quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Alhos Vedros, 500 anos de Foral


A Igreja Matriz e Dom Dinis

por Luís Santos


Embora não se conheça a data certa da sua edificação, pensa-se que a Igreja Matriz de Alhos Vedros tenha sido construída no século XIII, contando, por isso, perto de 800 anos.

Há quem palpite que a construção do seu núcleo inicial tenha acontecido no século XII, em 1146 ou 1147*, e que tenha sido construído em cima de uma mesquita árabe que já existiria anteriormente na freguesia, então ocupada pelos mouros, mas a verdade é que não se pode afirmar com rigor que quer a Igreja, quer Alhos Vedros, pelo menos com este nome, tivessem origem pré-cristã.

É sabido que D. Sancho I concede em 1185 o território da zona ribeirinha do Tejo à Ordem de Santiago, sediada em Palmela, mas nada nos diz que à época já existisse uma Igreja em Alhos Vedros. Decerto, poderão vir a ter os nossos arqueólogos uma palavra a dizer sobre o assunto que possa legitimar, ou não, a tal lenda na Nossa Senhora dos Anjos. Para já, o documento escrito mais antigo que refere a existência da Igreja Matriz é de 1298.

Curiosa esta data que nos faz pensar em D. Dinis, nascido em 1261, depois coroado Rei de Portugal no ano de 1279 e até 1325. Há referências no seu reinado à existência de estaleiros de construção naval na área do termo de Alhos Vedros.** Como é sabido, foi D. Dinis que fundou a Marinha Portuguesa e até há quem diga que a plantação do Pinhal de Leiria foi “uma plantação de naus a haver” que depois haveriam de ir às descobertas. Coisas de poetas, pois que poeta, trovador, também foi. E se era poeta, impôs que na corte se tinha de falar em Língua Portuguesa, e foi assim que ela se consolidou para ir ao mundo.

Ficou conhecido como o Rei Lavrador, poderoso que foi o seu jeito reformista na política agrícola do país, jeito reformador que também teve na educação e, vai daí, funda os “Estudos Gerais”, em Lisboa, a primeira Universidade Portuguesa que muito ajudou a dar “novos mundos ao mundo”, como diria Luís de Camões, já que vamos com poetas.

E, neste jovem país, pois que as fronteiras tinham sido definidas pouco tempo atrás, ao arrepio do Papa e da poderosa corte francesa que juntos deram a terrível ordem de aniquilamento dos famosos Templários, por razões que agora não vêm ao caso, o nosso Rei não só os protegeu como lhes manteve os privilégios. E, foi assim que em Portugal a Ordem do Templo passou a Ordem de Cristo, a tal que teve um papel determinante na expansão ultramarina.

E não poderíamos acabar esta alusão a D. Dinis sem falar na sua Santa companheira, a Rainha Isabel de Aragão, ao que parece mulher muito piedosa, amiga dos pobres, espírito pacifista e, dizem… milagreira. Foi por ela que se generalizou em Portugal o famoso culto popular do Espírito Santo, que se cultuava a partilha de bens pelos mais pobres, que se promovia a libertação social dos desavindos e, ponto alto da festa, sempre se coroava simbolicamente uma criança como imperador do Reino. Ora, como nós sabemos, e insistindo com Fernando Pessoa, “o melhor do mundo são (mesmo) as crianças”.


*SILVA, Vítor Manuel, Contributos para a História Local do Concelho da Moita, edição do autor, 2006, p.89, citado de MIRANDA, António Augusto Lobo de, Comércio de Portugal, Interesses Locais, 24 e 26 de Agosto de 1887, XIII e XIV.

**Cf., ALVES, P. Carlos Póvoa, Informações Paroquiais de Alhos Vedros e Moita, Edição Igreja Paroquial de Alhos Vedros, 2007 (3ª edição), p.129.

8 comentários:

MJC disse...

E ora aqui temos mais um belo e enriquecedor texto do Amigo Luís.
E como ele muito bem explica, ser poeta nem sempre significa viver na dimensão do irreal inconcretizável.
Não, por vezes a poesia é o melhor caminho para que melhor encontremos o rumo para alargar horizontes e descobrir novos mundos pela concretização de projectos antes apenas sonhados.
A poesia apresentasse-nos assim como uma espécie de luz no coração que se concretiza em ideias e determinação.
É dessa Arte maior que, creio, todos andamos à procura.

Abraço.

Manuel João Croca

Anónimo disse...


...
sabendo que é a própria Vida o maior poema e que, antes de ser, já é.

Abraço.

Antonio Justo disse...

Um óptimo refresco para a memória!
Nos vestígios da poesia
a realidade alcança um outro brilho. Nela a fantasia toca as coisas para lhes dar vida!

luis santos disse...


Caro António
A nossa vénia e Abraço.

luis santos disse...


Caro Manuel João
Ficou como anónimo sem querer.
Abraço.

Anónimo disse...

Muito Bom. Um texto bastante interessante e muito bem escrito - faz com que a leitura seja um prazer.
Parabéns.

Diogo Correia disse...

Amigo Luís!!!

Os Meus parabens, excelente Texto.

Já aprendi mais umas coisas eheheh

Abraço Grande
Diogo

luis santos disse...


Agradeço.
Pois é amigo Diogo, a vida é mesmo assim, vamos aprendendo uns com os outros. Neste caso é uma forma de retribuir aquilo que tão bem tens sabido partilhar: a tua infinita capacidade de amar.
Grande Abraço.