Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem". Coordenação de Edição: Luís Santos.
segunda-feira, 19 de novembro de 2012
REAL... IRREAL... SURREAL..., (3)
A Persistência da Memória (1931)
Salvador Dali Óleo sobre Tela 24x33cm
DE SER ETERNO
Apetece-me escrever.
Apetece-me escrever só porque sim.
Há o “falar” só para queimar o tempo… e eu exijo o “escrever” só para guardar as palavras. Ou para as deitar fora…
Hoje apetece-me escrever por causa do tempo.
Não aquele de que se fala.
Mas aquele por que se passa… ou aquele que passa por nós.
E que deixa o mundo pequenino. O nosso bocadinho de mundo.
O outro, a gente não tem. Não o sabe.
O tempo que a gente tem é um tempo de passar.
Às vezes é de ficar… E dói.
Quando fica é eterno.
Quando passa é parado.
Quando pára é de não ser.
E não é bom.
Mas o tempo sem vida dentro não é nosso.
É um tempo que a gente não tem porque não o sabe.
Hoje apetece-me escrever por causa do tempo. Não por causa do tempo de que se fala.
Mas por causa do tempo que fala por nós.
O eterno que fica. O eterno que passa.
Os meus mortos. E eu.
O eterno que já não é.
Maria Teresa Bondoso
13 de Setembro de 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
E quando já não se vai a tempo? Restam-nos as memórias, suponho, memórias que persistem, memórias de outros tempos, em que pensávamos ser eternos... e antes que o tempo passe, Obrigada, pelo excelente complemento a este outro tempo, que nos trouxe Sol esta manhã!
A eternidade pode sentir-se na respiração do poema quando, ao caminhar nas suas sílabas, ao soletrar as suas letras, nos encontramos cá dentro e se faz silêncio porque nada mais há para dizer.
Basta um olhar que identifica, no arfar do peito, um corpo que respira.
Na respiração está o tempo permanentemente a nascer, permanentemente a renovar-se. No tempo está o agora e está o futuro.
Tudo é foi.
Vamos a isto.
Parabéns à Teresa Bondoso que ajuda a polir-nos, reflectindo.
Manuel João Croca
Até este tudo que ao lerem é foi, se cá, em mim, é eterno. Bem-hajam pela companhia, por me lerem, pelos comentários... E ao António, mais uma vez, cabe-me agradecer as escolhas.
Um abraço a todos os que vou já, mesmo à distância, considerando amigos.
Teresa Bondoso
Teresa, boa tarde.
De repente senti um sobressalto. Penso que terá ficado explícito no meu comentário anterior mas, para que não restem dúvidas, considero o seu texto (na linha dos anteriores) maravilhoso.
A Teresa escolheu escrever e, por sinal, pode fazê-lo maravilhosamente.
Permita-me, permito-me, deixar-lhe um abraço.
Manuel João Croca
Sim, Manuel João (posso chamá-lo assim?), por isso em mim, eterno. Um abraço também para si,pela sua simpatia e por, comigo, trocar palavras. É um prazer podermos fazê-lo.
Enviar um comentário