A União Europeia
exporta a Pobreza para a Periferia e furta-lhe a Mão-de-Obra
António
Justo
À
Imigração precária segue-se a Procura da Imigração qualificada
A
Alemanha que nos anos 60 precisava de trabalhadores desqualificados para dar
resposta ao milagre económico alemão necessita hoje de mão-de-obra qualificada
para as novas apostas no futuro. Outrora, com a imigração carente provocou a
concorrência a nível de classe operária nacional e estrangeira, conseguindo
iniciar assim um nivelamento do operariado pela base. Foi a fase da
concorrência entre as camadas baixas da sociedade. Disciplinou a classe obreira
para o combate económico iniciado com a globalização. Actualmente procura-se
disciplinar e dominar a camada social média. A luta passou a dar-se entre a
camada média alemã com os seus técnicos e a classe média estrangeira,
imigrantes especialistas internacionais. Assim a Alemanha consegue manter-se
como o lugar privilegiado da tecnologia e do desenvolvimento, assegurando assim
para a Europa a vanguarda do progresso tecnológico e económico.
A
crise do Sul da EU beneficia os povos mais ricos que, por sua vez, desestabiliza
os estados da periferia. Exercita neles possíveis cenários de
conflitos laborais e sociais de gerações vindouras dos actuais países fortes.
Portugal é o país que exporta mão-de-obra mais qualificada deixando assim um
buraco de menor produção no país. Estes emigrantes são altamente motivados
e contribuem, pelo seu perfil biológico e currículo para o incremento do nível
social alemão (países fortes) e consequentemente para o empobrecimento do nível
social português/ da periferia. Geralmente emigram os melhores, com maior
espírito criativo e de mobilidade.
A
Alemanha absorve 400.000 imigrantes por ano
A
Alemanha precisa dum contingente de 400.000 imigrantes por ano para equilibrar
a o défice demográfico. O problema da diminuição da população alemã com os consequentes
problemas para o pagamento de reformas futuras, segurança social equilibrada e
pagamento das dívidas, anteriormente prognosticado por cientistas, já não mete
medo devido à crescente imigração para a RFA.
A
crise do Sul beneficia os povos mais ricos para onde emigram. Segundo relata a
revista “manager magazine” 1/2013 alemã conta-se, pelo menos, com um aumento de
2,2 milhões de habitantes na Alemanha até 2017, e, perante a “tristeza de
depressão do sul da Europa”, a afluência podia até aumentar. Este ano a
imigração para a Alemanha já atingiu os 400.000; isto corresponde a duas
cidades médias por ano.
Erro
crasso dos Governos do Sul
Em
2011 emigraram 44 mil portugueses. Portugal e os países da periferia ficam com
as dívidas, com a sangria da sua juventude qualificada, com as pessoas idosas a
manter e com um operariado não confrontado com a concorrência operária (entre
firmas) mas sim com o receio entre emprego e desemprego. No século passado
estados nacionais compensavam a sangria, provocada pela emigração, com uma
maior natalidade e com as remessas dos emigrados. Nessa altura as potências
europeias viam no incremento da imigração uma espécie de apoio ao
desenvolvimento económico dos países pobres considerando as remessas como
crédito para estes países poderem pagar as suas encomendas. Hoje esta seria uma
conta errada tanto para os estados credores como para os devedores. A situação
dos países devedores é tal que para poderem alimentar o povo e evitar revoltas
sociais terão de exigir uma nova ordem económica na Zona Euro. Dado os países
fortes serem os beneficiados desta zona teria de ser criado um instrumente
equilibrador das diferentes regiões económicas. Os países economicamente fortes
teriam de efectuar uma transferência solidária de dinheiros para as regiões
mais fracas. Além disso na Alemanha unida há o “imposto de solidariedade” que
cada empregado paga para que a zona da antiga Alemanha socialista (DDR) consiga
atingir o mesmo nível de vida da antiga parte ocidental da Alemanha (BRD). Esta
contribuição de solidariedade corresponde a 5% dos impostos que se pagam.
Pelo
que se observa os nossos políticos deixam-se enganar hoje com as remessas dos
emigrantes como ontem com os apoios da EU. A mão-de-obra especializada é a
melhor ‘matéria-prima’ dum país moderno.
Portugal,
conjuntamente com os países da periferia, repete hoje o mesmo erro que cometeu
com a política de fomento da União Europeia limitando-se a dar resposta às
imposições do grande capital internacional. Os governos tornaram-se nos
servidores do capital internacional aplicando apenas as suas directrizes
estruturais. Há porém uma grande diferença entre as pequenas economias e as
economias dos estados potências. Estes têm as políticas aferidas às suas elites
financeiras enquanto os estados pequenos não têm elites financeiras capazes de
estratégia política para concorrer a nível internacional. A EU implementou
a construção das infraestruturas da periferia com avultados apoios financeiros,
créditos e investimentos a fundos perdidos. As grandes multinacionais europeias
em parcerias com os seus estados através da política da EU, conseguiram assim
aproveitar-se dos fundos europeus fazendo investimentos nos respectivos países.
Passados poucos anos as firmas abandonaram os países levando com elas os lucros
para os investirem na competição das firmas a nível global (China, etc.).
Provocaram a ruína das firmas autóctones rudimentares e deixaram as economias
nacionais destruídas e consumidores exigentes. A colaboração dos Estados fortes
com as suas empresas no investimento do desenvolvimento tecnológico faz destes
estados os lugares privilegiados na renovação tecnológica, a única estratégia capaz
de manter a supremacia sobre os países emergentes. A Alemanha é a nação da EU
mais preparada e vocacionada para dar resposta ao desafio do futuro. A criação
do euro não passa duma tentativa estratégica e capitalista para disciplinar a
política, os estados e o operariado.
Remessas
de 2.254,580 milhões de Euros para Portugal em 2012
O
maior aumento de remessas dos emigrantes em relação a 2011 foi o da Alemanha
que passou de 92,1 milhões para 142,7 milhões €; na França diminuiu de 749,8
milhões € para 712,9 milhões €.
Segundo
as estatísticas do Banco de Portugal as remessas dos emigrantes portugueses
para Portugal atingiram, nos primeiros dez meses de 2012, os 2.254,580 milhões
de Euros. Isto são os números oficiais porque há muito outro dinheiro que se leva
directamente para Portugal. Os países de maior envio foram: França 718,934
milhões €, Suíça 540,870 milhões € (230mil portugueses), Angola 219,072 milhões
€ (100.000 port.), Alemanha 142,732 milhões € (92 mil port.), EUA 113,922
milhões €, Reino Unido 107,708 milhões (84 mil portugueses). Espanha 105,595
milhões € (146 mil port.), Luxemburgo 62,464 milhões €; Bélgica 42,057 milhões
€, Canadá 39,370 milhões €.
Numa
era em que os estados nacionais se dissolvem, a europeização se alarga e a
instabilidade económica aumenta e os emigrados não se sentirão a aumentar
remessas para zonas instáveis. Já hoje, muita dos emigrantes da velha geração,
que se encontra reformada, não se sente motivada a regressar e chega mesmo a
lamentar o não ter investido atempadamente na nação de residência em vez de o
ter feito na nação mãe. Isto nota-se principalmente nas mulheres. A nova
geração de emigrantes fará uma aplicação mais racional que emocional das suas
poupanças. Prevendo-se isto urge uma nova política nacional e europeia.
A
actual política da EU revelar-se-á catastrófica para o sul. Enquanto o sul
sofre a Alemanha (e países centrais) esfrega as mãos de contente. Os imigrantes
provenientes da periferia europeia são bem-vindos porque são trabalhadores
qualificados e não causam os problemas de guetos que os imigrantes muçulmanos
criam. Para agora chegam os imigrantes da periferia e têm a vantagem de
serem mais qualificados; por isso se reserva para mais tarde o fomento da
angariação os emigrantes da África do Norte, Ásia, etc. Assim não se
precisa de prover a uma política de família responsável. Em 2012 a Alemanha
deu trabalho a 25.000 especialistas imigrados provindos de Espanha,
Portugal e Grécia. As firmas recrutam o pessoal de forma objectivada
procurando engenheiros nos ramos de engenharia de construção e engenharia
elétrica. Recrutam os melhores absolventes das faculdades estrangeiras, tal
como sempre fizeram os americanos. Principalmente o sudoeste alemão aponta
para o futuro apostando na imigração qualificada. Há agências
especializadas no recrutamento de engenheiros e profissões qualificadas.
A
união do mercado europeu favorece os seus epicentros da economia. Assim podem
com os imigrados manter as indústrias no país não precisando de fundar
sucursais nas periferias. Muitos médicos e engenheiros emigram também devido à
atracção da estabilidade social alemã. Um aspecto interessante de algumas
firmas pequenas alemãs é o facto de se preocuparem também com o bem-estar
familiar do empregado, apoiando-o, por vezes, no sentido de encontrar lugar de
trabalho também para a namorada. Para a nova geração de emigrantes é muito
importante a estabilidade.
EU
actualmente ao serviço do grande capital
A
União Europeia (EU), desde o início, desenvolveu uma estratégia de
fortalecimento das suas elites financeiras através do fomento da EU e da
criação do Euro para elas poderem fazer frente às elites financeiras americanas
e mundiais. As nações fortes da Europa elaboram as suas políticas com base em
prognoses e programas económicos científicas a longo prazo. Assim asseguram o
bem-estar dos seus cidadãos dando resposta adequada aos problemas do seu futuro
económico. As nações mais débeis, porque não têm grandes elites económicas,
limitam-se a reagir às macropolíticas sem pensar nos verdadeiros objectivos a
elas subjacentes.
Nos
anos oitenta e noventa a Alemanha seguiu uma política de fortalecer as grandes
empresas nacionais para estarem preparadas para o combate económico da
globalização; essa política revelou-se nacionalmente inteligente por dar
resposta ao grande problema da concorrência com os países emergentes e a
fortaleza da sua indústria atrair imigrantes técnicos que compensam a falta de
mão-de-obra devida à baixa natalidade (o grande problema do futuro).
António
da Cunha Duarte Justo
2 comentários:
Viva, Professor António Justo
Antes de mais os votos de um ano de dois mil e treze em paz e com muita saúde, para si e todos os seus.
E mais uma vez somos prendados pela acutilância de um texto precioso e necessário, pois nestes tempos cinzentos em que os povos estão sendo derrotados na guerra que a constelação de interesses e ganâncias lhes moveu, no duplo sentido de se apropriarem desta forma imoral das riquezas por aqueles criadas e de lhes imporem a perda de direitos e da dignidade que forcem a aceitação da(s) fatalidade(s) que a pobreza sempre faz recair sobre aqueles que agrilhoa, num quadro mental de totalitarismo de mercado que, num verdadeiro retrocesso civilizacional que mentirosamente impõe o discurso da ausência de alternativas, em tempos tais de trevas para a dignidade com que a pessoa humana nasce, importa a coragem de sabermos denunciar e desmascarar os ardis que, no plano das ideias, mais não são afinal das bombas com que o indizível ameaça destruir as casas das pessoas comuns. É justamente isso que o Senhor aqui nos tem oferecido, com o bónus adicional de o fazer com a elegância das explanações claras e substantes e a bonita particularidade de partirem de alguém com tão elevada posição académica o que – permita-me essa opinião – além de tudo só pode revelar a grandeza de carácter. Por isso me curvo perante si, em sinal de respeito e agradecimento. Afinal, são pessoas como o senhor que, mesmo no meio do desespero destes dias de chumbo – infelizmente, os mesmos que novamente nos colocam no horizonte o “Hard Times” do gentil Dickens – nos permitem manter acesa a chama da esperança, esse sentimento tão eminentemente humano e sem o qual sequer teríamos como encontrar sentido para a Humanidade.
Aquele abraço, companheiro
Luís
Prezado escritor Luís F. de A. Gomes
Agradeço e retribuo os seus votos.
Tem toda a razão. Os “tempos cinzentos” em que vivemos são branqueados por uma opinião pública manipulada pela opinião publicada e mantida pelo politicamente correcto subjacente aos interesses das oligarquias económicas. Realmente estas conseguem engordar à custa da pobreza dos outros e da massa acrítica fomentada.
O amigo põe os pontos nos is ao falar dum “verdadeiro retrocesso civilizacional”. A civilização ocidental europeia (falo do espaço que melhor conheço) encontra-se de retirada. Com o argumento de se querer definir como sociedade aberta abdica da qualidade em benefício da quantidade, abdica da alma em benefício do dinheiro.
O que faço não tem nada de especial se pensarmos que cada cidadão deveria sentir-se responsável no trabalho de servir a humanidade.
De facto Charles Dickens, já em 1854, ao falar da classe proletária e da classe alta, mostrava no seu romance “Tempos Difíceis” os problemas duma sociedade baseada na ideologia de que para a sociedade baixa basta apenas o trabalho como ideário de vida e duma classe alta que mantem o proletário sob a sua batuta. A proletarização social e nacional encontra-se em aceleração total por uma política destruidora do ideário cristão, da economia social e da subornação das democracias e estados. Parabéns pelo alto trabalho que faz
Um abraço grande
António
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