Estou desesperada, é como se tivesse morrido e não soubesse que estava morta. Sinto-me confusa e perdida e sinto que é insuportável permanecer nesta casa, onde é tão estranho dormir só, comer só, estar só, esperando de desesperança que finalmente o Manuel regresse e me conte o que viu na sua ausência. Certa é a certeza de ter perdido metade de mim, pois é dessa forma que me sinto, amputada da outra parte da minha alma. Nem sei se sofro que sofrimento não me parece ser o que por mim vai passando, antes me escovo na apatia dos olhos que deixaram de olhar. E foi tão rápida a revelação do mal e tão curto o mês em que o indizível se consumou e aquele maldito cancro no estômago derrotou o meu amor que, perante a besta fulminante, mal teve tempo para lutar. E eu aqui sem vontade, sem ânimo, sem vontade de ter vontade, sem qualquer ânimo para ter ânimo, eu aqui apenas com consciência de que continuo a amar-te, como te amei quando apaixonados nos entregamos um ao outro na promessa de enfrentarmos a vida de mãos dadas, como te amei quando apaixonados, melados nos entregámos um ao outro na busca dos segredos mais íntimos e na ânsia de os desvendar para o êxtase dos corpos, continuo a amar-te como quando decidimos embarcar na aventura mais desconcertante que o bom senso dos mais velhos desaconselhava e como quando te via e admirava na tua capacidade para te adaptares àquilo para que não foras feito, continuo a amar-te como te amei quando os nossos filhos nasceram de mim e quando me embevecia por te ver carinhoso e tão paciente no amparo que lhes foste proporcionando para que as asas deles voassem, como te amei em todos os momentos em que me amaste, em que nos amámos sempre com o ardor de quem descobre amar cada vez mais.
Manuel do meu coração, Manuel da minha alma que levaste metade de mim contigo e que só partirás quando, com a tua outra metade, também eu partir.
Amo-te tanto, tanto.
2 comentários:
Ela,
o branco mais ousado
o colo mais puro.
que me trás enfeitiçado
pelo o amor que lhe juro.
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