quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Os caminhos do espírito


Pseudo-Dionísio (O Aeropagita)

Nome porque é designado o autor de "Teologia Mística" (Medievalia, 10, 1996, Edição Fundação Eugénio de Almeida), texto que se calcula tenha sido escrito entre os séculos V-VI. É um discurso sobre a causa inicial de tudo, mas que desde logo nos diz que não há forma de a conhecer, dadas as limitações humanas para uma compreensão absoluta do que nos rodeia, muito embora o nosso desejo de tudo saber. Assim, como as palavras perdem o rigor Pseudo-Dionísio passa a utilizar uma linguagem metafórica e refere-se à divindade mais como treva, do que como luminosidade.

Pseudo-Dionísio é influenciado por Plotino: a experiência mística está para além do sensível e do inteligível (para lá do ver, do sentir, do falar...). Tem de se abandonar o conhecimento que é dado pelos sentidos. Ter a experiência da treva, do silêncio. No fundo, abandonar todas as formulações mentais - toda a Teologia, toda a Filosofia.

Embora situando-se na tradição cristã, em Pseudo-Dionísio chegamos a um conhecimento "não-dual" que tem paralelo nalgumas tradições orientais como, por exemplo, o Taoísmo ou o Budismo.

Com ele o que se busca é a união com a fonte primordial através de um transcender, um abandono de todas as operações sensíveis e inteligíveis, que possibilite uma relação direta com a "Fonte", onde não há espaço para que se represente seja o que for.

Na Teologia Mística para se ser assumido por "Deus" tem de se ficar "vazio", num estado de disponibilidade total. Só é possível conhecer se se suspender a busca do conhecimento. Trata-se de uma forma de conhecimento por assimilação e não através da teologia.

O místico tenta libertar-se de todas as construções do mundo para poder aceder à realidade tal como ela é. Para Pseudo-Dionísio há qualquer coisa que está antes do homem, que está para além dele... A "Causa" é totalmente transcendente, é qualquer coisa a que se pode aceder, mas que não se pode explicar. É uma experiência radicalmente individual e que, simultaneamente, transcende o próprio individual, pois que há uma anulação do próprio indivíduo... A "Causa" está livre de toda a construção humana.

Carlos Rodrigues

Referência Bibliográfica: 
BORGES, Paulo, Seminário de Filosofia da Religião, Fac. de Letras da Universidade de Lisboa, 2011/2012, 2º sem.

2 comentários:

MJC disse...

Acho deliciosas estas sinopses de Carlos Rodrigues.

São formativas, educativas, sintéticas e, a mim, proporcionam sempre prazer e bem estar.

Manuel João

carlos rodrigues disse...


Muito Obrigado no que me toca. É para pessoas como nós que gostam de partilhar conhecimentos e experiências que esta rubrica é feita. Neste caso, espero que as mútuas aprendizagens engrandeçam o sentido da viagem, se atentos ao desfrute deste terno processo de assimilação que também faz parte, pois claro. Abraço.