sábado, 4 de maio de 2013

Plantas que Curam



por Miguel Boieiro

Chufa

O Homem, como elemento integrante da Natureza, deve procurar, onde vive, todas as condições necessárias ao seu equilíbrio biofísico.
A alimentação diversificada que logra tirar partido do meio natural, das suas peculiaridades climatéricas e da especificidade física e química dos solos e dos aquíferos, constitui um dos principais vetores da saúde das populações.
Diversificar, em termos de alimentação racional, significa enriquecer a dieta, educar o paladar viciado por uma ementa padronizada e artificial de duvidosa qualidade, e até completar uma restauração individual e coletiva demasiado carente.
Vem isto a propósito da divulgação de uma plantinha que, por graça, digo que serve para fazer leite e café, a qual tem todas as condições para ser cultivada com êxito em grande parte do nosso País. Ela necessita fundamentalmente de terrenos leves e arenosos e de atributos climáticos de tipo atlântico-mediterrânicos.
Importa desde já esclarecer que não me movem intuitos científicos ou económicos, para os quais não me encontro suficientemente preparado e que a outrem competem. Apenas pretendo despertar curiosidades no campo da alimentação natural, segundo uma perspetiva atraente, útil e acessível à maioria das pessoas.

A plantinha em questão denomina-se chufa, ou amêndoa-da-terra, por ser uma oleaginosa substituta da amêndoa, ou ainda, juncinha-mansa por se parecer com a junça, essa terrível infestante que alastra pelos nossos campos. A parte comestível é constituída pelos seus tubérculos acastanhados de formato ovoide irregular, os quais terão, no máximo, 2 cm de comprimento.
Estes pequenos tubérculos possuem cerca de 30% de fécula ou amido, 14% de açúcar, 20% de um óleo finíssimo de qualidade comparável ao azeite e 28% de proteína. Como se constata, trata-se de um produto altamente nutritivo, mas igualmente delicioso.

A Cyperus esculentus L. (seu nome científico) pertence à família das ciperáceas e é conhecida e utilizada desde remotas eras. Foram encontradas sementes, ou melhor, tubérculos, em sarcófagos egípcios de há 2000 anos a.C.
O cultivo da chufa generalizou-se na Europa a partir do século VIII, por ação dos árabes, e hoje está mais divulgado em Espanha (Andaluzia e sobretudo, província de Valência).
Costumo afirmar que com a chufa se obtém simultaneamente leite e café, o que causa o maior espanto aos desprevenidos. Na verdade, os tubérculos moídos num moinho de café ou noutra máquina apropriada do tipo “1,2,3”, a que se junta água, formam a famosa “horchata de chufa”, tão conhecida em Valência, Granada ou Córdova, onde a encontramos amiúde nas “gelatarias”.

Mas vamos explicar melhor como se faz este leite vegetal. Colocam-se os tubérculos de molho durante 24 horas. Seguidamente lavam-se em várias águas para desprender a terra que trazem agarrada. Procede-se depois à trituração, finda a qual, se junta água a gosto. Agita-se bem para favorecer a dissolução e côa-se através de um passador fino. A quantidade depende de cada um. Quem desejar um leite espesso e nutritivo deve usar, como mínimo, 250 g de chufa para um litro de água. Pode adoçar-se com açúcar ou mel (preferível) e beber frio ou quente, consoante o gosto do consumidor.
E como se faz o “café”? Pega-se simplesmente nos resíduos da trituração depois de obtido o leite e torram-se os mesmos em forno brando. O produto final dá origem a uma bebida muito agradável que substitui o chá ou o café. Experimentem!
Há também quem consuma a chufa de outras maneiras. Os espanhóis comem-na crua e demolhada como os tremoços. Outros utilizam a farinha de chufa como aditivo em pastelaria.

Vamos agora à plantação. O solo tem de ser leve e silicioso, como já foi dito, e conter alguma humidade pelo que convém regá-lo assiduamente. São de rejeitar terrenos declivosos e pedregosos. A cultura é excecionalmente produtiva, basta dizer que um só tufo pode gerar, nas condições mais favoráveis, até um milhar de tubérculos. A “sementeira” processa-se em março e a colheita em setembro. Os pequenos tubérculos são colocados a uma profundidade de 2 cm, separados de 6 cm e em filas paralelas distanciadas entre si de cerca de 30 cm, levando, obviamente, algum estrume bem curtido. Aquando da colheita, que é a parte mais trabalhosa, convém lavá-los e secá-los bem para permitir uma conveniente conservação. Se não se conseguir adquirir as sementes no nosso país, é fácil obtê-las em Espanha.
E pronto, fica feito o repto aos amantes da agricultura e até aos grandes agricultores. Quem sabe se a cultura da chufa não será um bom negócio?
Mas para isso, fica também a sugestão aos que prezam uma sã alimentação. Experimentem o leite de chufa e também o café e irão ver como são saborosos e nutritivos. 

1 comentário:

MJC disse...

Mais uma rúbrica deveras interessante no nosso EG que não pára de se enriquecer.

Parabéns aos seus autores.

Manuel João Croca