La Grande Jatte, Seurat, 1884
Óleo sobre Tela 205,7x305,8 cm |
TRIBUTO
O senhor Zé não sabe ler.
Só lê os rótulos das sacas da ração, o nome dos medicamentos para os animais, o nome do remédio das batatas… Ele diz que ler não sabe, só sabe ver.
- Ó professora, eu só sei ver o que preciso.
Para o senhor Zé ler é ver.
Para mim também.
É ver antes das palavras.
E as palavras são sempre depois da vida.
O senhor Zé é o marido da D. Firmina.
Mas a D. Firmina não é a mulher do senhor Zé.
É a mãe do Quim, da Bela e do João. E a avó dos filhos do Quim.
Ela diz que ser a mulher do senhor Zé é ser mãe do Quim, da Bela e do João. E avó dos filhos do Quim.
Para o senhor Zé também deve ser assim.
É que o senhor Zé está sempre a assobiar. E o assobio vem sempre depois da vida.
Gosto tanto deles…
Do senhor Zé, da D. Firmina, do Quim, da Bela, do João e dos filhos do Quim.
A mulher do Quim está fora. Diz que é Doutora.
Maria Teresa Bondoso
5 comentários:
Bom dia, Teresa e António!
Como gosto do quadro de Seurat que 'ilustra' o conto da Teresa! Já o trabalhei inúmeras vezes com os meus alunos, na construção de histórias (os professores têm esta mania de levar para as aulas tudo - ou quase tudo- de que gostam!). E demos nomes e vidas a essas 'personagens' que passeiam vagarosamente numa tarde de domingo num espaço cheio de luz e de sombras... quem me dera ter guardado algumas dessas histórias para vos poder 'oferecer' uma hoje!
Teresa, o Senhor Zé e a D. Firmina têm aquela sabedoria dos que não sabem ler, não é? Como a minha avó, que vendia na praça, no Alentejo, as frutas e legumes da sua quinta! Não sabia ler, mas era um Ás na Matemática: tenho a certeza de que nunca foi enganada por um cliente! E ensinou-me a conhecer as plantas - não há erva aromática que eu desconheça,ou que não saiba em que mezinha usar, graças à minha avó (acho que foi isso que lhe valeu uma vida plena de saúde até aos 90 anos!). Ou como a Dona Maria,que me pagava 2 tostões por cada carta que eu lhe escrevia e que ela me ditava a correr - era difícil acompanhá-la, porque eu ainda andava só na Escola Primária - a contar tudo dos vizinhos e das terras e do cultivo das batatas e das couves e da geada que teimava em queimar-lhe as plantações... agora que me lembro disso, acho que deixava algumas informações de fora das cartas que me ditava, mas o mais importante ía sempre lá: o amor pelo filho e netas, emigrados em França, a lutar por uma vida melhor...
Desculpem-me as divagações... o comentário hoje já vai longo, mas ainda tenho uma pergunta para fazer ao António Tapadinhas, a propósito de um pequeno texto que escrevi há poucos dias, após um passeio na praia. É um texto sobre cores, mas não sei de que cor é a areia - acabei por escrever 'a não-sei-que-cor da areia', porque não é branca, nem amarela, decididamente não sei que cor chamar-lhe - como lhe chamaria o António?
Um abraço a ambos!
Sem luz não há cor. Só podemos ver a cor de um objecto quando está iluminado. Cada um tem as suas propriedades que são caracterizadas por diferentes graus de absorção e de reflexão da luz. Se um objeto absorve todas as cores da luz, e reflecte o azul, então dizemos que ele é azul. Mas nós temos um filtro, que é a nossa imaginação. Como todos conhecem cores de areia, deixe para os seus leitores imaginar a cor da areia que lhe escorre dos dedos...
Antes dos impressionistas as sombras eram escuras, cinzentas, sem vida... Eles viram as mesmas cores nas sombras e na luz...
e ganhámos um mundo mais colorido...
A areia tem todas as cores da nossa imaginação...
Um abraço,
António
Caro António,
Eu bem me parecia que era uma boa ideia perguntar-lhe - fiquei um pouquinho mais rica com a sua explicação! Quase só escrevo para mim, portanto não vou alterar a minha cor desta vez e ficará mesmo a 'não-sei-que-cor' da areia! Da próxima vez logo se verá...
Obrigada!
Abraço!
Pois tem. A areia tem todas as cores da nossa imaginação...
Então já que eu fiquei esclarecida e a Teresa concorda com o António, a partir de agora a areia será, sempre que a quiser referir, 'de-todas-as-cores-da-nossa-imaginação'!
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