sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Versículos


Aprendizagem

Os livros e o conhecimento
O saber dos analfabetos
Tudo bom,
Que boa é a emoção da Vida.
Como definir a ignorância?


Luís Santos



10 comentários:

Anónimo disse...


Aprendizagem, Sabedoria, Conhecimento, Ignorância... quatro conceitos muito importantes, sobretudo para pessoas ligadas ao Ensino, como é o nosso caso.

Suponho que dos livros se retire a cultura, que não há muito tempo atrás estava ligada ao cultivar, à terra, num tempo em que poucos sabiam ler e escrever. O que é a cultura actualmente, já é outro assunto e muitos são os autores que tentam defini-la - na minha modesta opinião, cultura é o que nos liga a um espaço e a um grupo de pessoas que, connosco, partilha esse espaço. Contudo, cultura não é sinónimo de sabedoria, essa vem com a experiência e não vem nos manuais, é o saber empírico que se vai adquirindo ao longo da vida - a aprendizagem não se esgota, é feita de avanços e retrocessos, de tentativa e erro e quanto mais se avança mais consciência se tem do pouco que sabemos! 'Só sei que nada sei!', cita Platão...

A Ignorância, para mim, já é do domínio das atitudes e não do saber. Por isso é lícito falar-se da sabedoria dos analfabetos e da ignorância dos cultos. Ignorância é, para mim, o não respeito pelo outro em toda a sua complexidade; é o não aceitar a diferença; é o esmagar os que menos se podem defender; é o não dar voz aos que não conseguem falar; é o não escutar o que os outros têm para dizer; ...

E porque estou ligada ao ensino preocupam-me, sobretudo, as aprendizagens: ensinar a aprender, ensinar a pensar, ensinar a querer ser pessoa, completa! Não é tarefa fácil, mas não acredito em impossíveis...

Foi o que me sugeriu o teu versículo - n sei se andará longe do que pretendes dizer/questionar, mas já sabes a minha opinião: a partir do momento em que o li o teu versículo passou a ser meu...

Hugs!

luis santos disse...


A citação que refere pertence a Sócrates, embora escrita pelo seu discípulo Platão na "Apologia de Sócrates", onde se narram alguns dos "partos feitos pelas esquinas" do Mestre, sempre através de fina ironia... Tal como a sua mãe também ele vivia para dar à luz.

Sócrates não escreveu nada e tudo o que se sabe dele foi escrito pelos discípulos, pelo menos, Platão e Xenofonte.

Quanto ao resto tudo bem. Fiquei convencido que muito mais sabedoria do que conhecimento. E acertou em cheio, é, sobretudo, essa ignorância dos cultos que interrogo, começando desde logo por mim, e a todos os que se sentem tão pobrezinhos cheios de si.

Quando diz que o versículo passou a ser seu, creio que quis dizer que, porventura, passou a integrar em si a aprendizagem que dele fez e, então, abraço.

Anónimo disse...

Obgd pela gentileza do esclarecimento - bem sei que a frase que citei pertence a Sócrates, daí ter escrito 'cita Platão' e não 'diz Platão' - devia ter sido mais explícita, em todo o caso obgd.
Quando refiro que que o versículo passou a pertencer-me ao lê-lo é, naturalmente, pelo motivo que referes, mas que também é válido para qualquer outro texto, que apenas pertence ao escritor no momento em que este alinha as palavras - a partir daí só existirá se alguém o ler e a esse alguém passa a pertencer... é assim que eu concebo a leitura e a literatura!

Unknown disse...

O saber dos analfabetos pode captar-se nos livros e tornar-se conhecimento… ou não.
A aprendizagem é a emoção da vida. Sim (sem ou).
A ignorância… talvez seja apenas o que cada um de nós ainda não sabe…
O que, do saber dos analfabetos, ainda não se captou?

A propósito, nas minhas “andanças” pelo país, conheci um dia um homem analfabeto… o Senhor Zé.
Para ele e para todos os que, analfabetos, me fizeram conhecer, atrevo-me a deixar aqui a minha homenagem:


O senhor Zé não sabe ler.
Só lê os rótulos das sacas da ração, o nome dos medicamentos para os animais, o nome do remédio das batatas… Ele diz que ler não sabe, só sabe ver.
- Ó professora, eu só sei ver o que preciso.

Para o senhor Zé ler é ver.
Para mim também.
É ver antes das palavras.
E as palavras são sempre depois da vida.

O senhor Zé é o marido da D. Firmina.
Mas a D. Firmina não é a mulher do senhor Zé.
É a mãe do Quim, da Bela e do João. E a avó dos filhos do Quim.
Ela diz que ser a mulher do senhor Zé é ser mãe do Quim, da Bela e do João. E avó dos filhos do Quim.
Para o senhor Zé também deve ser assim.
É que o senhor Zé está sempre a assobiar. E o assobio vem sempre depois da vida.

Gosto tanto deles…
Do senhor Zé, da D. Firmina, do Quim, da Bela, do João e dos filhos do Quim.


A mulher do Quim está fora. Diz que é Doutora.

MJC disse...

Ignorância será, talvez, a convicção de que se sabe tudo.

Do restante enunciado do teu versículo direi que tudo bom que não necessariamente tudo bem.

Tudo bom e tudo bem só, talvez, amanhã (como nos diz o amigo Caetano)

AMANHÃ


Amanhã,
será um lindo dia
da mais louca alegria
que se possa imaginar.

Amanhã,
redobrada a força
p’ra cima que não cessa
há-de vingar.

Amanhã,
mais nenhum mistério
acima do ilusório
o astro-rei vai brilhar.

Amanhã,
a luminosidade alheia a qualquer vontade
há-de imperar, há-de imperar.

Amanhã,
mesmo que uns não queiram
será de outros que esperam
ver o dia raiar.

Amanhã,
ódios aplacados, temores abrandados
será pleno, será pleno.

Um abraço.
Manuel João

luis santos disse...


Obrigado por se terem demorado num versículo que talvez não merecesse tanto. Iremos por partes:

Anónimo, continua a parecer-me mais sabedoria que conhecimento. No Sócrates a sabedoria busca a iluminação sem medo, mesmo suspeitando que nunca irá lá chegar.

Teresa, a homenagem é bem vinda e a apreciação do texto está bem sustentada. Faz-me lembrar uma máxima de Agostinho da Silva que dizia que a diferença que existe entre um letrado e um iletrado é que o primeiro fala daquilo que lê e o segundo fala daquilo que sente. Ele, como é sabido, um sábio doutorado em liberdade que quando sentia que intelectualizava demais dizia: "agora vamos olhar". Ler sem ver não tem jeito mesmo.

Manuel João, era dessa ignorância que falava. Chamar a atenção que é preciso sair de si e sentir o outro; servir mais do que servir-se; coisa que muita falta faz à nossa classe política, uns que não sabem e outros que vão por verem ir os outros. Como sabes gosto muito do amanhã, mas gosto mais do hoje. Hoje, por mais difícil que pareça, está a ser um lindo dia e com a mais pura alegria. Seja o contágio efetivo. Bem, vamos salpicá-la também com um pouquinho de tristeza, porque senão não se faz um samba não, e a gente precisa de dançar.

luis santos disse...


...E Abraços, sem dúvida.

MJC disse...

Luminosidade...

Também gosto muito do hoje mas, o amanhã deverá ser muito melhor.Há ainda muito, mas mesmo muito, para fazer.

Esse é um dos maiores aliciantes para que vivamos o hoje assim e não assado, não achas?

Abraço

Manuel João

luis santos disse...


Amanhã muito melhor? Temos muita esperança que sim. Mas aquilo que há a fazer, por cada um, e, decerto, de maneira diferente de cada outro, é para já. Diria o Caetano que "cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é". Esta ideia de se "ser o que se é" demora o seu tempo que varia muito conforme os casos. Muitas vidas, dizem alguns. Muitos Abraços.

luis santos disse...


Um pouco tardiamente descobri um erro na pontuação do versículo que corrigi. Embora não lhe altere o sentido, deixa-o com uma leitura muito mais favorável. Mais Abraços.