sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Livros d'África
















Ilídio do Amaral


Este autor, uma das figuras angolanas mais brilhantes no domínio da pesquisa e da história, nasceu em Luanda, em 1926. É Geógrafo, Professor Catedrático da Universidade de Lisboa, da qual foi Reitor, Director do Centro de Geografia do Instituto de Investigação Científica Tropical, membro da Academia de Ciências de Lisboa, da Sociedade de Geografia e da Academia Portuguesa de História. Do seu vasto e rico currículo constam mais de trezentos títulos, quase todos de temática africana.
Na obra “O RIO CUANZA, DA BARRA A CAMBAMBE”, publicada em 2000 pelo I.I.C.T. – Instituto de Investigação Científica Tropical, desenvolve, para além da fauna, flora e geologia, a importância decisiva do rio Cuanza enquanto meio para a ocupação e fixação portuguesa no interior angolano, baseado nas notas de quatro cronistas seiscentistas: o ouvidor André Velho da Costa, o capitão-mor Garcia Mendes Castel-Branco, o provedor Baltasar Rebelo de Aragão e o incontornável António de Oliveira de Cadornega, que é por muitos considerado o percursor da literatura angolana.

Em relatório de 1612, André Velho da Costa relatava a existência de três importantes presídios nas margens do Cuanza: Muxima, Massangano e Cambambe. Se eles não existissemnão ousariam os mercadores negros, que vinham da Matamba, Tunda e Are e outras partes mui remotas, a resgatar ao porto de Luanda.”

Baltasar Rebelo de Aragão, chegado a Angola em 1592 e aí falecido em 1624, descreve o Cuanza como um “rio mui caudaloso e que todo o ano se navegava até à fortaleza de Cambambe.” Daí para cima não se podia passar “por respeito de grande caída de água, a qual era tão grande que do fumo e vapor que lançava para o ar se formava uma espessa neblina que se convertia em fino salitre depositado sobre os penhascos do rio.”

Garcia Mendes Castel-Branco, “um dos primeiros conquistadores de Angola”, onde viveu durante quarenta e seis anos, advogava que todos os tribunais enviassem os degredados “homens, como mulheres para Angola e não para outra parte, e que da cidade de São Paulo (Luanda) os mandassem logo para as fortalezas de Cambambe, Massangano e Muxima.”

De Cadornega ficam os relatos coloridos sobre os usos e costumes dos povos que viviam ao longo das margens do Cuanza, portugueses e filhos da terra, cultivando os seus arimos (plantações), enfrentando hipopótamos e crocodilos, e as descrições das guerras da conquista levadas a cabo pelos portugueses contra os naturais da terra e contra os holandeses, narrativas que, de tão ricas e pormenorizadas, não cabem aqui.



Tomás Lima Coelho

Sem comentários: