealdade, do erro. O pecado original é de Deus, não do homem. Existência é dor, padecimento. Estado normal é doença.
A Saudade é o movimento em que tudo participa para uma reabsorção em Deus. A partir de uma diferenciação inicial, há sempre desejo de regresso. A vontade de viver destina-se ao regresso à consciência pura, à unidade primordial.
Adepto de um vegetarianismo que pudesse até poupar as plantas - alimentção química. Não matar para viver. As alterações psico-fisiológicas trariam um Super-Homem no futuro.
O Homem está no mundo para procurar a evolução de si e de todas as coisas. A alma embora não se possa conhecer plenamente, sempre se pode ir conhecendo mais um pouco.
Crítico de todas as ideias antropocêntricas, não vê a Humanidade como o fim último da criação
Luis Santos
Referência Bibliográfica:
- Síntese de Apontamentos, Aulas de Filosofia em Portugal, Prof. Paulo Borges, 2009
- Sampaio Bruno, A Ideia de Deus, 1902
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terça-feira, 23 de novembro de 2010
Greve Geral
24 de Novembro é dia de Greve Geral. Sim, façamos Greve Geral. Paralisemos todas as nossas actividades, como protesto contra um país mal organizado, mal governado, eticamente decadente e social e economicamente injusto, cada vez mais vergado à grande finança internacional, à ganância dos especuladores e ao consequente desprezo pelas necessidades básicas da população. Paremos totalmente, como protesto contra um país refém dos grandes grupos e potências económico-financeiras em todas as áreas, do trabalho à saúde, educação e política.
Façamos pois Greve Geral, em protesto contra todos os governos e oposições que, não só agora, mas desde a fundação de Portugal, contribuíram para o estado em que estamos. Todavia, façamos Greve Geral sobretudo em protesto contra nós próprios, que maioritariamente votamos sempre nos mesmos ou nos abstemos de votar e, principalmente, de criar alternativas à classe política e aos partidos em que desde há muito não acreditamos. Façamos Greve Geral, sim, mas também à nossa passividade e conformismo cívicos, à nossa preguiça e indolência, à nossa tremenda indiferença. Façamos Greve Geral ao nosso hábito inveterado de criticar tudo e todos e nada fazer, ficando sempre à espera que alguém faça, que os outros resolvam, que D. Sebastião apareça. Façamos Greve Geral à ideia de que basta fazer um dia de Greve Geral exterior, em prol de mudanças sociais, económicas e políticas, deixando tudo igual nos outros dias e dentro de cada um de nós. Sim, façamos definitivamente Greve Geral à demissão de sermos desde já, sempre e cada vez mais a diferença que queremos ver no mundo, em todas as frentes, sem exclusão de nenhuma: espiritual, cultural, ética, social, económica e política.
Façamos pois Greve Geral à nossa cumplicidade com o rumo de uma civilização que caminha aceleradamente para a sua perda, à nossa colaboração com a ganância e futilidade da hiperprodução e do hiperconsumo que violam a natureza e instrumentalizam e escravizam os seres vivos, homens e animais, em nome de um progresso e de um bem-estar que é sempre apenas o de uma pequena minoria de senhores do mundo. Façamos Greve Geral à intoxicação quotidiana de uma comunicação social que só deixa passar a versão da realidade que interessa aos vários poderes e contrapoderes. Façamos Greve Geral à imbecilização colectiva de muitos programas de televisão e seus outros avatares informáticos, que nos deixam pregados no sofá e nos ecrãs quando há crianças a morrer de fome, mulheres apedrejadas até à morte, velhos abandonados, defensores dos direitos humanos torturados e a apodrecer nas prisões, trabalhadores explorados, povos vítimas de agressão militar e genocídio, animais produzidos em série para os nossos pratos e a agonizar nos canis, matadouros, laboratórios e arenas, a natureza e o planeta a serem devastados… Façamos Greve Geral a todas as nossas ilusões e distracções, a todo o fazer de conta, a toda a conversa fútil no café, telemóvel, blogues e facebook, a todo o voltar a cara para o lado ante a realidade profunda das coisas e toda a nossa hipócrita cumplicidade com o que mais criticamos e condenamos.
Sim, e sobretudo façamos Greve Geral à raiz de tudo isso, a todos os nossos pensamentos, emoções, palavras e acções iludidos, inúteis e nocivos a nós e a todos. Greve Geral a todos os juízos e opiniões que visam sempre autopromover-nos em detrimento dos outros. Greve Geral a colocarmo-nos sempre em primeiro lugar, a nós e aos “nossos”, familiares, amigos, membros da mesma nação, clube, partido, religião ou espécie, em detrimento dos “outros”, sempre a menorizar, desprezar, combater, dominar ou abater. Pois façamos Greve Geral, total e radical, não só um dia, mas para sempre, a toda a ignorância dualista, apego e aversão e à sua combinação em todo o egocentrismo, possessividade, orgulho, inveja e ciúme, avareza e avidez, ódio e cólera, preguiça e torpor. Paremos para sempre de produzir e consumir isto, cessemos de poluir mental e emocionalmente o planeta e deixemos espaço para que em nós floresça e frutifique a sabedoria, o amor, a compaixão imparciais e incondicionais, a paz e a alegria profundas e duradouras.
Façamos Greve Geral, agora e para sempre! E deixemo-nos contaminar pela Revolução doce e silenciosa de uma mente desperta e sensível ao Bem de todos os seres sencientes, que nada pense, diga e faça que não o vise, a cada instante, seja em que esfera for, também na economia e na política. Desta Greve Geral saem um Homem e um Mundo Novos.
Paulo Borges
23.11.2010
Façamos pois Greve Geral, em protesto contra todos os governos e oposições que, não só agora, mas desde a fundação de Portugal, contribuíram para o estado em que estamos. Todavia, façamos Greve Geral sobretudo em protesto contra nós próprios, que maioritariamente votamos sempre nos mesmos ou nos abstemos de votar e, principalmente, de criar alternativas à classe política e aos partidos em que desde há muito não acreditamos. Façamos Greve Geral, sim, mas também à nossa passividade e conformismo cívicos, à nossa preguiça e indolência, à nossa tremenda indiferença. Façamos Greve Geral ao nosso hábito inveterado de criticar tudo e todos e nada fazer, ficando sempre à espera que alguém faça, que os outros resolvam, que D. Sebastião apareça. Façamos Greve Geral à ideia de que basta fazer um dia de Greve Geral exterior, em prol de mudanças sociais, económicas e políticas, deixando tudo igual nos outros dias e dentro de cada um de nós. Sim, façamos definitivamente Greve Geral à demissão de sermos desde já, sempre e cada vez mais a diferença que queremos ver no mundo, em todas as frentes, sem exclusão de nenhuma: espiritual, cultural, ética, social, económica e política.
Façamos pois Greve Geral à nossa cumplicidade com o rumo de uma civilização que caminha aceleradamente para a sua perda, à nossa colaboração com a ganância e futilidade da hiperprodução e do hiperconsumo que violam a natureza e instrumentalizam e escravizam os seres vivos, homens e animais, em nome de um progresso e de um bem-estar que é sempre apenas o de uma pequena minoria de senhores do mundo. Façamos Greve Geral à intoxicação quotidiana de uma comunicação social que só deixa passar a versão da realidade que interessa aos vários poderes e contrapoderes. Façamos Greve Geral à imbecilização colectiva de muitos programas de televisão e seus outros avatares informáticos, que nos deixam pregados no sofá e nos ecrãs quando há crianças a morrer de fome, mulheres apedrejadas até à morte, velhos abandonados, defensores dos direitos humanos torturados e a apodrecer nas prisões, trabalhadores explorados, povos vítimas de agressão militar e genocídio, animais produzidos em série para os nossos pratos e a agonizar nos canis, matadouros, laboratórios e arenas, a natureza e o planeta a serem devastados… Façamos Greve Geral a todas as nossas ilusões e distracções, a todo o fazer de conta, a toda a conversa fútil no café, telemóvel, blogues e facebook, a todo o voltar a cara para o lado ante a realidade profunda das coisas e toda a nossa hipócrita cumplicidade com o que mais criticamos e condenamos.
Sim, e sobretudo façamos Greve Geral à raiz de tudo isso, a todos os nossos pensamentos, emoções, palavras e acções iludidos, inúteis e nocivos a nós e a todos. Greve Geral a todos os juízos e opiniões que visam sempre autopromover-nos em detrimento dos outros. Greve Geral a colocarmo-nos sempre em primeiro lugar, a nós e aos “nossos”, familiares, amigos, membros da mesma nação, clube, partido, religião ou espécie, em detrimento dos “outros”, sempre a menorizar, desprezar, combater, dominar ou abater. Pois façamos Greve Geral, total e radical, não só um dia, mas para sempre, a toda a ignorância dualista, apego e aversão e à sua combinação em todo o egocentrismo, possessividade, orgulho, inveja e ciúme, avareza e avidez, ódio e cólera, preguiça e torpor. Paremos para sempre de produzir e consumir isto, cessemos de poluir mental e emocionalmente o planeta e deixemos espaço para que em nós floresça e frutifique a sabedoria, o amor, a compaixão imparciais e incondicionais, a paz e a alegria profundas e duradouras.
Façamos Greve Geral, agora e para sempre! E deixemo-nos contaminar pela Revolução doce e silenciosa de uma mente desperta e sensível ao Bem de todos os seres sencientes, que nada pense, diga e faça que não o vise, a cada instante, seja em que esfera for, também na economia e na política. Desta Greve Geral saem um Homem e um Mundo Novos.
Paulo Borges
23.11.2010
Insónia Pontual
O relógio bate as três,
E o tic-tac alheio do mundo continua.
A prova de vida arrasa a loucura
E o homem de si permanece seguro.
A vela arde e a noite perdura,
Origem eterna de todas as coisas.
De além são os sonhos surgindo tontura,
Esperando á janela o dia que vem.
Diogo Correia
E o tic-tac alheio do mundo continua.
A prova de vida arrasa a loucura
E o homem de si permanece seguro.
A vela arde e a noite perdura,
Origem eterna de todas as coisas.
De além são os sonhos surgindo tontura,
Esperando á janela o dia que vem.
Diogo Correia
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
VALE MAIS PREVENIR...
Por mero acaso, passei nesta pequena localidade entre o Pinhão e S. João da Pesqueira, no Alto Douro Vinhateiro.
Com a crise reinante, acredito que, muito em breve, este será um local de grandes peregrinações...
À cautela, registei o local.
Nunca se sabe o dia de amanhã!
Manuel Henrique Figueira
Com a crise reinante, acredito que, muito em breve, este será um local de grandes peregrinações...
À cautela, registei o local.
Nunca se sabe o dia de amanhã!
Manuel Henrique Figueira
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Manuel Henrique Figueira
domingo, 21 de novembro de 2010
Partes de Um
As formigas e as abelhas são uma boa metáfora para percebermos que tudo faz parte de uma unidade. Quando observamos quer abelhas, quer formigas, vemos apenas uma, mas isto não corresponde à realidade destes seres. Mais do que qualquer outra espécie, abelhas e formigas trabalham como partes de um todo. Elas não podem, nem sobrevivem individualmente; sobrevivem como membros de um grupo e a sobrevivência do grupo é o objectivo de cada vida individual. Não existe o conceito de vida fora do grupo, por isso, usar o mundo de forma individual não faz qualquer sentido para estes seres.
Ao contrário, frequentemente os humanos valorizam fortemente a individualidade associando negativamente a forma de organização das abelhas e formigas a falta de independência. No entanto, se observarmos bem de perto a vida destes animais, poderemos aprender diversas e valiosas lições de como poderíamos obter resultados muito positivos se nos ligássemos e trabalhássemos juntos na obtenção de um objectivo maior.
A maioria das abelhas e formigas têm papéis específicos dentro das suas comunidades e trabalham dentro dos limites das suas possibilidades sem queixumes e nunca desejando ser mais do que aquilo que são! Elas simbolizam, assim, o auto-conhecimento e a humildade. Também simbolizam o espírito de serviço desinteressado uma vez que trabalham para o bem comum. De uma certa forma, fazem-me lembrar as células do nosso corpo, vivendo e morrendo quando necessário para preservar a integridade de todo o corpo, não se protegendo individualmente.
Neste sentido, abelhas e formigas simbolizam a capacidade de ver para além do “pequeno ego”, de vermo-nos como indivíduos fazendo parte de um grande Todo e igualmente a capacidade de servir o Todo sem egoísmo.
Abelhas e formigas podem inspirar-nos sobre: quem somos?, o que fazemos nesta vida?, qual o nosso papel em cada dia da nossa existência?, como servimos e beneficiamos o todo e a humanidade no nosso dia a dia?, etc….
Poderemos ainda pensar que se agirmos como estes seres que trabalham em verdadeira unidade para bem do grupo, podemos aumentar a nossa consciência sobre questões ambientais, alimentando os famintos ou tornando uma criança feliz! Cada um de nós nasceu com determinados talentos. Quando estamos conscientes deles e os aplicamos, sabendo que somos apenas parte de uma grande unidade, podemos sem dar por isso e sem grande esforço contribuir para um mundo melhor, honrando a sabedoria das abelhas e das formigas!
Paula Soveral
tlm: 93.6423440
www.paulasoveral.net
Ao contrário, frequentemente os humanos valorizam fortemente a individualidade associando negativamente a forma de organização das abelhas e formigas a falta de independência. No entanto, se observarmos bem de perto a vida destes animais, poderemos aprender diversas e valiosas lições de como poderíamos obter resultados muito positivos se nos ligássemos e trabalhássemos juntos na obtenção de um objectivo maior.
A maioria das abelhas e formigas têm papéis específicos dentro das suas comunidades e trabalham dentro dos limites das suas possibilidades sem queixumes e nunca desejando ser mais do que aquilo que são! Elas simbolizam, assim, o auto-conhecimento e a humildade. Também simbolizam o espírito de serviço desinteressado uma vez que trabalham para o bem comum. De uma certa forma, fazem-me lembrar as células do nosso corpo, vivendo e morrendo quando necessário para preservar a integridade de todo o corpo, não se protegendo individualmente.
Neste sentido, abelhas e formigas simbolizam a capacidade de ver para além do “pequeno ego”, de vermo-nos como indivíduos fazendo parte de um grande Todo e igualmente a capacidade de servir o Todo sem egoísmo.
Abelhas e formigas podem inspirar-nos sobre: quem somos?, o que fazemos nesta vida?, qual o nosso papel em cada dia da nossa existência?, como servimos e beneficiamos o todo e a humanidade no nosso dia a dia?, etc….
Poderemos ainda pensar que se agirmos como estes seres que trabalham em verdadeira unidade para bem do grupo, podemos aumentar a nossa consciência sobre questões ambientais, alimentando os famintos ou tornando uma criança feliz! Cada um de nós nasceu com determinados talentos. Quando estamos conscientes deles e os aplicamos, sabendo que somos apenas parte de uma grande unidade, podemos sem dar por isso e sem grande esforço contribuir para um mundo melhor, honrando a sabedoria das abelhas e das formigas!
Paula Soveral
tlm: 93.6423440
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sábado, 20 de novembro de 2010
Vidas Lusófonas
RODRIGUES LAPA e
CARVALHO CALERO
http://www.vidaslusofonas.pt/calero.htm
um português e um galego,
velha amizade...
Por sugestão de Carlos Loures
ambos sobem até
VIDAS LUSÓFONAS
http://www.vidaslusofonas.pt/
onde já moram 136.
Naquela casa
tudo está a acontecer,
cada vida / cada conto.
Por isso já recebeu
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CARVALHO CALERO
http://www.vidaslusofonas.pt/calero.htm
um português e um galego,
velha amizade...
Por sugestão de Carlos Loures
ambos sobem até
VIDAS LUSÓFONAS
http://www.vidaslusofonas.pt/
onde já moram 136.
Naquela casa
tudo está a acontecer,
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Carvalho Calero,
Rodrigues Lapa,
Vidas Lusófonas
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
"Crioulinha..."
Rubem Alves*
As palavras são a carne do
mundo; não podem ser
substituídas por outras,
ainda que mais verdadeiras
UMA DAS MEMÓRIAS felizes que tenho de minha infância me leva de volta à escola. Eu estava no terceiro ano primário. Era a aula de leitura. Não, não era aula em que líamos para a professora ouvir e corrigir. Ao contrário, era a professora que lia para nos deliciar. Foi assim que aprendi a amar os livros. Não aprendi com a gramática.
Dizem que os jovens não gostam de ler. Mas como poderiam amar a leitura se não houvesse alguém que lesse para eles? Aprende-se o prazer da leitura da mesma forma como se aprende o prazer da música: ouvindo. A leitura da professora era música para nós.
A professora lia e nós nos sentíamos magicamente transportados para um mundo maravilhoso, cheio de entidades encantadas. O silêncio era total. E era uma tristeza quando a professora fechava o livro. "O Saci", "Viagem ao Céu", "Caçadas de Pedrinho", "Reinações de Narizinho". Esses eram os nomes de algumas das músicas que ela interpretava. E o nome do compositor era Monteiro Lobato.
Mas agora as autoridades especializadas em descobrir as ideologias escondidas no vão das palavras descobriram que, por detrás das palavras inocentes, havia palavras que não podiam ser ditas. Monteiro Lobato ensina racismo. E apresentam como prova as coisas que ele dizia da negra Tia Anastácia...
A descoberta exigia providências. Era preciso proibir as palavras racistas. Monteiro Lobato não mais pode frequentar as escolas...
Assustei-me. Senti-me ameaçado. Fiquei com medo de que me descobrissem racista também. Tantas palavras proibidas eu já disse.
É preciso explicar. Naqueles tempos, tempos ainda com cheiro da escravidão, havia um costume... As famílias negras pobres com muitos filhos, sem recursos para sustentá-los, ofereciam às famílias abastadas, brancas, para serem criados e para trabalhar. Assim era a vida. Foi assim na minha casa. Veio morar conosco uma meninota de uns dez anos, a Astolfina, apelidada de Tofa. Escrevi sobre ela no meu livro de memórias "O Velho que Acordou Menino". Cuidou de mim, dos meus irmãos, e morou conosco até se casar. Acontece que, ao contar sobre ela, eu usei uma palavra que fazia parte daquele mundo: "crioulinha". Era assim que se falava porque essa era a palavra que fazia parte daquele mundo. Imaginem que, obediente à "linguagem politicamente correta", eu, hoje, tivesse escrito no meu livro "uma jovem de ascendência afro"... Não. Esse não era o mundo em que a Astolfina viveu.
As palavras são a carne do mundo. Não podem ser substituídas por outras, ainda que mais verdadeiras, ainda que sinônimas. É preciso dizê-las como foram ditas para que o mundo que foi fique vivo novamente. A história se faz com palavras que faziam parte da vida. Aí, então, se pode explicar, como nota de rodapé: "Era assim. Não é mais...".
Estou com medo de que as ditas autoridades descubram que usei a palavra racista "crioulinha" para me referir àquilo que, hoje, seria "uma jovem de ascendência afro".
Estou, assim, tomando minhas providências. Para que não coloquem meu livro no "Índex" vou apagar a palavra "crioulinha" do texto e, sempre que precisar me referir à Tofa, direi que ela era uma governanta suíça e ruiva, uniformizada de branco e touca, para evitar que fios de cabelo caíssem na comida... Assim, meu livro purificado do racismo poderá frequentar as escolas...
* Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp
As palavras são a carne do
mundo; não podem ser
substituídas por outras,
ainda que mais verdadeiras
UMA DAS MEMÓRIAS felizes que tenho de minha infância me leva de volta à escola. Eu estava no terceiro ano primário. Era a aula de leitura. Não, não era aula em que líamos para a professora ouvir e corrigir. Ao contrário, era a professora que lia para nos deliciar. Foi assim que aprendi a amar os livros. Não aprendi com a gramática.
Dizem que os jovens não gostam de ler. Mas como poderiam amar a leitura se não houvesse alguém que lesse para eles? Aprende-se o prazer da leitura da mesma forma como se aprende o prazer da música: ouvindo. A leitura da professora era música para nós.
A professora lia e nós nos sentíamos magicamente transportados para um mundo maravilhoso, cheio de entidades encantadas. O silêncio era total. E era uma tristeza quando a professora fechava o livro. "O Saci", "Viagem ao Céu", "Caçadas de Pedrinho", "Reinações de Narizinho". Esses eram os nomes de algumas das músicas que ela interpretava. E o nome do compositor era Monteiro Lobato.
Mas agora as autoridades especializadas em descobrir as ideologias escondidas no vão das palavras descobriram que, por detrás das palavras inocentes, havia palavras que não podiam ser ditas. Monteiro Lobato ensina racismo. E apresentam como prova as coisas que ele dizia da negra Tia Anastácia...
A descoberta exigia providências. Era preciso proibir as palavras racistas. Monteiro Lobato não mais pode frequentar as escolas...
Assustei-me. Senti-me ameaçado. Fiquei com medo de que me descobrissem racista também. Tantas palavras proibidas eu já disse.
É preciso explicar. Naqueles tempos, tempos ainda com cheiro da escravidão, havia um costume... As famílias negras pobres com muitos filhos, sem recursos para sustentá-los, ofereciam às famílias abastadas, brancas, para serem criados e para trabalhar. Assim era a vida. Foi assim na minha casa. Veio morar conosco uma meninota de uns dez anos, a Astolfina, apelidada de Tofa. Escrevi sobre ela no meu livro de memórias "O Velho que Acordou Menino". Cuidou de mim, dos meus irmãos, e morou conosco até se casar. Acontece que, ao contar sobre ela, eu usei uma palavra que fazia parte daquele mundo: "crioulinha". Era assim que se falava porque essa era a palavra que fazia parte daquele mundo. Imaginem que, obediente à "linguagem politicamente correta", eu, hoje, tivesse escrito no meu livro "uma jovem de ascendência afro"... Não. Esse não era o mundo em que a Astolfina viveu.
As palavras são a carne do mundo. Não podem ser substituídas por outras, ainda que mais verdadeiras, ainda que sinônimas. É preciso dizê-las como foram ditas para que o mundo que foi fique vivo novamente. A história se faz com palavras que faziam parte da vida. Aí, então, se pode explicar, como nota de rodapé: "Era assim. Não é mais...".
Estou com medo de que as ditas autoridades descubram que usei a palavra racista "crioulinha" para me referir àquilo que, hoje, seria "uma jovem de ascendência afro".
Estou, assim, tomando minhas providências. Para que não coloquem meu livro no "Índex" vou apagar a palavra "crioulinha" do texto e, sempre que precisar me referir à Tofa, direi que ela era uma governanta suíça e ruiva, uniformizada de branco e touca, para evitar que fios de cabelo caíssem na comida... Assim, meu livro purificado do racismo poderá frequentar as escolas...
* Rubem Alves é educador, escritor, psicanalista e professor emérito da Unicamp
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
d´Arte – Conversas na Galeria XII
Contraluz Autor António Tapadinhas
Acrílico sobre Tela 50x50cm
(clique sobre a imagem)
O título foi dado a esta obra, na mesma semana em que se estreou o primeiro filme feito por um português, em Hollywood. Pode ler-se na respectiva sinopse: “Várias pessoas sem ligação entre si estão em situações de extremo desespero quando algo inesperado acontece que irá mudar radicalmente o rumo das suas vidas. Caberá a cada um moldar o seu destino de modo a reencontrar a felicidade. Mas há destinos que só se alcançam depois de alterar o dos outros.”
Eu ainda não vi o filme mas sei que o protagonista é salvo pelas palavras do GPS: “Faça inversão de marcha. Está na rota errada para o seu destino.” O poder da palavra, mesmo no GPS.
Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida. Neste provérbio chinês, mais uma vez o poder da palavra.
Uma imagem vale mais do que mil palavras.
Gosto de acreditar que se completam, afinal
Eu pinto palavras e escrevo pintura.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
O Dumping Partidocrático
PODEM os senhores juízes e procuradores, alinhados na aberração democrática que são os seus sindicatos, naturalmente que legalíssimos, jurar a pés juntos que não têm uma agenda política que só acredita quem quer e eu estou convencido que a grande maioria dos portugueses não acredita. Eu não acredito nem um bocadinho que seja.
Quando aquele senhor magistrado – que Deus e o Diabo protejam quem por ele haja que ser julgado – vem à praça pública gritar que é preciso meter os políticos na grelha e logo no discurso se lhe monta o «ovo kinder» (Morais Sarmento Dixit), é mais do que evidente que faz política nos mesmíssimos termos que o faz Passos Coelho. O problema aqui é que ele tem um poder que o líder do PSD não tem, que o governo não tem, e faz política sem ter a chatice de montar uma dispendiosa máquina partidária e sujeitar-se ao veredicto popular. Usa canhão enquanto os outros usam fisgas e tem o discurso que antigamente só à igreja era tolerado: fala em nome da verdade de que tem o exclusivo, como os sacerdotes julgavam ter procuração divina, também em exclusivo. Partidocracia e magistratura em mancebia é como casamento de primos, dá olhinho torto e outras anomalias. Isto são coisas do tempo que passa em que tudo é mais ou menos e o que é preciso é o poder nosso de cada dia obtido na dependuração permanente nos media.
Segunda-feira passada li no Correio da Manhã uma das habituais diatribes políticas do Secretário-geral do partido sindical dos senhores procuradores do MP desafiando tudo e todos na reivindicação do seu direito – que infelizmente tem – à greve. A forma como trata o Primeiro-ministro é simplesmente de bradar aos céus. Se eu fosse procurador, coraria de vergonha, não o sendo, só posso sentir-me agoniado. Como se diria lá para a América Latina: «Este país tiene gobierno? Pues yo soy contra…»
Que tristeza! Pobre país!
Bastante recentemente, num frente a frente televisivo, o juiz Rangel, face a desconchavos dos seus pares, defendia a sua corporação dizendo que uma andorinha não faz a Primavera. É evidente que não. Nem mil, nem todas as que haja no mundo. Mas a verdade, o que muito bem lhe foi lembrado pelo seu opositor, é que os dislates dos senhores juízes começam a deixar-nos muito preocupados. Não é só o caso daquele que exarou num processo a sua intenção de se diminuir no horário de trabalho, por ter sido prejudicado no seu salário, com a crise; é também o caso daquele que, qual António Aleixo de toga, dita para a acta quadras, aliás muito mal amanhadas, como se estivesse num qualquer bailarico dos santos populares. Isto para não lembrar aquela juíza que exarou aquela douta sentença em relação a um cavalheiro que se abasteceu de combustível e se pirou sem pagar: não houve crime, as bombas estão ali é para a gente se servir.
Os leitores pensam que há crise?
Não há, o que há é decadência e degenerescência. A gravidade é acrescida se pensarmos que, estando a Europa em decadência, nós somos a decadência dentro da decadência.
Vendas Novas, 15 de Novembro de 2010
Abdul Cadre
abdul.cadre@gmail.com
Quando aquele senhor magistrado – que Deus e o Diabo protejam quem por ele haja que ser julgado – vem à praça pública gritar que é preciso meter os políticos na grelha e logo no discurso se lhe monta o «ovo kinder» (Morais Sarmento Dixit), é mais do que evidente que faz política nos mesmíssimos termos que o faz Passos Coelho. O problema aqui é que ele tem um poder que o líder do PSD não tem, que o governo não tem, e faz política sem ter a chatice de montar uma dispendiosa máquina partidária e sujeitar-se ao veredicto popular. Usa canhão enquanto os outros usam fisgas e tem o discurso que antigamente só à igreja era tolerado: fala em nome da verdade de que tem o exclusivo, como os sacerdotes julgavam ter procuração divina, também em exclusivo. Partidocracia e magistratura em mancebia é como casamento de primos, dá olhinho torto e outras anomalias. Isto são coisas do tempo que passa em que tudo é mais ou menos e o que é preciso é o poder nosso de cada dia obtido na dependuração permanente nos media.
Segunda-feira passada li no Correio da Manhã uma das habituais diatribes políticas do Secretário-geral do partido sindical dos senhores procuradores do MP desafiando tudo e todos na reivindicação do seu direito – que infelizmente tem – à greve. A forma como trata o Primeiro-ministro é simplesmente de bradar aos céus. Se eu fosse procurador, coraria de vergonha, não o sendo, só posso sentir-me agoniado. Como se diria lá para a América Latina: «Este país tiene gobierno? Pues yo soy contra…»
Que tristeza! Pobre país!
Bastante recentemente, num frente a frente televisivo, o juiz Rangel, face a desconchavos dos seus pares, defendia a sua corporação dizendo que uma andorinha não faz a Primavera. É evidente que não. Nem mil, nem todas as que haja no mundo. Mas a verdade, o que muito bem lhe foi lembrado pelo seu opositor, é que os dislates dos senhores juízes começam a deixar-nos muito preocupados. Não é só o caso daquele que exarou num processo a sua intenção de se diminuir no horário de trabalho, por ter sido prejudicado no seu salário, com a crise; é também o caso daquele que, qual António Aleixo de toga, dita para a acta quadras, aliás muito mal amanhadas, como se estivesse num qualquer bailarico dos santos populares. Isto para não lembrar aquela juíza que exarou aquela douta sentença em relação a um cavalheiro que se abasteceu de combustível e se pirou sem pagar: não houve crime, as bombas estão ali é para a gente se servir.
Os leitores pensam que há crise?
Não há, o que há é decadência e degenerescência. A gravidade é acrescida se pensarmos que, estando a Europa em decadência, nós somos a decadência dentro da decadência.
Vendas Novas, 15 de Novembro de 2010
Abdul Cadre
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