A Igreja Matriz e Dom Dinis
por Luís Santos
Embora não se conheça a data
certa da sua edificação, pensa-se que a Igreja Matriz de Alhos Vedros tenha
sido construída no século XIII, contando, por isso, perto de 800 anos.
Há quem palpite que a construção
do seu núcleo inicial tenha acontecido no século XII, em 1146 ou 1147*, e que
tenha sido construído em cima de uma mesquita árabe que já existiria
anteriormente na freguesia, então ocupada pelos mouros, mas a verdade é que não
se pode afirmar com rigor que quer a Igreja, quer Alhos Vedros, pelo menos com
este nome, tivessem origem pré-cristã.
É sabido que D. Sancho I concede
em 1185 o território da zona ribeirinha do Tejo à Ordem de Santiago, sediada em
Palmela, mas nada nos diz que à época já existisse uma Igreja em Alhos Vedros.
Decerto, poderão vir a ter os nossos arqueólogos uma palavra a dizer sobre o assunto
que possa legitimar, ou não, a tal lenda na Nossa Senhora dos Anjos. Para já, o documento escrito mais antigo
que refere a existência da Igreja Matriz é de 1298.
Curiosa esta data que nos faz
pensar em D. Dinis, nascido em 1261, depois coroado Rei de Portugal no ano de
1279 e até 1325. Há referências no seu reinado à existência de estaleiros de
construção naval na área do termo de Alhos Vedros.** Como é sabido, foi D.
Dinis que fundou a Marinha Portuguesa e até há quem diga que a plantação do Pinhal
de Leiria foi “uma plantação de naus a haver” que depois haveriam de ir às
descobertas. Coisas de poetas, pois que poeta, trovador, também foi. E se era
poeta, impôs que na corte se tinha de falar em Língua Portuguesa, e foi assim
que ela se consolidou para ir ao mundo.
Ficou conhecido como o Rei
Lavrador, poderoso que foi o seu jeito reformista na política agrícola do país,
jeito reformador que também teve na educação e, vai daí, funda os “Estudos
Gerais”, em Lisboa, a primeira Universidade Portuguesa que muito ajudou a dar “novos
mundos ao mundo”, como diria Luís de Camões, já que vamos com poetas.
E, neste jovem país, pois que as
fronteiras tinham sido definidas pouco tempo atrás, ao arrepio do Papa e da
poderosa corte francesa que juntos deram a terrível ordem de aniquilamento dos
famosos Templários, por razões que agora não vêm ao caso, o nosso Rei não só os
protegeu como lhes manteve os privilégios. E, foi assim que em Portugal a Ordem
do Templo passou a Ordem de Cristo, a tal que teve um papel determinante na
expansão ultramarina.
E não poderíamos acabar esta
alusão a D. Dinis sem falar na sua Santa companheira, a Rainha Isabel de Aragão,
ao que parece mulher muito piedosa, amiga dos pobres, espírito pacifista e,
dizem… milagreira. Foi por ela que se generalizou em Portugal o famoso culto popular do
Espírito Santo, que se cultuava a partilha de bens pelos mais pobres, que se promovia a libertação social dos desavindos e, ponto alto da festa, sempre se
coroava simbolicamente uma criança como imperador do Reino. Ora, como nós
sabemos, e insistindo com Fernando Pessoa, “o melhor do mundo são (mesmo) as
crianças”.
*SILVA, Vítor Manuel, Contributos
para a História Local do Concelho da Moita, edição do autor, 2006, p.89, citado
de MIRANDA, António Augusto Lobo de, Comércio de Portugal, Interesses Locais,
24 e 26 de Agosto de 1887, XIII e XIV.
**Cf., ALVES, P. Carlos Póvoa,
Informações Paroquiais de Alhos Vedros e Moita, Edição Igreja Paroquial de
Alhos Vedros, 2007 (3ª edição), p.129.
8 comentários:
E ora aqui temos mais um belo e enriquecedor texto do Amigo Luís.
E como ele muito bem explica, ser poeta nem sempre significa viver na dimensão do irreal inconcretizável.
Não, por vezes a poesia é o melhor caminho para que melhor encontremos o rumo para alargar horizontes e descobrir novos mundos pela concretização de projectos antes apenas sonhados.
A poesia apresentasse-nos assim como uma espécie de luz no coração que se concretiza em ideias e determinação.
É dessa Arte maior que, creio, todos andamos à procura.
Abraço.
Manuel João Croca
...
sabendo que é a própria Vida o maior poema e que, antes de ser, já é.
Abraço.
Um óptimo refresco para a memória!
Nos vestígios da poesia
a realidade alcança um outro brilho. Nela a fantasia toca as coisas para lhes dar vida!
Caro António
A nossa vénia e Abraço.
Caro Manuel João
Ficou como anónimo sem querer.
Abraço.
Muito Bom. Um texto bastante interessante e muito bem escrito - faz com que a leitura seja um prazer.
Parabéns.
Amigo Luís!!!
Os Meus parabens, excelente Texto.
Já aprendi mais umas coisas eheheh
Abraço Grande
Diogo
Agradeço.
Pois é amigo Diogo, a vida é mesmo assim, vamos aprendendo uns com os outros. Neste caso é uma forma de retribuir aquilo que tão bem tens sabido partilhar: a tua infinita capacidade de amar.
Grande Abraço.
Enviar um comentário