sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Os Caminhos do Espírito


A Tradição Cristã


Notas evangélicas, João e apócrifos

Messias (Massiah) = Christos = Ungido – Aquele que tem a consciência impregnada pelo Espírito. Cristo é o filho unigénito de Deus. Cristo, o Verbo feito carne.

A primeira mensagem de Cristo: “Arrependei-vos, porque está próximo o Reino dos Céus” (de poder, riqueza, fama… de uma busca egocêntrica).
"O Reino dos Céus”, segundo Tomé, “está no interior e no exterior de vós.” Não é um reino que tenha um lugar físico, é invisível e espiritual. A definição do que é o Reino é o Aqui e Agora, aquilo que está sempre presente, reconhece-o e o que está oculto te será revelado. Designa uma realidade não dual. Tudo é sempre Um!

(Há uma dimensão intemporal de criação a que todos os místicos querem regressar. Todas as vidas são uma só.)

Se alguém se reconhecer a si mesmo, há-de reconhecer-se em Deus, de que se é parte, portanto, do Qual não se é independente. O cristão será outro Cristo. Não é alguém exterior que deve ser adorado, mas homem e Cristo devem ser Um.
A luz está em todo o homem e é simultaneamente transcendente e imanente.(Tomé, versículo 108)

(Se um homem não reconhece a fonte espiritual que há em si, o Pai, facilmente se deixará subjugar por uma série de poderes menores, políticos, sociais, etc..)

No Evangelho de Maria, apócrifo, diz-se que o discípulo preferido de Cristo era Maria Madalena. No Evangelho de Filipe, igualmente apócrifo, diz-se que Cristo e Maria Madalena se beijavam na boca.
O Cântico dos Cânticos, constituído um dos textos mais importantes da espiritualidade hebraica, celebra o amor entre homem e mulher, e Cristo retoma essa celebração. A passagem bíblica de “As Bodas de Canã”, relembra-o.

Notas Evangélicas, segundo João

Tudo pré existe no Verbo. Tudo que se passa no tempo pré-existe eternamente em Deus. Deus cria num pré-instante. No seio do Verbo tudo é uma coisa só.

O homem tem de passar por um segundo nascimento, tem de nascer do Espírito, para poder apreender o Reino de Deus. Para se viver de uma espontaneidade divinamente inspirada, de forma imprevisível, de acordo com a graça de Deus.

Cristo não vem para julgar, vem para salvar, para retribuir a dimensão integral do ser, da não fragmentação do ser.
(Salvar = íntegro, a mesma raiz etimológica de saúde. Saudade, tem uma raiz equivalente, ou seja, a qualidade daquilo que é são, pleno).

Deus é espírito e verdade, não tem lugar, nem imagem. 

João 6-53 e seguintes
“Come da minha carne e bebe do meu sangue” – assimilar o que Cristo é – “sejam um só comigo”.
A deificação pelo homem depende de Deus – é Ele quem escolhe. “Eu e Deus somos Um”, relembra Cristo aos Judeus.

João 14-2 e seguintes
“Quem crer em mim, fará o que eu faço e coisas maiores que eu”. O homem tem capacidade de se divinizar e fazer coisas grandiosas. Todo o homem é chamado à santidade, à pacificação. Cristo vem convocar o homem à perfeição.
Depois de Cristo, enviado por Deus, virá alguém que ficará connosco para sempre, o Espírito Santo, o Paracleto (Paráclito, Consolador).
(O Mestre espiritual tem de abandonar o discípulo para que este possa fazer o caminho pelos seus próprios pés.)

São Paulo, Filipensis

Valorização do sentimento de unidade total. Ser humilde, não se considerar superior aos outros. Cuidar de si e do bem dos outros.
Antes de vir ao mundo Cristo é igual a Deus, mas ao tornar-se homem não vangloria esta sua dimensão, antes esvazia-se a si mesmo, abdica da sua condição divina e assume a condição de servo. Apresenta-se como servidor dos outros. Não se considerou superior, humilhou-se, foi obediente até à morte física – desconstrução total de viver auto-centrado em si.
Aquele que abdica do poder é o que se torna mais poderoso. Os últimos serão os primeiros.

Carlos Rodrigues


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