Ilídio do Amaral
Este autor, uma das figuras angolanas mais brilhantes no domínio da pesquisa e da história, nasceu em Luanda, em 1926. É Geógrafo, Professor Catedrático da Universidade de Lisboa, da qual foi Reitor, Director do Centro de Geografia do Instituto de Investigação Científica Tropical, membro da Academia de Ciências de Lisboa, da Sociedade de Geografia e da Academia Portuguesa de História. Do seu vasto e rico currículo constam mais de trezentos títulos, quase todos de temática africana.
Na obra “O RIO CUANZA,
DA BARRA A CAMBAMBE”, publicada em 2000 pelo I.I.C.T. – Instituto de
Investigação Científica Tropical, desenvolve, para além da fauna, flora e
geologia, a importância decisiva do rio Cuanza enquanto meio para a ocupação e
fixação portuguesa no interior angolano, baseado nas notas de quatro cronistas
seiscentistas: o ouvidor André Velho da Costa, o capitão-mor Garcia Mendes
Castel-Branco, o provedor Baltasar Rebelo de Aragão e o incontornável António de
Oliveira de Cadornega, que é por muitos considerado o percursor da literatura
angolana.
Em relatório de 1612, André
Velho da Costa relatava a existência de três importantes presídios nas margens
do Cuanza: Muxima, Massangano e Cambambe. Se eles não existissem “não
ousariam os mercadores negros, que vinham da Matamba, Tunda e Are e outras
partes mui remotas, a resgatar ao porto de Luanda.”
Baltasar Rebelo de
Aragão, chegado a Angola em 1592 e aí falecido em 1624, descreve o Cuanza como
um “rio mui caudaloso e que todo o ano se
navegava até à fortaleza de Cambambe.” Daí
para cima não se podia passar “por
respeito de grande caída de água, a qual era tão grande que do fumo e vapor que
lançava para o ar se formava uma espessa neblina que se convertia em fino salitre
depositado sobre os penhascos do rio.”
Garcia Mendes Castel-Branco, “um
dos primeiros conquistadores de Angola”, onde viveu durante quarenta e seis anos, advogava que todos os
tribunais enviassem os degredados “homens,
como mulheres para Angola e não para outra parte, e que da cidade de São Paulo
(Luanda) os mandassem logo para as fortalezas de Cambambe, Massangano e
Muxima.”
De Cadornega ficam os
relatos coloridos sobre os usos e costumes dos povos que viviam ao longo das
margens do Cuanza, portugueses e filhos da terra, cultivando os seus arimos
(plantações), enfrentando hipopótamos e crocodilos, e as descrições das guerras
da conquista levadas a cabo pelos portugueses contra os naturais da terra e
contra os holandeses, narrativas que, de tão ricas e pormenorizadas, não cabem
aqui.
Tomás Lima Coelho
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