Uma Revista que se pretende livre, tendo até a liberdade de o não ser. Livre na divisa, imprevisível na senha. Este "Estudo Geral", também virado à participação local, lembra a fundação do "Estudo Geral" em Portugal, lá longe no ido século XIII, por D. Dinis, "o plantador das naus a haver", como lhe chama Fernando Pessoa em "Mensagem".
Coordenação de Edição: Luís Santos.
Aprendizagem, Sabedoria, Conhecimento, Ignorância... quatro conceitos muito importantes, sobretudo para pessoas ligadas ao Ensino, como é o nosso caso.
Suponho que dos livros se retire a cultura, que não há muito tempo atrás estava ligada ao cultivar, à terra, num tempo em que poucos sabiam ler e escrever. O que é a cultura actualmente, já é outro assunto e muitos são os autores que tentam defini-la - na minha modesta opinião, cultura é o que nos liga a um espaço e a um grupo de pessoas que, connosco, partilha esse espaço. Contudo, cultura não é sinónimo de sabedoria, essa vem com a experiência e não vem nos manuais, é o saber empírico que se vai adquirindo ao longo da vida - a aprendizagem não se esgota, é feita de avanços e retrocessos, de tentativa e erro e quanto mais se avança mais consciência se tem do pouco que sabemos! 'Só sei que nada sei!', cita Platão...
A Ignorância, para mim, já é do domínio das atitudes e não do saber. Por isso é lícito falar-se da sabedoria dos analfabetos e da ignorância dos cultos. Ignorância é, para mim, o não respeito pelo outro em toda a sua complexidade; é o não aceitar a diferença; é o esmagar os que menos se podem defender; é o não dar voz aos que não conseguem falar; é o não escutar o que os outros têm para dizer; ...
E porque estou ligada ao ensino preocupam-me, sobretudo, as aprendizagens: ensinar a aprender, ensinar a pensar, ensinar a querer ser pessoa, completa! Não é tarefa fácil, mas não acredito em impossíveis...
Foi o que me sugeriu o teu versículo - n sei se andará longe do que pretendes dizer/questionar, mas já sabes a minha opinião: a partir do momento em que o li o teu versículo passou a ser meu...
A citação que refere pertence a Sócrates, embora escrita pelo seu discípulo Platão na "Apologia de Sócrates", onde se narram alguns dos "partos feitos pelas esquinas" do Mestre, sempre através de fina ironia... Tal como a sua mãe também ele vivia para dar à luz.
Sócrates não escreveu nada e tudo o que se sabe dele foi escrito pelos discípulos, pelo menos, Platão e Xenofonte.
Quanto ao resto tudo bem. Fiquei convencido que muito mais sabedoria do que conhecimento. E acertou em cheio, é, sobretudo, essa ignorância dos cultos que interrogo, começando desde logo por mim, e a todos os que se sentem tão pobrezinhos cheios de si.
Quando diz que o versículo passou a ser seu, creio que quis dizer que, porventura, passou a integrar em si a aprendizagem que dele fez e, então, abraço.
Obgd pela gentileza do esclarecimento - bem sei que a frase que citei pertence a Sócrates, daí ter escrito 'cita Platão' e não 'diz Platão' - devia ter sido mais explícita, em todo o caso obgd. Quando refiro que que o versículo passou a pertencer-me ao lê-lo é, naturalmente, pelo motivo que referes, mas que também é válido para qualquer outro texto, que apenas pertence ao escritor no momento em que este alinha as palavras - a partir daí só existirá se alguém o ler e a esse alguém passa a pertencer... é assim que eu concebo a leitura e a literatura!
O saber dos analfabetos pode captar-se nos livros e tornar-se conhecimento… ou não. A aprendizagem é a emoção da vida. Sim (sem ou). A ignorância… talvez seja apenas o que cada um de nós ainda não sabe… O que, do saber dos analfabetos, ainda não se captou?
A propósito, nas minhas “andanças” pelo país, conheci um dia um homem analfabeto… o Senhor Zé. Para ele e para todos os que, analfabetos, me fizeram conhecer, atrevo-me a deixar aqui a minha homenagem:
O senhor Zé não sabe ler. Só lê os rótulos das sacas da ração, o nome dos medicamentos para os animais, o nome do remédio das batatas… Ele diz que ler não sabe, só sabe ver. - Ó professora, eu só sei ver o que preciso.
Para o senhor Zé ler é ver. Para mim também. É ver antes das palavras. E as palavras são sempre depois da vida.
O senhor Zé é o marido da D. Firmina. Mas a D. Firmina não é a mulher do senhor Zé. É a mãe do Quim, da Bela e do João. E a avó dos filhos do Quim. Ela diz que ser a mulher do senhor Zé é ser mãe do Quim, da Bela e do João. E avó dos filhos do Quim. Para o senhor Zé também deve ser assim. É que o senhor Zé está sempre a assobiar. E o assobio vem sempre depois da vida.
Gosto tanto deles… Do senhor Zé, da D. Firmina, do Quim, da Bela, do João e dos filhos do Quim.
Obrigado por se terem demorado num versículo que talvez não merecesse tanto. Iremos por partes:
Anónimo, continua a parecer-me mais sabedoria que conhecimento. No Sócrates a sabedoria busca a iluminação sem medo, mesmo suspeitando que nunca irá lá chegar.
Teresa, a homenagem é bem vinda e a apreciação do texto está bem sustentada. Faz-me lembrar uma máxima de Agostinho da Silva que dizia que a diferença que existe entre um letrado e um iletrado é que o primeiro fala daquilo que lê e o segundo fala daquilo que sente. Ele, como é sabido, um sábio doutorado em liberdade que quando sentia que intelectualizava demais dizia: "agora vamos olhar". Ler sem ver não tem jeito mesmo.
Manuel João, era dessa ignorância que falava. Chamar a atenção que é preciso sair de si e sentir o outro; servir mais do que servir-se; coisa que muita falta faz à nossa classe política, uns que não sabem e outros que vão por verem ir os outros. Como sabes gosto muito do amanhã, mas gosto mais do hoje. Hoje, por mais difícil que pareça, está a ser um lindo dia e com a mais pura alegria. Seja o contágio efetivo. Bem, vamos salpicá-la também com um pouquinho de tristeza, porque senão não se faz um samba não, e a gente precisa de dançar.
Amanhã muito melhor? Temos muita esperança que sim. Mas aquilo que há a fazer, por cada um, e, decerto, de maneira diferente de cada outro, é para já. Diria o Caetano que "cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é". Esta ideia de se "ser o que se é" demora o seu tempo que varia muito conforme os casos. Muitas vidas, dizem alguns. Muitos Abraços.
Um pouco tardiamente descobri um erro na pontuação do versículo que corrigi. Embora não lhe altere o sentido, deixa-o com uma leitura muito mais favorável. Mais Abraços.
10 comentários:
Aprendizagem, Sabedoria, Conhecimento, Ignorância... quatro conceitos muito importantes, sobretudo para pessoas ligadas ao Ensino, como é o nosso caso.
Suponho que dos livros se retire a cultura, que não há muito tempo atrás estava ligada ao cultivar, à terra, num tempo em que poucos sabiam ler e escrever. O que é a cultura actualmente, já é outro assunto e muitos são os autores que tentam defini-la - na minha modesta opinião, cultura é o que nos liga a um espaço e a um grupo de pessoas que, connosco, partilha esse espaço. Contudo, cultura não é sinónimo de sabedoria, essa vem com a experiência e não vem nos manuais, é o saber empírico que se vai adquirindo ao longo da vida - a aprendizagem não se esgota, é feita de avanços e retrocessos, de tentativa e erro e quanto mais se avança mais consciência se tem do pouco que sabemos! 'Só sei que nada sei!', cita Platão...
A Ignorância, para mim, já é do domínio das atitudes e não do saber. Por isso é lícito falar-se da sabedoria dos analfabetos e da ignorância dos cultos. Ignorância é, para mim, o não respeito pelo outro em toda a sua complexidade; é o não aceitar a diferença; é o esmagar os que menos se podem defender; é o não dar voz aos que não conseguem falar; é o não escutar o que os outros têm para dizer; ...
E porque estou ligada ao ensino preocupam-me, sobretudo, as aprendizagens: ensinar a aprender, ensinar a pensar, ensinar a querer ser pessoa, completa! Não é tarefa fácil, mas não acredito em impossíveis...
Foi o que me sugeriu o teu versículo - n sei se andará longe do que pretendes dizer/questionar, mas já sabes a minha opinião: a partir do momento em que o li o teu versículo passou a ser meu...
Hugs!
A citação que refere pertence a Sócrates, embora escrita pelo seu discípulo Platão na "Apologia de Sócrates", onde se narram alguns dos "partos feitos pelas esquinas" do Mestre, sempre através de fina ironia... Tal como a sua mãe também ele vivia para dar à luz.
Sócrates não escreveu nada e tudo o que se sabe dele foi escrito pelos discípulos, pelo menos, Platão e Xenofonte.
Quanto ao resto tudo bem. Fiquei convencido que muito mais sabedoria do que conhecimento. E acertou em cheio, é, sobretudo, essa ignorância dos cultos que interrogo, começando desde logo por mim, e a todos os que se sentem tão pobrezinhos cheios de si.
Quando diz que o versículo passou a ser seu, creio que quis dizer que, porventura, passou a integrar em si a aprendizagem que dele fez e, então, abraço.
Obgd pela gentileza do esclarecimento - bem sei que a frase que citei pertence a Sócrates, daí ter escrito 'cita Platão' e não 'diz Platão' - devia ter sido mais explícita, em todo o caso obgd.
Quando refiro que que o versículo passou a pertencer-me ao lê-lo é, naturalmente, pelo motivo que referes, mas que também é válido para qualquer outro texto, que apenas pertence ao escritor no momento em que este alinha as palavras - a partir daí só existirá se alguém o ler e a esse alguém passa a pertencer... é assim que eu concebo a leitura e a literatura!
O saber dos analfabetos pode captar-se nos livros e tornar-se conhecimento… ou não.
A aprendizagem é a emoção da vida. Sim (sem ou).
A ignorância… talvez seja apenas o que cada um de nós ainda não sabe…
O que, do saber dos analfabetos, ainda não se captou?
A propósito, nas minhas “andanças” pelo país, conheci um dia um homem analfabeto… o Senhor Zé.
Para ele e para todos os que, analfabetos, me fizeram conhecer, atrevo-me a deixar aqui a minha homenagem:
O senhor Zé não sabe ler.
Só lê os rótulos das sacas da ração, o nome dos medicamentos para os animais, o nome do remédio das batatas… Ele diz que ler não sabe, só sabe ver.
- Ó professora, eu só sei ver o que preciso.
Para o senhor Zé ler é ver.
Para mim também.
É ver antes das palavras.
E as palavras são sempre depois da vida.
O senhor Zé é o marido da D. Firmina.
Mas a D. Firmina não é a mulher do senhor Zé.
É a mãe do Quim, da Bela e do João. E a avó dos filhos do Quim.
Ela diz que ser a mulher do senhor Zé é ser mãe do Quim, da Bela e do João. E avó dos filhos do Quim.
Para o senhor Zé também deve ser assim.
É que o senhor Zé está sempre a assobiar. E o assobio vem sempre depois da vida.
Gosto tanto deles…
Do senhor Zé, da D. Firmina, do Quim, da Bela, do João e dos filhos do Quim.
A mulher do Quim está fora. Diz que é Doutora.
Ignorância será, talvez, a convicção de que se sabe tudo.
Do restante enunciado do teu versículo direi que tudo bom que não necessariamente tudo bem.
Tudo bom e tudo bem só, talvez, amanhã (como nos diz o amigo Caetano)
AMANHÃ
Amanhã,
será um lindo dia
da mais louca alegria
que se possa imaginar.
Amanhã,
redobrada a força
p’ra cima que não cessa
há-de vingar.
Amanhã,
mais nenhum mistério
acima do ilusório
o astro-rei vai brilhar.
Amanhã,
a luminosidade alheia a qualquer vontade
há-de imperar, há-de imperar.
Amanhã,
mesmo que uns não queiram
será de outros que esperam
ver o dia raiar.
Amanhã,
ódios aplacados, temores abrandados
será pleno, será pleno.
Um abraço.
Manuel João
Obrigado por se terem demorado num versículo que talvez não merecesse tanto. Iremos por partes:
Anónimo, continua a parecer-me mais sabedoria que conhecimento. No Sócrates a sabedoria busca a iluminação sem medo, mesmo suspeitando que nunca irá lá chegar.
Teresa, a homenagem é bem vinda e a apreciação do texto está bem sustentada. Faz-me lembrar uma máxima de Agostinho da Silva que dizia que a diferença que existe entre um letrado e um iletrado é que o primeiro fala daquilo que lê e o segundo fala daquilo que sente. Ele, como é sabido, um sábio doutorado em liberdade que quando sentia que intelectualizava demais dizia: "agora vamos olhar". Ler sem ver não tem jeito mesmo.
Manuel João, era dessa ignorância que falava. Chamar a atenção que é preciso sair de si e sentir o outro; servir mais do que servir-se; coisa que muita falta faz à nossa classe política, uns que não sabem e outros que vão por verem ir os outros. Como sabes gosto muito do amanhã, mas gosto mais do hoje. Hoje, por mais difícil que pareça, está a ser um lindo dia e com a mais pura alegria. Seja o contágio efetivo. Bem, vamos salpicá-la também com um pouquinho de tristeza, porque senão não se faz um samba não, e a gente precisa de dançar.
...E Abraços, sem dúvida.
Luminosidade...
Também gosto muito do hoje mas, o amanhã deverá ser muito melhor.Há ainda muito, mas mesmo muito, para fazer.
Esse é um dos maiores aliciantes para que vivamos o hoje assim e não assado, não achas?
Abraço
Manuel João
Amanhã muito melhor? Temos muita esperança que sim. Mas aquilo que há a fazer, por cada um, e, decerto, de maneira diferente de cada outro, é para já. Diria o Caetano que "cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é". Esta ideia de se "ser o que se é" demora o seu tempo que varia muito conforme os casos. Muitas vidas, dizem alguns. Muitos Abraços.
Um pouco tardiamente descobri um erro na pontuação do versículo que corrigi. Embora não lhe altere o sentido, deixa-o com uma leitura muito mais favorável. Mais Abraços.
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