segunda-feira, 13 de maio de 2013

REAL... IRREAL... SURREAL... (28)




 Estudo feito a partir do retrato do Papa Innocent X, 
       de Diego Velásquez, pelo artista irlandês, 
Francis Bacon, 1953, Óleo sobre Tela, 93,2x76,5cm

TERRITÓRIOS DE SOLIDÃO

Solidão
é o mundo a fechar-se no centro de um mim
emparedando a alma no medo de ser assaltado.
É marcar por traços a passagem dos dias
sem curiosidade de olhar por cima do muro.
É uma luz que se apaga ao começo da noite,
distância que não confronta nem sequer contesta.
É escutar o som do cabelo a crescer até cobrir o corpo todo
e ter um copo em cada mão para se brindar ao que seja.

Solidão
é um olhar que já não procura
num tempo sem emoção
e quando já sem chama e apagada
a lenha se torna carvão.

Solidão…
(podemos começar outra vez)
solidão é
sob um céu rutilante de estrelas
sentir um adeus de velas no mar.

Manuel João Croca


4 comentários:

Amélia Oliveira disse...

Bom Dia, António e Manuel João!

MJC:

Invariavelmente, o tema Solidão remete-me de imediato para um conto que li há anos (acho até que já o mencionei aqui) intitulado 'Shopping for One' (lamento mas não conheço a sua tradução). Nunca mais precisei de o voltar a ler porque me lembro dele como se o tivesse acabado de ler. Não é um texto poético, ao contrário do teu 'Territórios de Solidão', mas são ambos textos muito fortes - desculpa-me a comparação, mas afinal a Sra. que o escreveu (ao conto) foi Prémio Nobel da Literatura,(acho) pelo que não deves ficar ofendido...
Só me resta mencionar que é um texto muito bom - 'Well done!'


António,

Então e o resto? Onde está a aula de Artes Plásticas de hoje? :)

Um abraço aos dois!
Amélia

luis santos disse...


Bem, o mínimo que se pode dizer é que é uma solidão onde cabe muita coisa, muita gente; e, ainda por cima, muito bem enfeitada. Não fora a outra...

MJC disse...

Uau!!! que surpresa.

Um poema meu ao lado de um quadro do Francis Bacon, é obra!

Creio que toda a gente, ou pelo menos uma grande parte, vivem momentos assim. Uns verbalizam-no, outros não.
O mais importante é sempre termos uma memória que nos confere identidade e ratifica um percurso a partir do qual é possível traçar caminhos que apontam ao futuro.

Os comentários de Amigos tocam-me sempre.
Remeter para um Nobel de Literatura, ainda que apenas a propósito do tema, só pode lisongear.

Obrigado e abraços.

Manuel João Croca

Unknown disse...

Por companhia, tenho-me a mim.
Poderia eu ter algo mais ou saber para além do que tudo o que de mim houver?
Penso que não estar só é apenas ter alguém ao meu lado vendo um pouco mais de perto a minha solidão.