terça-feira, 22 de janeiro de 2013

FRESCOS


Vagabundo. O tapete transmontano, gaitas de foles flutuantes, os vales profundos cavados pelo rio. A companheira fiel e o céu e o ar não conta, enquanto o vento se escapa através de milhares e milhares de flores trementes e que poderemos erguer novamente.

9 comentários:

Amélia Oliveira disse...

Bom dia!
Hoje fiquei cá com uma vontade de viajar depois de ler o 'frescos'... acho que foi pela forma como começas: 'Vagabundo'... gosto muito de 'partir', tanto pela descoberta do ir, como pelo prazer do voltar! No entanto, com orçamentos tão apertados como temos agora, só podemos mesmo 'Vagabundear' - o que já é qualquer coisa!

MJC disse...

Viva Luís.

Revela-se o induzido de uma riqueza muito maior que o explícito, por conceder uma muito maior liberdade de percepção.

Assim, torna-se tela que as palavras emolduram,e a sinfonia que do quadro exala, por cada um escolhida, define o ritmo do vagabundear interior imprescindível a quem procura, na evasão, emergir do deserto e da barbárie que a corja nos tenta impôr como desígnio nacional para resgatar a honra.

Gosto muito.

Um abraço.

Manuel João

Luís F. de A. Gomes disse...

Olá, Amélia
Como é natural, o tempo – três décadas e alguns apóstrofos – apagou-me da memória a maior das circunstâncias em que escrevi estes poemas que posteriormente vim a agrupar sob a designação de “Frescos” – pessoalmente, gosto de os ver desse modo – o que não é caso particular deste, pois ainda guardo no peito todo o contexto em que o escrevi e até o sítio em que o fiz, viagem em que saí sem destino – curiosamente, em boleia aproveitada a um casal que ia em lua-de-mel – e que me proporcionou o inesperado de me cruzar com sítios e rostos que estavam muito para lá da minha imaginação quando a iniciei. Vem isto a propósito do gosto de que fala em partir e descobrir, pois ainda hoje não saberei dizer se esses actos de vadiagem – como esta, vim a fazer muitas outras – foram uma procura do(s) outro(s), tanto ao nível dos lugares como ao das pessoas, ou antes, partidas em que me lancei em busca de mim, como o sugere o Manuel João no comentário seguinte. A verdade é que sempre tive para mim que muito cresci com tais deambulações e, por isso, igualmente as entendi como uma das principais fontes da(s) minha(s) aprendizagem(ns)m – é mesmo um lugar comum dizer que aprendemos muito com as viagens, pois tal não tem que ser necessariamente verdadeiro – dos saberes, propriamente ditos, sobretudo da Vida e, em conformidade, boa quota lhes pertencem para que eu agora seja o homem que sou. Só para destacar um aspecto, foi dessa forma que eu vim a descobrir que, acima de tudo, o meu território se resume aos meus sapatos e por isso também eu sempre gostei de partir, sem que alguma vez me tenha importado com o regresso, pois no meu íntimo sinto que – e isto apesar de ter vida sedentária, como é bom de ver – não pertenço a lugar algum mas antes a todos aqueles em que possa estar, incluindo aqueles que, por este ou aquele motivo, no limite, cheguei a repugnar. Quando era miúdo, por motivos que não importa aqui explicar, tinha sonhos de andarilho e, para minha harmonia, é farta a satisfação por saber que em boa parte os tenho vindo a concretizar ao longo deste meu suave e limitadíssimo deambular pelas venturas desta prodigiosa casinha comum em que todos vivemos.

(continua)

Luís F. de A. Gomes disse...

Mas deixe que lhe diga uma coisa e peço-lhe que não me leve a mal por o fazer. Tem a ver com os orçamentos e isso apesar de concordar sobre as limitações que a eles impuseram aqueles que, afinal, mais não são que inimigos declarados da dignidade do Homem e que naturalmente nos podem remeter para dentro o que, no caso, significará para o(s) sítio(s) onde estamos. É que muitas vezes as pessoas se assustam com as dificuldades, mormente as financeiras, que, genericamente, as viagens nos podem colocar e eu posso garantir-lhe que também não serão poucas as vezes em que estamos perante receios, não direi sem fundamento o que seria um disparate de todo o tamanho, mas sem algum fundamento, pois ele há muitas formas que manifestamente estão ao alcance da(s) pessoa(s) comuns; basta que dispúnhamos do tempo – esse sim, incontornável – e da boa vontade para o levar a efeito. Jamais falaria em público – quer dizer, num espaço público, aberto à atenção de qualquer um, como este – pois teria que falar de assuntos privados, mas tenho aprendido que não é assim tão caro e difícil efectuar algumas – não todas e qualquer uma, como é evidente – viagens.

Seja como for, a Amélia leu bem e fico contente – honestamente, têm-me feito olhar para este “Frescos” como nunca antes o tinha feito – com o que escreveu no início do seu comentário, pois, na verdade, este foi um fresco directamente saído da minha natureza de vádio.

Ora é por causa disso que eu não resisto a pedir-lhe então que leia o “Faces”, o meu livrinho de viagens – fruto das vivências de algumas das que vim a fazer na década seguinte – e que do mesmo me transmita as impressões que aquelas páginas lhe causem. Para tanto, basta clicar na etiqueta homónima, ir ao princípio das postagens e vir por aí até à despedida. É indubitavelmente uma alegria o retorno do Leitor. Não me considere egoísta por o pedir.

Haja paz para si, é o meu maior desejo.
Luís

Luís F. de A. Gomes disse...

Viva, Manuel João

É como eu referi no comentário anterior; na verdade, as deambulações daquela idade - os vinte anos de quando escrevinhei estes poemas - muito provavelmente acabaram por ser mais um "(...) vagabundear interior (...)" (sic) -bonita expressão - que uma deslocação pela geografia exterior. E dessa busca resultou precisamente isso a que, por outras palavras, aludes, a da descoberta da irmandade no rosto do outro, o mesmo é dizer, para os tempos que correm, o Norte de saber que é do lado da dignidade dos homens que nos devemos colocar - se há lugar a que possamos pertencer é esse - tendo por certo que aqueles que actualmente a aviltam, serão os bárbaros de amanhã e este mundo que teima em querer ver os seres humanos como simples mercadorias, será a idade das trevas desse amanhã.

E lá vamos ter os zelotas desta ordem a dizerem que somos sonhadores que nos limitamos a gostar de debitar frase grandiloquentes.

Aquele abraço, companheiro
Luís

Amélia Oliveira disse...

Bom dia, Luís!
Já tnha dado uma vista de olhos a algumas passagens do 'Faces', mas como o tempo não estica não o li na íntegra. Terei o maior prazer em ler o teu 'livrinho de viagens', como lhe chamas (aproveitarei para viajar também!)e dizer-te até onde me levou - fá-lo-ei numa das próximas 3ªas feiras, em dia de 'Frescos'!
Também concordo contigo: para quem escreve, o retorno do leitor deve ser importante - mesmo que, tão frequentemente, sejamos capazes de fazer leituras nada coincidentes com o que o escritor quis transmitir! Mas é aí que reside a magia da leitura, não achas?

Luís F. de A. Gomes disse...

Olá, Amélia

E não só a magia como igualmente a grandeza, pois um texto será tanto mais rico quanto consiga fazer com que isso aconteça - pelo menos, é isso que eu penso.

Bem, de resto espero que possa também viajar com essas páginas e não tem que esperar pelo "Frescos", pode deixar as suas impressões, as suas ideias, ou o que lhe aprouver na(s) caixinha(s) de comentários do "Faces". E deixe que lhe diga que serei quem terá todo o prazer que o faça.

Luís

Amélia Oliveira disse...

Luís,
Deixei um comentário no 'Aeroportos' - trouxeste-me boas memórias, hoje! Memórias de Verão... Obrigada!

Luís F. de A. Gomes disse...

Vi e respondi.