por Luís Santos
Embora sem documentos escritos que o comprovem, sustentamos que Alhos Vedros terá nascido, pelo menos, lá para os inícios da Nação, tendo como referência o ano de 1205, quando D. Sancho I, filho de D.
Afonso Henriques, conquista definitivamente a vila de Palmela aos mouros.
Para além desse ano, ou
um pouco mais à frente, abre-se um hiato no tempo que não nos possibilita ir mais
além na história do povoado. Isto porque, pelo menos por agora, quer em termos
históricos, quer arqueológicos, não dispomos de dados que o permitam comprovar.
Como sabemos, até que Portugal se
estendesse do Minho e Trás-os-Montes ao Algarve, o território esteve ocupado
por povos árabes durante mais de 500 anos. Esses povos chegaram à Península
Ibérica no início do século VIII, mais precisamente no ano de 711, e a ocupação
de território português estendeu-se até à data da conquista definitiva do
Algarve por D. Afonso III, em 1249.
Até agora, as investigações
arqueológicas feitas em Alhos Vedros e região circundante não encontraram
vestígios que nos possam fazer prolongar com segurança a ocupação humana deste
lugar durante o período árabe. Assim, até prova em contrário, o nome de Alhos
Vedros, tal como dos lugares próximos que hoje constituem o Concelho, só se
podem referir depois da cristianização destes lugares.
Mas, embora só nos seja permitido alargar a
história de Alhos Vedros até meados do século XIII, e mesmo assim só por palpite, porque
a partir de documentos escritos só a partir do final do século, muitos são os dados
arqueológicos que dão conta do povoamento da região em datas mais recuadas. Nas
pesquisas arqueológicas que se têm feito um pouco por todo o Concelho, muitos
são os vestígios encontrados que apontam para uma ocupação deste território,
pelo menos, até ao Paleolítico, ou seja, há 30 mil anos atrás. Como diz António
Gonzalez, “Na campanha de prospeções sistemáticas do Concelho da Moita e na
zona da Baixa da Banheira na península denominada Ponta da Passadeira
encontrámos os vestígios de uma raríssima e bem conservada olaria do neolítico
antigo evolucionado (3.000 AC) sob a qual um acampamento do paleolítico médio
(cerca de 30.000 anos AC) torna o local ainda mais digno de interesse.”*
A título de mais um exemplo sobre
o antigo povoamento da região, entre outros possíveis, referimos o sítio
arqueológico do Gaio, onde uma intervenção conduzida sob a égide do Museu de
Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, nos dá conta de vários achados
arqueológicos de grande importância para a região. Citando, “Uma das
contribuições mais relevantes do estudo de ocupação neolítica do Gaio reside no
facto de se ter exumado uma indústria em pedra lascada bem contextualizada e
datável do Neolítico antigo evolucionado.”**
Podemos, pois, concluir que
embora se saiba que o povoamento desta região remonta há muitos milhares de
anos atrás, só é possível falar com segurança da existência do nome de Alhos
Vedros a partir do século XIII, já que os documentos escritos mais antigos datam
deste período. Muito provavelmente, só a insistência em estudos arqueológicos
nos poderá trazer novas informações para o futuro.
* GONZALEZ, António, Prospecções
arqueológicas em locais de obras no Concelho da Moita e seu acompanhamento, in
I Jornadas de História e Património Local. Edição Câmara Municipal da Moita,
2004, p.64.
** SOARES, Joaquina, SILVA,
Carlos Tavares, GONZALEZ, António, Gaio: Um Sítio do Neolítico Antigo do
Estuário do Tejo, in I Jornadas de História e Património Local. Edição Câmara Municipal
da Moita, 2004, p.58
4 comentários:
Amigo Luis!
Alhos Vedros tem de facto muita historia. Talvez quanto mais avançemos no tempo, mais avanço haja no conhecimento do nosso passado cada vez mais remoto.
Bom estudo ;-)
Abraço
Diogo
É verdade amigo Diogo. A arqueologia tem essa coisa boa: nós avançamos no tempo e ela ajuda-nos a perceber o passado, o que fomos, o que fizeram os nossos avós, etc.
Em síntese, ajuda-nos a perceber o que é o Homem, quem é Portugal, o que é o mundo... E, obviamente, pode ajudar muito a construir o futuro, assim haja vontade e habilidade para isso.
Aquele Abraço.
Luís:
Belo texto, claro, conciso e sem erros de português, coisa rara nestes tempos.
Parabéns.
Manuell Henrique Figueira
Caro Manuel,
Obrigado pela atenção, mais uma vez.
Aquele Abraço.
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