segunda-feira, 19 de novembro de 2012

REAL... IRREAL... SURREAL..., (3)




A Persistência da Memória (1931)
Salvador Dali  Óleo sobre Tela 24x33cm


DE SER ETERNO


Apetece-me escrever.

Apetece-me escrever só porque sim.

Há o “falar” só para queimar o tempo… e eu exijo o “escrever” só para guardar as palavras. Ou para as deitar fora…



Hoje apetece-me escrever por causa do tempo.

Não aquele de que se fala.

Mas aquele por que se passa… ou aquele que passa por nós.

E que deixa o mundo pequenino. O nosso bocadinho de mundo.

O outro, a gente não tem. Não o sabe.



O tempo que a gente tem é um tempo de passar.



Às vezes é de ficar… E dói.



Quando fica é eterno.

Quando passa é parado.

Quando pára é de não ser.

E não é bom.



Mas o tempo sem vida dentro não é nosso.

É um tempo que a gente não tem porque não o sabe.

Hoje apetece-me escrever por causa do tempo. Não por causa do tempo de que se fala.

Mas por causa do tempo que fala por nós.

O eterno que fica. O eterno que passa.



Os meus mortos. E eu.

O eterno que já não é.



Maria Teresa Bondoso

13 de Setembro de 2012



5 comentários:

Anónimo disse...

E quando já não se vai a tempo? Restam-nos as memórias, suponho, memórias que persistem, memórias de outros tempos, em que pensávamos ser eternos... e antes que o tempo passe, Obrigada, pelo excelente complemento a este outro tempo, que nos trouxe Sol esta manhã!

MJC disse...

A eternidade pode sentir-se na respiração do poema quando, ao caminhar nas suas sílabas, ao soletrar as suas letras, nos encontramos cá dentro e se faz silêncio porque nada mais há para dizer.
Basta um olhar que identifica, no arfar do peito, um corpo que respira.
Na respiração está o tempo permanentemente a nascer, permanentemente a renovar-se. No tempo está o agora e está o futuro.
Tudo é foi.
Vamos a isto.

Parabéns à Teresa Bondoso que ajuda a polir-nos, reflectindo.

Manuel João Croca

Unknown disse...

Até este tudo que ao lerem é foi, se cá, em mim, é eterno. Bem-hajam pela companhia, por me lerem, pelos comentários... E ao António, mais uma vez, cabe-me agradecer as escolhas.
Um abraço a todos os que vou já, mesmo à distância, considerando amigos.
Teresa Bondoso

MJC disse...

Teresa, boa tarde.

De repente senti um sobressalto. Penso que terá ficado explícito no meu comentário anterior mas, para que não restem dúvidas, considero o seu texto (na linha dos anteriores) maravilhoso.

A Teresa escolheu escrever e, por sinal, pode fazê-lo maravilhosamente.

Permita-me, permito-me, deixar-lhe um abraço.

Manuel João Croca

Unknown disse...

Sim, Manuel João (posso chamá-lo assim?), por isso em mim, eterno. Um abraço também para si,pela sua simpatia e por, comigo, trocar palavras. É um prazer podermos fazê-lo.