A Tradição Cristã
Notas evangélicas, João e apócrifos
Messias (Massiah) = Christos = Ungido – Aquele
que tem a consciência impregnada pelo Espírito. Cristo é o filho unigénito de
Deus. Cristo, o Verbo feito carne.
A primeira mensagem de Cristo: “Arrependei-vos,
porque está próximo o Reino dos Céus” (de poder, riqueza, fama… de uma busca
egocêntrica).
"O Reino dos Céus”, segundo Tomé, “está no
interior e no exterior de vós.” Não é um reino que tenha um lugar físico, é
invisível e espiritual. A definição do que é o Reino é o Aqui e Agora, aquilo
que está sempre presente, reconhece-o e o que está oculto te será revelado.
Designa uma realidade não dual. Tudo é sempre Um!
(Há uma dimensão intemporal de criação a que
todos os místicos querem regressar. Todas as vidas são uma só.)
Se alguém se reconhecer a si mesmo, há-de
reconhecer-se em Deus, de que se é parte, portanto, do Qual não se é
independente. O cristão será outro Cristo. Não é
alguém exterior que deve ser adorado, mas homem e Cristo devem ser Um.
A luz está em todo o homem e é simultaneamente
transcendente e imanente.(Tomé, versículo 108)
(Se um homem não reconhece a fonte espiritual
que há em si, o Pai, facilmente se deixará subjugar por uma série de poderes
menores, políticos, sociais, etc..)
No Evangelho de Maria, apócrifo, diz-se que o
discípulo preferido de Cristo era Maria Madalena. No Evangelho de
Filipe, igualmente apócrifo, diz-se que Cristo e Maria Madalena se beijavam na
boca.
O Cântico dos Cânticos, constituído um dos
textos mais importantes da espiritualidade hebraica, celebra o amor entre homem
e mulher, e Cristo retoma essa celebração. A passagem bíblica de “As Bodas de
Canã”, relembra-o.
Notas
Evangélicas, segundo João
Tudo pré existe no Verbo. Tudo que se passa no
tempo pré-existe eternamente em Deus. Deus cria num pré-instante. No seio do
Verbo tudo é uma coisa só.
O homem tem de passar por um segundo
nascimento, tem de nascer do Espírito, para poder apreender o Reino de Deus.
Para se viver de uma espontaneidade divinamente inspirada, de forma imprevisível,
de acordo com a graça de Deus.
Cristo não vem para julgar, vem para salvar,
para retribuir a dimensão integral do ser, da não fragmentação do ser.
(Salvar = íntegro, a mesma raiz etimológica de
saúde. Saudade, tem uma raiz equivalente, ou seja, a qualidade daquilo que é
são, pleno).
Deus é espírito e verdade, não tem lugar, nem
imagem.
João
6-53 e seguintes
“Come da minha carne e bebe do meu sangue” –
assimilar o que Cristo é – “sejam um só comigo”.
A deificação pelo homem depende de Deus – é Ele
quem escolhe. “Eu e Deus somos Um”, relembra Cristo aos Judeus.
João
14-2 e seguintes
“Quem crer em mim, fará o que eu faço e coisas
maiores que eu”. O homem tem capacidade de se divinizar e fazer coisas grandiosas.
Todo o homem é chamado à santidade, à pacificação. Cristo vem convocar o homem
à perfeição.
Depois de Cristo, enviado por Deus, virá alguém
que ficará connosco para sempre, o Espírito Santo, o Paracleto (Paráclito,
Consolador).
(O Mestre espiritual tem de abandonar o
discípulo para que este possa fazer o caminho pelos seus próprios pés.)
São
Paulo, Filipensis
Valorização do sentimento de unidade total. Ser
humilde, não se considerar superior aos outros. Cuidar de si e do bem dos
outros.
Antes de vir ao mundo Cristo é igual a Deus,
mas ao tornar-se homem não vangloria esta sua dimensão, antes esvazia-se a si
mesmo, abdica da sua condição divina e assume a condição de servo. Apresenta-se
como servidor dos outros. Não se considerou superior, humilhou-se, foi
obediente até à morte física – desconstrução total de viver auto-centrado em
si.
Aquele que abdica do poder é o que se torna
mais poderoso. Os últimos serão os primeiros.
Carlos Rodrigues
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